Os chocos são um animal tão interessante que não espanta ser objecto de estudo permanente por gente interessada em saber mais e mais sobre eles.
O resultado desses ensaios acaba por ser passado a quem necessita e até aceita pagar por esses dados científicos: os fabricantes de productos de pesca.
Estudos exaustivos feitos ao comportamento destes cefalópodes conduziram a técnicas de pesca e equipamentos cujos resultados são assustadoramente eficazes.
Bem sei que para muitas pessoas, sobretudo para aqueles menos informados e com pouca apetência para leituras, aquilo que verdadeiramente conta é a técnica de sempre, e a toneira de sempre.
Chama-se a isso fé, e contra isso nem sequer ouso escrever uma linha.
É muito comum que alguém, ao obter um dia um número significativo de chocos, se fixe na toneira utilizada nesse dia, e seja capaz de matar para conseguir perpectuar na sua sacola de pesca um número suficiente de unidades para continuar a pescar com esse modelo e essa cor, mesmo até já depois de “bater as botas” e ir para o além.
As pessoas cegam com as marcas, as cores, os tamanhos, e não querem, sob nenhum pretexto, ouvir falar em qualquer outra possibilidade. E todavia, poderiam obter melhores resultados se observassem os detalhes que são de facto importantes e levaram a que nesse dia se obtivesse sucesso.
Vamos analisar nesta sequência de artigos sobre chocos alguns factores que podem levar outras pessoas, quiçá menos “fundamentalistas”, a pensar de forma racional sobre a questão da utilização das toneiras.
E explicar as razões que levam a que uma toneira não possa ser eficaz sempre, em todas e quaisquer circunstâncias.
A escolha das cores é normalmente feita de forma arbitrária, por palpite, e quase sempre entronca num critério único: a fé do pescador.
Que variantes temos a considerar? É possível escolher a toneira em casa, antes de chegar ao mar?
Aquilo que é comum é que sejam escolhidas cores base como o rosa, o laranja, o verde, o azul e o vermelho.
É suposto que a pessoa, ao ter estas cores possa pensar estar equipada para tudo. E está! A questão é saber qual das cores deve utilizar em cada momento do dia, do mês e do ano.
Cada uma das cores pode e deve ser utilizada de acordo com um padrão standard de luminosidade. Cada um dos tamanhos deve ser utilizado em função da época do ano, e do tamanho dos chocos disponíveis. Cada um dos formatos deve ser escolhido em função da corrente do local e da técnica de pesca. E já agora, cada um dos pesos e velocidade de afundamento, deve ser escolhido em função da profundidade a que se pesca.
Estas são as variantes!
A variedade de cores e formatos é tanta que urge pôr um ponto de ordem. Afinal como se escolhe? |
Os japoneses, grandes apreciadores deste tipo de pesca, praticam-na com variantes que ainda não nos chegaram, por não terem sentido ainda os pescadores portugueses a necessidade de demandar a outras paragens à procura de chocos.
Quando o fizerem, vão reparar que se podem pescar chocos a partir de terra, em zonas baixas, recorrendo a uma técnica muito sui-generis, conforme podem visualizar aqui neste vídeo:
Clique na imagem para visualizar e na rodinha das definições para melhorar a qualidade.
É sempre possível fazer capturas com uma só cor, um só modelo de toneira. E se as condições de pesca fossem sempre as mesmas (…quase nunca são), a mesma toneira seria sempre boa. Seria sempre a melhor.
A questão é que essa pessoa, alguém que jura a pés juntos que apenas lhe interessa pescar com aquela, a da sua fé, pode ter ou não as condições exactas para tirar o máximo partido dessa amostra.
No Japão, fazem-se testes que incluem milhares de pescadores, no sentido de encontrar um padrão de comportamento. E obviamente registam-se todos os dados, de forma meticulosa, por escrito.
Ao fim de algum tempo de pesquisa, leia-se anos, já é possível estabelecer um critério de utilização de toneiras com razoável segurança de eficácia. Para cada tipo de condições, é encontrado o padrão certo, e isso independentemente da marca, ou qualquer outro critério que não seja exacto, objectivo. As marcas pagam, e bem, a quem se dedica a recolher esses dados, de forma a poderem produzir a amostra que melhores resultados oferece, naquelas condições. E a seguir, fazem o mesmo trabalho, em condições diferentes, e registam. Imaginem que se pesca de Inverno, com águas muito frias, límpidas, e que se descobre qual a toneira que melhor funciona ao raiar do dia, com baixa luminosidade. Segue-se a procura de uma amostra que funcione bem em águas mais tapadas, mais quentes, mais baixas, mais profundas, etc.
