A VERTICALIDADE NO LIGHT JIGGING

Fazemos tudo por pescar na vertical!
Quer na modalidade speed jigging quer em slow jigging, o conceito de pesca exige e ganha bastante se respeitarmos a questão da verticalidade.
As razões são várias e todas perfeitamente entendíveis. Mas nem todas as pessoas cuidam de efectivamente pescar “a prumo”. Nem percebem o porquê.
Não entendem esta obsessão por pescar verticalmente, porque isso para eles nem sequer é um problema.
À menor contrariedade, um pouco mais de vento, uma corrente mais forte, lançam mão da bomba atómica, leia-se de jigs de pesos muito elevados.
Aquilo que fazem para garantir que o seu jig está bem por baixo do barco, é colocar carga máxima. E perdem muito peixe por isso, não sentem toques, os peixes não atacam os seus jigs.
Vamos hoje esmiuçar detalhes sobre um tema que, não sendo algo muito evidente, (haverá muita gente que nem lhe atribui demasiada importância), pode ainda assim dar-nos ou tirar-nos muito peixe ao fim de um dia de pesca.


Se a solução é um jig de 250 gramas, um “calhau” pesado, ele irá descer vertical e não se fala mais no assunto. Pesca é pouco. Quando pescamos com jigs leves, pesca-se muito mais, mas temos de atender a diversas condicionantes. Na verdade, os equilíbrios são ténues e…tudo conta.


E começamos pela questão do próprio barco, o qual pode ser mais ou menos alto, oferecer mais ou menos resistência à passagem do vento.
Embarcações muito altas, com superfícies duras, por exemplo uma cabine, são velas enfunadas ao vento, e prejudicam muito mais que aquilo que nos ajudam.
É francamente difícil fazer jigging de qualidade quando o ponto de partida é um barco sem as características ideias para a função.
Para que tenham uma ideia, é a diferença entre sermos capazes de passar lentamente por um pesqueiro, e fazê-lo de forma conveniente, pausada, a explorar as possibilidades que este possa ter em termos de peixe, ou sermos empurrados rapidamente, sem tempo para fazer mais que um ou dois lances.
Sabemos que muitas das pedras que existem na costa são relativamente pequenas. De tal forma pequenas que chegam a parecer insignificantes para quem pretende lançar algumas centenas, (ou quilómetros!) de rede sobre elas.
Que sentido faz cercar com uma rede de 1 km de comprimento uma pedra de 30 metros?!
Mas a nós, 30 metros de pedra já nos podem dar dois ou três peixes. E a seguir, outra pedra dessa dimensão nas proximidades terá mais alguns.
Aquilo que fazemos não é mais que “catar” peixes em zonas onde os profissionais acham que não vale a pena lançar. E digo-vos que os sítios bons não são muitos, e daí a necessidade de serem preservados, e geridos.
Por isso mesmo, devemos estar equipados de forma a poder tirar partido do potencial de uma zona de pesca, e a deriva do barco é bastante importante!
Uma embarcação baixa, estável, com o vento a passar por cima, vale ouro.


Em dias muito difíceis, cada peixe tem de ser merecido. Lutar por eles significa estar atento a cada detalhe…e só assim conseguimos um ou outro peixe para o jantar.


Por vezes, com vento demasiado forte, (e temo-lo no nosso país sobretudo nos meses de Verão, em que a terra / pedra aquece bastante por força do calor do sol, provocando correntes de ar ascendente, e consequentemente grandes deslocações de ar frio a ocupar esses espaços vazios, logo…ventos), somos muitas vezes confrontados com a questão da velocidade a que o barco se desloca.
Para pararmos, ou melhor dizendo, para abrandarmos o nosso barco (não fazemos jigging fundeados, ou parados no mesmo sítio…mas sim à rola, a avançar na pedra), podemos ter de travar a embarcação. Uma das formas mais correntes é a aplicação de um para-quedas de superfície, ou âncora de superfície. Não é nada estranho, mas há muita gente que não conhece, ou, conhecendo, não sabe como tirar partido desse acessório.
Porque o utilizo com muita frequência, e sei da sua importância, achei por bem fazer um pequeno filme, para que possam ver o efeito que provoca ao ser lançado à água.
De notar que fiz o filme a pescar sozinho, pelo que uma das mãos filmou, a outra trabalhou o artefacto. Daí a pouca qualidade do filme em si, mas que é suficientemente elucidativo para que entendam como funciona este travão de superfície.

Clique na imagem para visualizar e na rodinha das definições para melhorar a qualidade.




Mas não é o vento o único óbice a uma pesca calma e produtiva. Também as correntes podem dificultar bastante a nossa pesca.
Ajuda conseguirmos controlar a velocidade de passagem sobre a pedra, desde logo porque a uma passagem mais pausada corresponde a possibilidade de trabalharmos com jigs mais curtos e largos, (slow jigging), provocando peixes que, embora cheios de comida, não desdenham uma presa próxima e …lenta.
Nesse sentido, seremos sempre melhor sucedidos em dias em que o coeficiente de maré seja mais baixo, luas pequenas, com uma deriva mais retardada.
De qualquer forma, continuamos a ter muitas outras opções para atingirmos o nosso fim: pescar vertical.


Carlos Campos em acção, desta vez com um robalo. Um grande amigo, um inseparável companheiro de pesca!


