FOTOS DE PEIXES - SABEMOS FAZER?...

É bom que tenhamos consciência da eternidade de um instante.
A captura de um peixe especial é algo que pode marcar-nos e nesse caso, é importante ficar com uma recordação desse momento.
Muitos de nós utilizam o seu telefone portátil para fazer fotos das suas pescarias, ou de um momento raro, um troféu de pesca inabitual.
A decisão de fazermos uma foto com um telemóvel ao baixo ou ao alto, horizontal ou vertical, é sempre nossa. Parece-nos até um acto banal, sem consequências de maior, mas não é bem assim.
Quando escolhemos a posição vertical, nunca saberemos se estamos de facto a ganhar mais céu ou a perder paisagem.



Podemos tecer aqui considerações sobre o tema porque ele interessa a todos.
Se o objectivo é apresentar um peixe no seu melhor, (e não me refiro apenas a avançar com a foto com o peixe ainda vivo, na posse de todas as suas faculdades estéticas), então vale a pena saber algo mais.
Impõe-se um ponto prévio à mesa de trabalhos: seguramos sempre o nosso telefone na mão numa posição vertical. Mas a maior parte dos motivos que fotografamos são horizontais. O mar é uma paisagem horizontal e nunca vertical.
Invariavelmente iremos vê-lo com os nossos olhos tendo o corpo na vertical, estamos de pé, mas a imagem que nos chega é de uma grande faixa horizontal, um infinito sem margens laterais. Mas que, ao fotografarmos numa perspectiva vertical, passa a ganhar limites.
Estamos a utilizar um objecto tecnológico criado para falar, e fazemo-lo sempre na vertical, mas que agora nos permite também fotografar os nossos peixes. As fotos que fazíamos com máquinas fotográficas, em posição horizontal, cederam passagem à verticalidade de um aparelho de bolso, que é mais fácil de usar se o segurarmos nesta nova posição. Intuitivamente, fotografamos na vertical. E isso muda tudo!
No entanto, se queremos enviar para alguém um filme, é natural que essa pessoa o queira partilhar com outras pessoas no ecrã de um computador. Ou que o queira colocar no Youtube. E aí, o formato vertical não funciona, aparece-nos uma estreita imagem, ladeada de duas faixas pretas.
Por outro lado, mais recentemente, as redes sociais Tik-Tok e Instagram, apelam a uma utilização vertical. O que vem dificultar o processo de escolha de imagem.
Temos pois que as paisagens, imagens na horizontal, e os retratos, imagens de pessoas na vertical, implicam tratamentos diferentes ao nível do enquadramento. E isso complica muito as coisas. Como decidir?!


Peixe e pessoa. Até ver, não abdicamos de nada, PARECE ESTAR TUDO, mas na verdade perdemos todo o enquadramento do espaço lateral. A imagem está centrada no peixe, e o olho deste atrai a nossa atenção. O autor aparece aqui em segundo plano, meio desfocado. Primazia ao peixe!


O drama é sempre o mesmo: queremos uma boa foto do peixe, mas exigimos que se saiba que fomos nós que o pescámos. E então já temos de incluir o peixe e a pessoa.
Pode até ser possível fazer uma “selfie”, em que cabem os dois. Mas a seguir, queremos registar também algo do ambiente que nos rodeia, e aí já não há espaço para uma foto na vertical. E tudo se complica.
Nós europeus lemos as páginas de um livro da esquerda para a direita. E quando acabamos essa linha, continuamos abaixo, novamente da esquerda para a direita. É o nosso estilo, é assim que aprendemos.
Também com as imagens, a leitura é feita da esquerda para a direita. Por esse motivo, para que nos sintamos mais confortáveis, devemos deixar o principal motivo da foto do lado direito. Se o colocamos do lado esquerdo, leia-se ao início da foto, estamos a “defraudar” as expectativas de quem vai ver a foto e a quer entender. O motivo, o ponto forte da fotografia, sendo colocado à esquerda, como que “engana” o leitor dessa imagem. Não nos vou falar aqui de “profundidade de campo” nem de “pontos de força de uma foto”, para não complicar ainda mais. A ideia é que meditem sobre a possibilidade de fazerem boas fotos quando tiverem um bom peixe na mão.
As paisagens de mar, por exemplo, são motivos que nos levam a ler a foto na horizontal, percorrendo com o olhar toda a sua extensão, da esquerda para a direita. Trata-se de uma imagem que se torna contemplativa, por si.
Já a foto de um peixe, tomada ao alto, é algo muito mais directo, mais instantâneo. Comprimimos a imagem ao seu mínimo, e por isso não temos de inventar nada mais que o peixe e o pescador.


