ELAS BRILHAM, ELES MORDEM...

Por vezes lançamos todo o dia nos lugares onde o peixe não está. E os resultados são, obviamente, negativos.
Uma boa táctica para encontrarmos peixe é aplicar uma amostra simples, que actue de acordo com a nossa vontade, leia-se com movimentos produzidos por nós e não por ela própria. Devem inferir daqui o seguinte:
Há amostras que são lançadas e qualquer que seja a velocidade de recuperação que lhes imprimimos, o seu movimento é sempre igual: balançam de um lado para o outro e ficam-se por ali. A turbulência que criam é aquela e dali não passam.
As amostras de pala são isso.
Por contra, amostras lisas são pequenos objectos aos quais podemos dar vida de acordo com as nossas necessidades. Podemos modificar a sua velocidade de recuperação, alterar o efeito que produzem na água, podemos deixá-las “cair” durante alguns segundos, imprimir-lhes arranques bruscos, em suma  “espevitar” os peixes, provocar-lhes o ataque. Muitas vezes são estas amostras aquelas que nos dão o peixe.
Normalmente são menos apelativas porque a sua utilização implica ter o conhecimento de como utilizar. Vendem-se menos.
E o critério de compra não se fica por aqui, pelas amostras standard, com pala. Vai mais longe, a ponto de privilegiar as que mais brilham. Há mesmo muitas pessoas que compram amostras em função da sua estética. Do seu brilho.
Não temos de achar as amostras bonitas.
O critério em si, a estética, o brilho, tem pouca validade, porquanto as amostras não se destinam a ser mordidas por quem as compra.
Os poppers, por exemplo, são extremamente eficazes em dias de calmaria, de águas lisas, e mais ainda se de manhã bem cedo. E são feios que nem cobras!....

Em termos estéticos, esta amostra não vende. Mas é eficaz!

Devemos concentrar a nossa atenção no efeito e não na estética.
Uma amostra é um objecto que se destina a enganar o peixe, não o comprador.
Claro que ajuda que se saiba como lançar um popper, como trabalhar com ele, mas hoje em dia a internet está cheia de vídeos que mostram os resultados possíveis com este tipo de amostras.
Os fabricantes são obrigados a produzir imensas variantes, por exemplo de tamanhos e cores, porque eles fazem amostras para todo o mundo, não fazem para Peniche….
Teremos de ser proactivos, interessados, e se o formos, vamos chegar à conclusão de que em determinadas condições afinal teria sido possível convencer aquele robalo grande que nos virou as costas desinteressado...


Um dia vamos chegar à conclusão de que ainda temos degraus a subir nesta imensa e fascinante tarefa de entender os peixes.
Quanto mais altos estivermos, maior será a distância a que conseguiremos ver.
E aí, deixa de ser uma questão apenas de marca, de cor, de fé, e passa a ser uma questão de saber fazer.


As amostras são um mundo incrível de possibilidades, e dão mais e melhores resultados em função daquilo que soubermos fazer com elas. Saber escolher dentro de uma caixa aquela que devemos utilizar num determinado dia e hora, é já de si uma vitória.
Dou-vos o exemplo de amostras para fazer o “levantamento” das existências de peixe num determinado pesqueiro.
Algumas amostras podem fazer-nos o trabalho de sapa, de nos encontrarem os peixes. São os cães de faro, aqueles que seguem rastos mesmo já velhos e quase imperceptíveis.
Uma dessas amostras é a Smith Surger, uma máquina infernal de pescar robalos que utilizo quando quero saber se estão nas imediações e a que profundidade. Utilizo padrões de cor naturais, a puxar para as presas que os robalos procuram habitualmente.
Dependendo da velocidade da corrente e da visibilidade, assim opto por 13 ou por 18 gramas. É lançar, deixar cair, um pouco de animação e então ver a que cota os peixes picam.
A partir daí, quando consigo definir o padrão desse dia, posso até passar a outra amostra que se adeque mais, mas a prospecção é feita de um lado ao outro do pesqueiro, e de cima abaixo, com uma Smith Surger equipada com uma fateixa nº 4:

Clique AQUI para ver estas amostras

Com este comprimento, oito centímetros, não haverá muito robalos que se atrevam a recusar morder. O mais natural é que as engulam, ficando o triplo na goela….
Caso estejam mais fundos, aquilo que fazemos é dar tempo à amostra, deixá-la descer ao patamar em que se encontram e aí, dar asas à imaginação e ver qual o tipo de acção de que mais gostam nesse dia.
Não preciso de vos dizer que devem trabalhar de acordo com a profundidade que têm disponível. Não adianta esperar tempo nenhum pela descida se pescamos a um metro de profundidade, mas temos de esperar 10 ou 15 segundos se o pesqueiro tem 20 / 30 metros ou mais. Sejam razoáveis…
O mais divertido é mesmo quando os peixes estão a comer à superfície, e aí os passeantes fazem um trabalho irrepreensível, recuperamos rapidamente para que a amostra deslize aos “esses” pela superfície e isso é mortal e incrivelmente emocionante.
Assim como recuperar um popper, fazendo espuma a cada tirão. Os robalos sabem que aquilo só pode ser um peixe que foi mordido por outro e está em agonia…
A natureza é absolutamente implacável com os feridos, os fracos. Há sempre um momento em que aqueles que não são rápidos a escapar acabam por perecer. Vejam o caso das tainhas, cada vez mais confinadas a portos e estuários, à conta dos avanços dos nossos atuns, cada vez mais frequentes na costa.
Dentro das marinas há muitas, porventura demasiadas, e antigamente havia até bastantes fora destas zonas “controladas”, em mar aberto. Mas quando chega o Abril / Maio ou o Setembro / Outubro, deixam de se ver lá fora.
Estes peixes são perseguidos pelos grandes predadores, e aqueles que sobram são os que se recatam dentro de espaços onde os grandes do mar aberto não se atrevem, por enquanto, a entrar.

Há tainhas a rodos dentro das marinas...

Vamos continuar a “esgravatar” nesta questão das amostras, no próximo número.


Vítor Ganchinho


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