Não deixa de ser uma lástima que ocorram mortes no mar por ausência de meios de segurança.
Isso acontece desde logo por incúria e desleixo de quem os devia utilizar por convicção, com muita convicção, e repito, é uma lástima que assim seja, mas também me parece que as autoridades marítimas poderiam ter aí uma palavra a dizer quanto à necessidade de se encontrarem soluções que vão ao encontro das expectativas de quem pesca.
Quero dizer com isto o seguinte: não aprovo, e penso que ninguém no seu perfeito juízo o poderá aprovar, a não utilização de meios de segurança numa saída de pesca.
O que não falta são inconscientes que se acham mais homens se não utilizarem o colete. Não há glória nenhuma em morrer afogado por desleixo...
Eu faço-o por convicção e desde que entro no barco até que o abandono, todo o dia, por sentir que tenho essa responsabilidade quer comigo próprio quer com a família que fica em casa, à espera que eu volte.
Não consigo conceber uma única saída para o mar, e eu faço mais de uma centena por ano, sem que o colete esteja bem ajustado no meu corpo.
Poderia alegar ter razões pessoais para o não fazer, nomeadamente ter obtido resultados em provas de natação nacionais, ter tirado um curso de nadador salvador, ter praticado triatlo durante 7 anos, ter feito caça submarina durante 35 anos, e ter prática desportiva regular diariamente. Não serei o menos habilitado para estar no mar.
Mas isso de nada vale quando uma situação de emergência surge do nada, um acidente inesperado, e temos de nos valer e valer aos outros que eventualmente estejam connosco.
Por isso, colete sempre, sempre, e ponto final. Mas que tipo de colete?
Em conversa com um dos grandes gurus do departamento de inovação e pesquisa da Daiwa, o grande Shimizu, (técnico responsável por tantos produtos inovadores da marca, nomeadamente os produtos de pesca Saltiga), dizia-me ele que no Japão tinham o mesmo problema que nós: as pessoas não queriam utilizar os coletes de pescoço, porque se sentiam incomodadas, limitadas, por aquele artefacto.
As autoridades japonesas meteram mãos à obra e trabalharam em conjunto com as marcas de forma a encontrarem uma solução. E encontraram!
O colete de cintura, sendo bastante mais caro que o colete de pescoço, vem resolver o problema, e sem prejuízo de eficácia. Ao expandir, o colete envolve o corpo uma vez e meia, obrigando-o a ficar numa posição de segurança, face para cima, para o ar. Tenho comigo a documentação técnica e testes que o comprovam.
O princípio é o de garantir segurança a alguém que está inconsciente. Uma pancada na cabeça, um impacto forte, o próprio stress físico da situação podem levar a isso.
Vejam o filme:
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A solução cómoda e eficaz existe, podemos garantir que existem fabricados os coletes de salvamento deste tipo e com a capacidade de 150 Newtons exigidos por lei.
Poderíamos discutir se há efectiva necessidade de tal cifra, 150 Nw, pois não teremos sequer necessidade disso, de um valor tão alto, há margem de manobra a mais mas …mais vale a mais que a menos. Se é lei que se cumpra.
Quem participa em salvamento a náufragos utiliza coletes de valores ainda superiores a 150 Nw, mas essas pessoas só surgem quando a situação é desesperada, e não estão a lutar apenas pela sua vida, estão a zelar por nós.
Tomemos 150 Nw como um valor razoável e consensual.
A questão é mesmo o formato, pois os coletes de alças e pescoço, sendo eficazes, não agradam...
Penso ser muito mais razoável que exista uma adesão massiva a este sistema, que aceitar que se continue a fazer do colete de segurança um objecto que serve apenas para “enganar” as autoridades, colocando-o à saída e chegada aos portos de abrigo. Na verdade quem o faz apenas se engana a si próprio, e apenas brinca com a sua vida.
A seguir irá comprometer a vida daqueles que têm como missão cuidar do salvamento de náufragos, e em última instância de todos aqueles familiares que dependem de si.
A tudo isto, a Daiwa junta agora a possibilidade de ser o próprio colete a avisar as autoridades marítimas, indicando o local, a hora e permanecendo activo a emitir sinal de GPS e posição de deriva até salvamento.
Não estamos próximos do ideal? Um colete que ajuda de forma automática, que é cómodo, que não atrapalha no acto de pesca….
Será que assumir que há uma lei, e que por isso é para ser cumprida, basta?
Se as pessoas não aderem, se não cumprem, e os exemplos estão aí à vista desarmada de todos, será que não vale a pena olhar para estes assuntos de novo?
Vítor Ganchinho
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