Aqui, temos um caso oposto: o peixe é algo secundário, e aquilo que é realçado é a pessoa, que é colocada à esquerda. Primazia à pessoa, a simpática Fátima Rodrigues!... Há algo de errado nesta foto e tem a ver com a nossa capacidade de leitura… a tal questão da esquerda ou direita, recordam-se?...


O exercício mental que temos de fazer vai no sentido de darmos uso a um aparelho que todos temos, hoje em dia. O telemóvel democratizou a fotografia, e todos podemos fazer tudo. Podemos mostrar aos outros o mundo visto pelos nossos olhos.
E porque todos nós somos bombardeados por centenas ou milhares de fotos todos os dias, a imagem tornou-se um producto de consumo, “um fast-food” descartável. Somos obrigados a ver num segundo e a descartar.
Por isso mesmo, as imagens verticais, mais rápidas de ver, mais curtas, com menos paisagem, são hoje as favoritas. A tecnologia adaptou-se ao que queremos ver.
Enquanto no tempo dos Kodak (com rolo a revelar posteriormente), a imagem era sobretudo horizontal, hoje é precisamente o contrário. Já nem queremos rodar o telemóvel para vermos uma imagem ou um vídeo na horizontal, queremos “despachar” o assunto conforme nos chega.
Por outras palavras, os pescadores mais velhos fotografam na horizontal, e os mais novos fotografam na vertical.
E isso está a mudar a forma como registamos os nossos melhores momentos de pesca. Hoje já não é uma panorâmica, é um retrato. Obviamente vertical.


Esta foto, feita na vertical seria estranha, para não dizer não entendível. Percebemo-la como uma paisagem, e não como um retrato.


Já estamos a perder algo. Ao optarmos por um motivo vertical, já abdicámos da possibilidade de poder gastar mais tempo a observar uma foto. Cortámos horizonte.
Porque somos muitos a fazer o mesmo, podemos considerar que foi criada uma onda, um fluxo fotográfico do qual é difícil escapar. Os nossos jovens não terão a oportunidade de escolher, para eles a realidade vai aparecer-lhes sob a forma de uma imagem vertical. Cada vez mais vertical.
Assimilam a tecnologia e o seu poder de transformar o mundo, e nem se dão conta de que estão a perder parte desse mundo.
Eles andam com o telemóvel no bolso de trás das calças, e quando pegam nele, não querem ter de o rodar na mão. E isso vai mudar a orientação das fotos, inclusive de pesca e de peixes. Um dia isso poderá ser invertido, numa lógica de inovação, mas neste momento é assim.




Aquilo que é natural é que as pessoas sigam o seu instinto natural, o de verem imagens que se enquadram no plano dos seus dois olhos, os quais estão dispostos lado a lado, na horizontal, e não o contrário.
Podemos perder muito por colocarmos “palas laterais” nos nossos olhos, mas não perdemos grande coisa por não termos mais e mais céu.
Será uma questão de tempo até voltarmos aos primórdios da fotografia, horizontal já se vê, pois ela atendeu a princípios básicos, de ordem natural. Porque somos humanos...



Vítor Ganchinho



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5 Comentários

  1. Boa tarde Vitor
    Como sempre nos habituou, mas um artigo top.
    Agora depois de ler e entender todos esses aspetos importantes, só me falta uma coisa.... Um peixe especial na linha 😁😁
    Abraço
    Toze

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    1. Oi Tozé Se quiser ver um peixe verdadeiramente de excepção, apareça no sábado à tarde, das 16.00 às 18.00h ( provavelmente até às 19...?) na loja GO Fishing em Almada.
      Vai ser apresentada uma bomba!
      Esse sim, um peixe de excepção, a merecer umas fotos de estalo. E que foram feitas!

      Abraço
      Vitor

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  2. Boa tarde Vitor

    Muito obrigado, já tinha visto que ia haver uma atividade hoje na gofishing, mas é o dia de anos da minha mulher. É impossível ir

    Abraço
    Toze

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    1. Grande Tozé!


      Os anos da mulher são mais importantes que qualquer peixe deste mundo!
      Nunca esqueça que são elas que....nos deixam ir.

      Espero que tenha tido a oportunidade para lhe oferecer um conjunto de colar e pulseiras da Cartier, com diamantes incrustados, no valor de uma saqueta de anzóis.


      Abraço
      Vitor


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  3. 😂😂😂

    Verdade, são elas que nos deixam ir ao mar.
    A prenda foi mais ou menos isso, mas anzóis bons, como na pesca não é por causa do anzol (poupar) que colocamos tudo a perder 😜
    Abraço
    Toze

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