Já temos uma cana ligeira, com uma acção adequada para o peso de jigs ligeiros que queremos trabalhar. E temos também um carreto de jigging, leve mas robusto, que nos permite enfrentar peixes com algum peso. Mas ainda há uns quantos detalhes a observar. Um deles é a linha que temos no carreto.
É certo e sabido que linhas grossas atrasam a descida do jig, e podem mesmo inviabilizar a nossa pesca.
Esta frase anterior serve a todos aqueles que acham que podem pescar com a mesma linha que utilizam para as corvinas, e para as douradas, e para tudo.
Zero possibilidades de ter uma linha que sirva para tudo!
Para os peixes que temos em perspectiva, e falamos sobretudo de pargos, robalos, bicas, sargos, douradas, uma linha PE 1 chega e sobra.
Já chegaria bem caso a opção fosse um PE 0.8, e digo-vos que eu pesco muitas vezes com linha PE 0.6, (resistência média de 5 kgs…logo mais que suficiente) sobretudo quando estou perante dias de vento acima dos 12 a 13 nós. Nesses casos, pretendo uma linha que afunde o mais rápido possível, mesmo que a minha decisão vá no sentido de utilizar jigs muito leves.
Essas linhas deverão ter muito boa qualidade, sob pena de nos darem desgostos sucessivos. Não queremos roturas quando temos um bom peixe na ponta da amostra.
Quanto mais tendemos para diâmetros reduzidos, maior o cuidado que devemos ter em adquirir linhas de qualidade extra. Porque queremos sentir-nos suficientemente protegidos, a linha tem de ser de qualidade.
Não obstante o foco ser de facto a pesca vertical, e por isso necessitarmos de linhas muito finas, ainda assim há que ser sensato. A qualquer momento pode chegar-nos um peixe de excepção, e não convém estar demasiado exposto.
Como diriam os nossos velhos marinheiros, gente de grande sabedoria: “nem muito ao mar nem muito à terra”….
Parece-me que um PE1 é um bom compromisso entre segurança e facilidade de pesca. Para aqueles que possam ter mais receio, …ok, vá lá, …um PE 1,2, sendo que já estamos a perder algo.
Não me parece que seja necessária uma linha com uma carga limite de resistência de 9 kgs, para o tipo de peixes que normalmente temos disponíveis. Não esquecer que temos ainda o drag do carreto, em caso de…”aflição”….




Porque o equipamento deverá estar em consonância e equilíbrio absolutos, devemos ter em atenção também o baixo de linha.
Fazer um leader demasiado grosso não faz sentido. Aqueles dois metros de linha, embora curtos, também são importantes, e não apenas porque sendo mais grossos fazem mais resistência à descida.
É que os peixes estão atentos, e conseguem sentir as pequenas vibrações emitidas à passagem da linha.
Tenho um amigo em Valência, o sobejamente conhecido António Pradillo, que me garante ser capaz de notar diferenças de comportamento dos peixes quando utiliza leaders de 0.20 para 0.25mm.
Não cheguei a essa perfeição, mas noto que há uma diferença significativa entre a aplicação de um 0.40m e um 0.33mm. Os toques dos peixes que pesco quotidianamente, pargos e robalos, reduzem enormemente a partir do 0.35mm.
Cuidado pois com o diâmetro da linha! Em zonas onde o peixe não está pescado fará menos diferença, mas onde ele já foi apoquentado anteriormente, e onde pode até já ter mordido um jig, a questão da linha não é acessória, é mesmo importante. E entre nylon e fluorocarbono, qual delas escolher?!
Porque funcionam como elemento que garante invisibilidade junto à zona de ataque do peixe, o nosso jig, e porque devem ser capazes de resistir à abrasão, devemos optar por um fluorocarbono de boa qualidade. A Varivas tem material que junta em si diversas características interessantes, a preços simpáticos.
Eu utilizo linha entre 0.31 e 0.33mm, e sinto-me descansado. Estes diâmetros são um bom complemento para o multifilamento que aplicámos no carreto, e por 10.60€ já podemos ter uma excelente linha para fazermos as nossas baixadas:




E chegamos ao fim da linha, que é como quem diz, ao que irá ser mordido, ou engolido, pelo peixe.
Se estamos a pescar numa zona conhecida, se sabemos o tipo de peixe que nos poderá surgir, a opção deverá recair em fazer um nó palomar directamente à argola do jig.
Disse-me pessoalmente o sr Hiroito Sato, uma sumidade do slow jigging ou não fosse o seu percursor, numa conversa tida em Osaka, o seguinte:
“Vitor, quanto mais peças metálicas aplicamos na nossa montagem, menos peixe pescamos”…
E sim, claro que tem toda a razão. As montagens querem-se simples, e quanto mais directas, melhor. As concessões que fazemos, prendem-se com razões de flexibilidade do sistema, e falo das argolas, ou dos clips onde iremos montar o nosso jig.
Assumindo que seriam dispensáveis, e que preferencialmente não as deveríamos utilizar, ainda assim são muito práticas quando queremos mudar de jig com frequência.
Vejamos: se estamos num local desconhecido, em que podemos ter de adaptar o jig a profundidades irregulares, ou a um tipo de peixe que afinal anda por ali, então o clip é muito útil. Abre, mete jig, fecha e pesca.
Fazer um novo nó leva mais tempo, vamos ter de cortar a linha excedente para não ficarmos com alguns centímetros de linha fluoro pendurada, etc.
Existem clips cuja resistência está acima de qualquer suspeita, e se algum problema podem ter prende-se com excesso de resistência e não o contrário.
Estes, com um preço a rondar os 2 euros cada 10 unidades, os SP Snaps da Smith são mesmo muito bons, nunca tive um único caso de abertura da peça por pressão de qualquer peixe, e por isso os utilizo:




Os equipamentos que colocamos nos jigs contam! Tudo o que adicionamos, para além da própria configuração do jig, irá servir de travão à rápida deslocação da peça até ao fundo.
Cada “penduricalho” a mais será mais uma unidade a prejudicar a descida, a travar. Mas até pode haver interesse nisso!
Vamos continuar a falar sobre este tema porque há muito a dizer.



Vítor Ganchinho



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