Resulta difícil para um pescador japonês entender as razões que levam um europeu a utilizar linhas de pesca extrafortes quando pesca ao choco.
É certo e sabido que os cefalópodes não são bichos com a força de um pargo, de um atum. Têm o tamanho que têm e é assumido que entre nós os chocos que atingem 6 kgs de peso serão cada vez mais raros.
Quase poderíamos balizar nos 2 kgs aqueles que atingem o estatuto de “maior exemplar” na maioria das saídas de pesca.
Ora se a capacidade de luta se restringe à que pode ser desenvolvida por um bicho de 2 kgs, (mais de 90% das capturas não chegarão a 0.5 kg, …certo?), e se o “trabalho” que o choco faz não passa muito do vulgar “peso morto”, qual a razão para que se pesquem com linhas com cargas de rotura de 15 a 20 kgs?!!
Não deixa de ser um absurdo que se utilizem na pesca ao choco os mesmos equipamentos que nos servem para a pesca dos pargos, dos safios, douradas, etc.
Se nós não julgamos ser racional escovar a sanita com a escova dos dentes, nem escovar os dentes com o piaçaba da sanita, porque carga de água nos parece ser razoável utilizar canas potentes, linhas fortes e carretos de grande capacidade para pescar…chocos?!
Não consigo entender que se adquira um carreto para pescar chocos em função da sua superior capacidade de linha. Que diferença pode fazer ao pescador que o carreto tenha um bobine com capacidade para 400 metros ou de 500 metros? Porquê a preferência pelo que leva mais linha?
A que profundidade é que esta gente anda a pescar chocos?!....
Não temos falta de chocos nos nossos estuários, na nossa costa baixa, e sabemos pescar a eles.
Há pessoas a encher diariamente caixas de cefalópodes e isso quer dizer que temos o saber necessário para o conseguir.
Infelizmente não temos é a mesma capacidade de inovação e fabrico dos povos asiáticos. Falo-vos essencialmente do Japão enquanto nação criadora, com designers profissionais de produtos de pesca, e obviamente de toneiras também, e da China, onde se produzem cópias das toneiras japonesas, por preços mais baixos, mas em enormes quantidades.
A diferença de culturas comerciais é evidente: de um lado o Japão, com preços mais altos, mas a permitir a compra de uma unidade de toneira, e do outro a China, a produzir por preços mais baixos, mas a exigir quantidades absurdas. Está enraizado, é assim que acontece e pouco há a fazer.
A Europa, para os grandes fabricantes, tem uma importância muito relativa. O mercado interno dedicado a 130 milhões de habitantes é de tal forma fácil e apelativo que quase toda a sua produção visa satisfazer os distribuidores habituais, aqueles que garantem o escoamento anual de tudo aquilo que é fabricado.
O que sobra, e quantas vezes isso significa os “restos de coleção” do ano anterior, chegam à Europa para … limpeza de stocks. Somos olhados dessa forma.
A GO Fishing Portugal tem vindo a lançar modelos actualizados, recentes, alguns deles a serem comercializados um a dois meses após o seu lançamento nas maiores feiras de produtos do país do sol nascente. Reduzimos dessa forma o tempo de espera, sabendo que a importação dessas novas unidades significa uma aturada e paciente negociação com alguém que até dispensa as compras europeias…
A tradição japonesa da pesca ao choco existe, e eles desenvolveram materiais específicos para ela.
Sabe-se qual a resistência máxima que os alvos oferecem, sabe-se que não há chocos capazes de esvaziar um carreto de linha trançada com os seus “arranques” violentos e mirabolantes, logo é possível determinar com alguma precisão a secção da linha multifilamento estritamente necessária para a função.
Aquilo que tenho visto no Japão neste domínio passa por linhas multifilamento de 4 ou 8 fios, com secções que não ultrapassam o PE 0.8.
Existe um ganho imediato em sensibilidade, (sentir o choco tocar na toneira mesmo que levemente já é uma vantagem), em queda mais rápida até ao fundo, (a linha grossa oferece muita resistência à água e por isso a queda do aparelho é mais lenta. Em pesca mais vertical, (em dias de vento, a deriva do barco pode deixar-nos a pesca espiada, oblíqua e isso é uma desvantagem evidente).
Tudo isto sem contar que a utilização de equipamentos mais ligeiros irá proporcionar-nos um dia de pesca mais relaxado, mais cómodo.
Seguramente chegaremos a casa menos cansados do que utilizando montagens mais pesadas.
Vamos no próximo número ver mais vantagens na utilização de linhas finas.
Vítor Ganchinho
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