Os resultados de quem efectivamente pesca chocos a sério reflectem sempre a observância de um determinado número de detalhes.
Há quem lhes dê sovas tremendas, quem seja muito eficaz a utilizar os meios técnicos de pesca hoje disponíveis e se as coisas resultam, algo tem de estar a ser bem feito. Mesmo que essa pessoa não saiba explicar o que faz bem.
Vejam abaixo uma pescaria feita pelo meu amigo Francisco Diogo, que certamente saberá o suficiente sobre o tema, mesmo que não seja capaz de teorizar aquilo que tão bem faz na prática.
O meu receio é que estejamos a pedir demasiado aos chocos. Um dia vamos querer meia dúzia e não vamos ter... |
O Francisco Diogo é um dos muitos a quem corre nas veias o sangue lusitano de bom pescador de chocos. Ele faz estas coisas e acha que é normal.
Acredito que nós não tenhamos por cá a noção do quanto, em termos técnicos, somos bons a fazer isto!
Da mesma forma que não temos a noção do quanto estamos avançados em termos de técnica de captura de douradas com isco orgânico, por exemplo. Há entre nós quem seja exímio a pescar à chumbadinha com caranguejo.
Estas coisas nascem do aproveitamento dos recursos disponíveis, e são fruto de muito trabalho, muita persistência. Quase não damos por isso!
Nós não sabemos o quanto somos bons a fazer estes dois tipos de pesca porque não medimos isso com estrangeiros, com os “muito bons” de outros lados.
Não tenho a menor dúvida: a perfeição consegue-se com treino exaustivo, e isso, no que a chocos diz respeito, pode ser feito no Sado. Não conheço outro local no nosso país com mais chocos.
Conseguir grandes pescarias implica sempre que muitos factores estejam alinhados, e no caso vertente, as pessoas que pescam desde crianças no estuário sadino sabem muito, mas mesmo muito, sobre chocos.
Podem é não saber ainda tudo. Na minha opinião, falta-lhes ainda saber algo e nem sei se será conveniente que se saiba mais, que se vá ao limite...
Muito sinceramente não me sinto confortável a destapar o véu dos dois últimos redutos onde será possível conseguir pescar chocos em grandes quantidades. Quando acabarem esses dois tipos de pesqueiros, os chocos acabam.
Em termos técnicos, e partindo do método padrão utilizado hoje em dia, esses chocos “resistentes” estão seguros. Ninguém lhes toca a pescar como se pesca por cá, ainda estamos demasiado focados num tipo de capturas idêntico ao que era feito há 80 anos atrás.
Sempre houve chocos no rio, e haveria durante muitos e muitos anos, caso a sua exploração fosse a que foi feita durante dezenas de anos. Mas não é.
Um dia, vamos atribuir as culpas da escassez de chocos aos golfinhos, mas eles já cá estavam antes de nós nascermos e se comem alguns, não é por aí que o desastre irá acontecer.
Há algo mais...
Momento preciso em que o animal abre o espiráculo para respirar. Há horas felizes e aqui tive sorte... |
Temos um estilo de pesca, um modelo, e não saímos muito dele. Isso tem vindo a garantir alguma paz nos locais de onde vêm e para onde vão os chocos.
No dia em que esses novos espaços forem invadidos, vamos ter graves problemas com os stocks de chocos no nosso país. Podemos pensar que existem chocos em toda a costa. É verdade que sim, mas eles saem de locais muito bem definidos, muito precisos, a fonte não é inesgotável.
Para que tenham uma ideia do quanto isto pode ser alarmante, deixem-me dar-vos um exemplo prático, algo bem visível aos olhos de todos: os golfinhos roazes do Sado, os Tursiops truncatus, ou roazes-corvineiros.
Sabemos que existem na Europa apenas três comunidades sedentárias, e uma delas encontra-se no nosso rio Sado. Serão cerca de 27 a 28 indivíduos, e por sinal, entre outras coisas, até se alimentam também de chocos.
