MAIS UM PEIXE DE UMA VIDA

Não estamos em Abril de 2025, nem em Benguela, nem no incrível barco “Incrível” do Luís Ramos.
Estamos num lugar de sonho, e aí, por absurdo, apenas existe aquilo que efectivamente conta para um pescador: um sonho, uma cana, um jig e um peixe grande.
Há lugares no mundo que ficam fora do mundo conforme o conhecemos. Não há horas, não há tempo, não há mais que mar.
O ritmo das ondas é o ritmo da respiração, uma respiração quente e ofegante que naquela imensidão de água é o único relógio que existe.
Inspiramos o vento para que o mar acalme.

Um YellowTail amberjack, ou King Fish, o primeiro da minha vida.

Com os pulmões bem cheios de ar largamos um jig que desce direito ao fundo infinito. Lá em baixo, no escuro muito escuro um peixe escuro espera a sua vez de participar neste número de magia.
O jig desce um minuto, muitos minutos, desce uma vida inteira. Desce o tempo que leva a sonhar o sonho de alguém que queria muito estar ali a pescar com um amigo, Luís Ramos de seu nome.
Sinto no olhar batido do meu anfitrião o orgulho que ele tem em me mostrar o seu mundo, o seu espaço secreto.
E acontece: o peixe aceita vir para cima, procura o jig, morde e cumpre a sua parte.
Aos poucos, segundo a segundo, o peixe sobe à luz do dia.

São comuns na Austrália, no Brasil e Argentina. Em Angola são raros, a ponto de o Luís em 12 anos ter apenas dois.

A cada golpe forte de manivela do carreto ele cede um pouco mais. Segundo a segundo cumpre-se o destino.
Em cima, à superfície, o Luís olha para a boca escancarada e repara que o jig tem os afiados anzóis cravados bem fundo na carne, tal como o peixe sempre quis.
Mas o jig não está preso por nenhum fio. Nunca houve um fio.
Houve apenas uma vontade infinita de duas pessoas amigas que quiseram muito pescar e trazer para a luz do sol aquele enorme peixe.
Obrigado Luís Ramos!


Vítor Ganchinho


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6 Comentários

  1. Grande amigo Vitor. Já tinha deixado um comentário mas desapareceu!
    É um prazer e uma alegria poder passar estes momentos e sonhos juntos.
    Todos estes momentos ficarão para sempre nas nossas memórias com ou sem peixe. Um enorme abraço e vamos já planear a próxima

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    1. Luis, só eu sei o prazer que tive em estar aí.
      Com ou sem peixe, poder sair no Incrível já é uma experiência ...incrível.

      Este artigo diz-me muito.
      Saiu cá de dentro, e acredito que seja das melhores coisas que já escrevi, se analisado à luz da mensagem que passa, da profundidade escondida em cada detalhe.

      Eu tinha preparado a linha no quarto de hotel, já com um olho aberto e outro fechado, sem vontade nenhuma, e utilizei linha mais fina.
      Por isso o cuidado que tive em levantar o peixe devagar.
      Luis, este peixe foi conseguido com o tal nó FR que ficou mal feito....e daí a questão do " sem linha", o dizer que não havia linha nenhuma, apenas a vontade enorme de duas pessoas....

      Este era o artigo.

      Abraço e obrigado por tudo.

      Vitor

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  2. Eu quando li o artigo percebi que só podia ser este. O conteúdo, as metáforas e a sua criatividade o tornam único a escrever. Que continuemos com saúde para que juntos possamos nos rir do que a vida tem de bom.

    Um forte abraço meu grande amigo

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    1. Nós ainda vamos fazer um grande desbaste nos cardumes de baiacús....

      Só precisamos de tempo.



      Abraço
      Vitor

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  3. Tour baiacu 2026 😂..se preparem

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    Respostas
    1. Desta vez vamos com cabos de aço, sempre quero ver se eles conseguem cortar as nossas linhas com aqueles dentes assassinos...


      O artigo da sandes de chouriço deve estar a sair...

      Abraço
      Vitor

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