CHOCOS - FALAMOS SOBRE CORES DE TONEIRAS? CAP I

Longe vão os tempos das aiolas de madeira, pequenos barcos a remos típicos de Setúbal, das linhas de mão, das piteiras feitas com chumbo derretido e alfinetes revirados.
Durante muitas dezenas de anos, marítimos vestidos com grossas e quentes camisas de quadrados, conseguiram encontrar na pesca ao choco e ao polvo dentro do Sado um complemento para a sua minguada reforma.
Continuamos a vê-los, mas cada vez menos. Aquilo que conseguem fazer em chocos já não justifica o empenho, mesmo para quem tem disponível todo o tempo do mundo.
Vão vê-los às portas das tabernas, a jogar cartas, a remoer memórias passadas, à espera do seu dia. A vida do mar, das redes, do frio, das noites mal dormidas, apenas permite sobreviver e eles já não têm forma de melhorar nada, nem sequer a saúde, porque os medicamentos, para eles, são caros.
Tudo mudou. É olhar para o rio e ver a diferença: por cada aiola a pescar, encontramos três dezenas de embarcações de recreio, e certamente uns quantos kayakes a disputar aquilo que o rio ainda dá.
Os tempos mudaram mesmo. Para trás ficaram os tempos de facilidades, da pesca em abundância, das toneladas e toneladas de chocos disponíveis.
Se hoje os meios são infinitamente mais sofisticados, barcos a motor, canas, carretos, carros para transportar o pescado, material de pesca, e o esforço físico despendido é infinitamente menor, falta todavia o principal: os chocos….




A indústria da pesca ao chôco movimenta hoje um horror de embarcações, e isso acontece por toda a costa no nosso país, sendo no entanto o rio Sado o local onde a tradição deste tipo de pesca é mais vincada. Não há dia nenhum do ano em que não se pesquem chocos em Setúbal. Dia de Natal incluído...
Diariamente, dezenas de barcos e centenas de pessoas saem ao rio para tentar a sua sorte, interessadas em explorar a riqueza que (embora já residual ) ainda assim existe e resiste no estuário.
Haverá chocos para todos? Nem tanto, embora a pesca deste cefalópode seja tão fácil que raramente o entusiasta das toneiras vem de lá desiludido, de mãos a abanar.
Aquilo que é normal é que se consigam pelo menos meia dúzia deles, o que serve na perfeição a quem só necessita de um pouco de estimulo para continuar a pescar fervorosamente.
E no dia em que os chocos forem apenas uma miragem, acredito que muita gente vai continuar a procurá-los com as suas toneiras. Também os católicos continuam, dois mil anos depois, a acreditar religiosamente num Cristo que nunca viram, mas que alguém lhes disse que sim, que seria a sua salvação.
Os chocos de Setúbal ainda não chegaram a esse ponto, ainda se deixam ver, embora o número de efectivos esteja a ser cortado a vigorosos golpes de faca, todos os dias.
Tenho amigos que nem querem ouvir falar de pescar robalos ou pargos. Toda a sua atenção vai para estes cefalópodes, os quais permitem uma pesca de proximidade, costeira, económica, e com resultados que não deixam de tapar o fundo do balde.


Quando pensamos no rio Sado, pensamos em chocos.


O sucesso de uma pescaria de chocos mede-se hoje pelo número de exemplares pescados, não pelo peso obtido. Se o tamanho dos chocos é cada vez mais curto, porque não têm tempo para crescer, que se faça um número suficiente para justificar a saída. E se isso acontecer, no dia seguinte essas pessoas voltarão, para acabar com os que restam.
Pode parecer igual fazer dez chocos a pesar dez quilos, ou fazer cinquenta chocos a pesar dez quilos, mas de facto não é, há todo um mundo de diferença entre as duas opções...
É muito provável que dentro de alguns anos não tenhamos chocos para pescar.
Os meios são cada vez mais sofisticados, os equipamentos estão hoje bem longe do H de madeira onde uma velha linha era enrolada e servia para toda uma temporada.
Hoje, as canas específicas para a função abundam no mercado, e quando chegamos às toneiras, os ditos “palhacinhos”, então aí a revolução é enorme.
Esqueçam as chumbadas cobertas com linhas brancas e vermelhas, os alfinetes torcidos, etc. Hoje pesca-se com material que é produzido de forma a atender a inúmeros dados científicos, e os chocos são cada vez mais encurralados a um canto, sem escapatória possível.
Vou nos próximos números dar-vos conta da evolução drástica que este tipo de pesca sofreu em termos técnicos, sobretudo ao nível dos materiais.


No fim, haverá sempre meia dúzia de chocos para colocar sobre as brasas. Com ou sem tinta...


Não sei se têm a ideia de que a utilização do choco vai muito para além do aspecto da alimentação. Os chocos são aproveitados pela indústria farmacêutica, e inclusive a sua concha interior é incorporada na produção de osso artificial para próteses. Para aqueles que não sabem, a espécie é, ou está em vias de ser produzida em aquacultura.
Espero eu que ainda seja possível pescar chocos selvagens durante alguns anos, mas não deixa de ser uma opção.
Triste, mas uma opção.




De forma a conseguirmos estruturar as explicações que se seguem, vamos ver algumas das variantes que temos em mãos:

  • O tipo, tamanho e cor da toneira
  • A velocidade de queda da toneira/ versus peso e flutuabilidade
  • Ter ou não ter “rattling”, as pequenas esferas interiores que emitem ruído
  • A profundidade a que se pesca
  • A técnica de pesca
  • O momento do dia e a quantidade de luz solar
  • A visibilidade das águas
  • A época do ano em que se pesca
  • A pressão de pesca exercida na zona
  • A importância da tradição neste tipo de pesca

Muitas outras poderiam ser analisadas, mas estas serão a base de todas as tomadas de decisão que fazemos quando decidimos sair aos chocos.
É isso que vamos ver já a partir do próximo número aqui no blog.



Vítor Ganchinho



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4 Comentários

  1. Boa noite, é uma pesca que adoro pela sua acessibilidade conjugada com o maravilhoso sabor do pescado! Aguardo ansiosamente as futuras publicação sobre o tema!

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    1. Cumprimentos e continuação

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    2. Duarte, vamos ter muita informação nas próximas duas semanas!

      Deixo trabalho feito, e sei que o Hugo vai estar muito atento a algumas curiosidades que vamos encontrar em Osaka.
      Vão ser publicadas aqui, com regularidade diária.

      Vale a pena estar atento...



      Vitor

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  2. Irei estar atento até porque vou estar por Setúbal para a semana e poderei começar a por em prática! Comprei na GoFishing dois palhaços Dartmax que ainda não tive oportunidade de experimentar.

    Haverá informação sobre a pesca durante a noite? Uma vez que não posso navegar dados o sol se pôr (altura em que mais tempo tenho devido ao trabalho), irei fazer eging da costa mas não tenho a certeza de como devo adaptar as técnicas que uso durante o dia a um cenário noturno…

    Obrigado e cumprimentos,

    Duarte

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