Pois nós não damos pelo milagre de nos ter calhado a nós a sorte de ter estes bichinhos aqui. Encaramos isso como sendo algo natural, temo-los e isso é tudo.
Muitos outros países estariam dispostos a tudo para os ter, mas não têm condições naturais para isso.
Agora reparem: para deixarmos de ter golfinhos roazes em Portugal, bastaria aniquilar estes que temos aqui debaixo dos nossos olhos, e acabou. Não há mais.
Com os chocos, é exactamente o mesmo.
Não os valorizamos até ao dia em que …já não houver.
A expectativa de vida dos chocos aponta para os dois anos. Eles têm de viver rápido e ser capazes de procriar, e nós não estamos a ter o cuidado necessário com eles, soltando os mais pequenos.
Um dia não vamos ter.
Há quem pesque num dia chocos que lhe chegariam para …um ano.
Vítor Ganchinho
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Boa noite,
ResponderEliminarAntes de mais obrigado por dedicar VII capítulos a um tema tão interessante e pouco explorado em Portugal. De facto o normal é toda a gente seguir os 2/3 palhaços que estão a dar por magia naquele ano…
Se bem entendi, as cores utilizadas para momentos de nascer/pôr do sol (laranjas, violetas, cor de rosa) serão também as mais indicadas para a pesca de noite? Tenho visto alguns produtos com luz própria também e questiono se as cores normais serão o suficiente para atrair um choco numa noite escura com águas pouco limpas. talvez só com a experiência possa chegar a essa conclusão…
Uma questão mais particular, mares muito longas como as que estamos a ver agora após dias de tempestade são boas condições para a pesca do choco? Ou podemos assumir que os animais se retraem quando confrontados com tanta agitação?
Cumprimentos,
Duarte
Olá Duarte
EliminarTalvez nunca tenha feito mergulhos no mar durante a noite. Eu fiz e reparei que havia algo de estranho na movimentação de objectos e seres vivos: a libertação de luminosidade por atrito na água.
Por outras palavras, se passar a mão pela água, ela vai deixar um rasto de luz atrás de si.
Isso é válido para grandes objectos, ou para pequenos seres.
A explicação é simples: existem milhões de partículas de fósforo em suspensão, e o atrito de algo que se move torna-as "incandescentes".
O fósforo reage ao atrito libertando "estrelas", como se se tratasse de uma cauda de cometa.
Vá um dia à beira mar, e passe uma vara, eventualmente uma cana e entende.
Posto isto, a movimentação de algo durante a noite já deixa um rasto, e as suas toneiras não são excepção.
Mas no caso de querer pescar chocos à noite, deverá utilizar modelos cuja cobertura tenha a componente "Glow" incluída. Essas toneiras brilham no escuro.
Se quiser ir mais longe pode adquirir uma lanterna de UV´s, e aplicar sobre a toneira durante alguns segundos antes de mandar para baixo.
Sendo situações extremas, ainda assim as soluções técnicas existem, e podem ser exploradas.
Eu por acaso trouxe uma lanterna dessas do Japão, e pode ir ter com a Helena e adquirir.
A lanterninha, mais as toneiras com cobertura Ultra Violeta resolvem, ou como alternativa os modelos Glow, brilhantes no escuro. E passa a ter certezas de que os seus artificiais são vistos de certeza.
Mas acredite que tudo o que se mexa com alguma intensidade é visto pelos chocos, à conta das partículas de fósforo que activa, que "acende".
Sobre a questão seguinte: os chocos comem sempre que têm oportunidade pois a sua vida é de tal forma curta que não podem perder tempo.
Eles não podem esperar. É só uma questão de terem um mínimo de condições.
Não vale a pena ir aos chocos num dia de temporal de vento, com vagas de seis metros, porque eles estarão muito mais interessados em sobreviver que cumprir as suas rotinas diárias....
Abraço
Vitor
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