No fim deste tipo de investigação, são selecionados os modelos para cada uma destas situações.
Esta toneira Harimitsu foi considerada a melhor e mais produtiva no Japão em 2023! Ver na GO Fishing Portugal |
Bem sei que nunca poderei demover todos aqueles que insistem na sua “toneira da sorte”, contra isso nada há a fazer, mas para os outros, posso tentar dar argumentos para serem menos fundamentalistas. E mais atentos a detalhes decisivos.
E que detalhes são esses? Explica-se de forma matemática, por percentagem de sucesso, utilizando um quadro que podem ver abaixo, e que analisa os resultados máximos expectáveis, em função da cor estar mais ou menos próxima do ideal para um determinado momento.
Numa situação de pesca em águas escuras, (por exemplo ao nascer do dia), a cor rosa permite capturas máximas. A partir daí, todas as variantes a essa cor saem do quadro central, e passam a estar distribuídas por patamares de inferior numero de capturas.
Em função do tamanho expectável de chocos, assim poderemos estar melhor equipados apostando no tamanho de toneira mais indicado.
Para isso, teremos antes de mais de saber que tamanhos se fabricam, e eles são definidos por números. A cada número corresponde uma medida em milímetros, e espantem-se com isto: fabricam-se desde tamanhos mini, de poucos centímetros, até ao tamanho 4, o maior da coleção.
Aqueles que se utilizam mais frequentemente serão os tamanhos 2,5, 3 e 3,5. A cada incremento de número em 0.5, corresponde um aumento de 1,5 cm no tamanho da amostra.
A escolha deve ser feita tendo em atenção o período do ano em que estamos. Se no início do ano, Fevereiro, Março, teremos na costa as grandes fêmeas que podem passar os 6 kgs de peso, (amostras dimensão 3,5), já no Outono, aquilo que mais “rende” serão os tamanhos 2,5 a 3, mais adequados ao peso e tamanho dos chocos que restaram. O critério relativo ao tamanho segue pois a ordem do factor probabilidade: não é expectável que os animais mais corpulentos, e mais possantes e agressivos, fiquem no estuário muito tempo, muitos meses.
Após a entrada dos chocos, os primeiros serão esses, as fêmeas ovadas, e a seguir os machos, mais pequenos. A sequência de tamanhos a utilizar é pois de tamanho 3,5 para tamanho 3 e a seguir tamanho 2,5, já em fim de época.
As canas de chocos, quando pescamos a partir de terra, devem ser um pouco mais longas, para permitir lançar mais longe. |
O nível de actividade dos cefalópodes não será igual todos os dias, a todas as horas, de dia e de noite. Nem sequer o seu comportamento ao longo das horas de maré.
Os chocos, conforme muito outros seres vivos que habitam as nossas águas, têm os seus momentos de alimentação. Podemos considerar que há alturas do dia em que estarão mais activos e outras em que se mostram mais amorfos, sem vontade de comer ou atacar o que seja.
Nunca esqueçam que os chocos não atacam as toneiras exclusivamente para se alimentarem, eles estão posicionados de forma a defender as suas posturas de eventuais predadores, e muitas vezes aquilo que fazem é atacar para defender as ovas.
Quando estão activos, não tem muito que saber, agitando a toneira ou deixando apenas roçar o fundo, sem qualquer excitamento, eles fazem a sua parte. Prendem-se e dão sinal ao pescador, o qual sente um peso, uma prisão, e sabe que é chegado o momento de içar a montagem.
A questão é conseguir pescar chocos quando eles não estão activos! Podemos conseguir chocos nesses períodos de baixa actividade, mas para isso temos de saber um pouco mais que a maior parte das pessoas.
Vamos continuar ver em detalhe que tipo de equipamentos serão necessários para isso, considerando uma grande multiplicidade de situações possíveis.
No próximo número vamos continuar a falar muito a sério sobre as cores.
Vítor Ganchinho
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