Tenho a certeza de que 99 em cada 100 pessoas terá uma opinião contrária à minha mas avanço-a aqui, já e sem rodeios: as lulas não são apenas um inofensivo cefalópode que se passeia pela coluna de água.
Bem pelo contrário, as lulas são sim uma verdadeira praga do oceano, assassinos impiedosos que recorrem a um sofisticado arsenal todo ele concebido para matar.
Quem as vê assim tão aveludadas, tão bonitas, tão ...inocentes, não as leva presas.
Mas as lulas são muito mais que isso, bonitos habitantes das águas abertas, são canibais que comem a sua própria espécie, e muito mais que isso, são devoradoras insaciáveis de outros seres marinhos.
Tal como em terra as carraças se colam às orelhas dos nossos cães e lhes sugam o sangue, (e nós detestamo-las por isso e pelas doenças que transmitem), também as lulas são “parasitas” sedentos que se agarram e alimentam dos lombos de incautos e descuidados peixes.
As lulas hoje no blog, conforme nunca as viram!
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Exterminadoras implacáveis, isso sim... |
Comecei há muitos anos a pescar lulas com jigs.
Se aquilo que é normal é que se pesquem com os “passarinhos”, toneiras não lastradas de pequena dimensão, ver AQUI na loja on-line GO Fishing, eu procuro ter o melhor de dois mundos: pescar lulas sem deixar de espreitar a possibilidade de tentar os robalos e pargos que habitam os mesmos spots.
Não deixa de ser curioso que possam coabitar com tal proximidade, já que os pargos comem lulas com apreciável dimensão, e os robalos engolem as mais pequenas... mas eu pesco-os no mesmo spot, e alternadamente.
Isso indica-me que seguem o mesmo tipo de presas, sardinha esquilha, carapau miúdo, bogas, cavalas, biqueirão, etc...
Podemos perguntar-nos como podem elas alimentar-se apenas com os seus tentáculos macios. Isso é ver a árvore e não ver a floresta.
As lulas dispõem de duas mandíbulas móveis, usadas para cortar e rasgar a presa.
As lulas são animais carnívoros que se alimentam de peixes, crustáceos e outros cefalópodes. Os tentáculos são usados para capturar as presas, que são então trazidas para a rádula, ou bico de papagaio, um instrumento altamente cortante, para serem comidas.
Vejam o estado em que deixam uma cavala em poucos segundos:
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Espantem-se com isto: esta cavala quando a retirei da água estava...viva. O peixe deverá ter sofrido horrores, com a lula agarrada a si, a comê-la viva... |
Porque pesco frequentemente com jigs, as lulas passaram a fazer parte do lote de bicheza que trago para casa.
Por duas razões muito simples: porque não tenho de as escamar, tarefa que invariavelmente me calha sempre a mim... e porque lá em casa toda a gente gosta de lula grelhada.
São razões de peso para que lhes dedique alguma atenção, somando a isso o facto de estar situado numa região que as tem, e de bom tamanho, muitas delas a raiar o quilo de peso.
Acresce ainda o facto de eu preferencialmente e por defeito pescar sempre com jigs, o que faz com que receba toques com alguma regularidade.
Bem sei que isso nunca acontece a quem pesca com iscos orgânicos...mas a explicação é simples: tal como as carraças em terra só têm interesse em fixar-se a animais vivos, com fluxos de sangue contínuos, também as lulas se alimentam sobretudo de presas vivas.
Por isso os meus jigs lhes despertam tanto a atenção, eu animo-os no fundo e já se sabe: tecnicamente um jig é um peixe ... “vivo”.
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Aqui uma espécie de lula diferente, uma pota, a qual tem garras nos tentáculos. Ainda mais mortífera... |
E que podemos fazer para potenciar e concretizar mais capturas?
A forma correcta de as procurar é substituir o assiste de rectaguarda do jig por um triplo de dimensão modesta, uma fateixa nº 4.
É assim já que com o triplo nº 3, de maior tamanho, a probabilidade de não conseguirmos dois pontos de apoio nos seus tentáculos é grande. De nada nos serve picar lulas e não as conseguir trazer para a superfície.
Para o trabalho ser bem feito, há que utilizar uma fateixa tripla relativamente pequena, que tenha um afastamento entre os três ganchos curto, sob pena de o cefalópode ficar preso apenas num ponto, e inevitavelmente rasgar.
Sabemos que irão tentar libertar-se, voltar ao fundo protector, e sabemos que a forma que têm de o fazer é recorrer ao seu sifão, expelindo jactos de água muito fortes.
Digo-vos que a velocidade máxima que atingem é significativa, algo aparentemente insuspeito para este ser com aspecto alienígena, mas é um facto que acontece sempre e mais ainda quando estão em contacto visual com o barco.
É pois primeira condição que a ferragem não seja demasiado brusca, (não se trata de pargos com boca dura aos quais temos de ser capazes de vencer a resistência do osso e cartilagens), mas ainda assim seja firme, no sentido de termos anzóis espetados em pelo menos dois pontos do corpo da lula, para que possamos suportar os inevitáveis esticões que o bicho irá dar até nós... sem rasgar.
Esse é o maior problema que teremos, a evidente fragilidade dos tentáculos, e a impossibilidade de fazermos mais que um X de pressão. Pressão a mais é lula perdida...
Resulta decepcionante trazer a lula até junto ao barco e vê-la ir embora por deficiência do nosso equipamento, e mais ainda por não termos sido suficientemente hábeis de mãos para a trabalhar.
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O meu amigo Paulo Vaz com um peixe-galo, pescado com uma cavala viva numa zona onde miraculosamente esta não foi beliscada pelas lulas... |
As lulas agarram-se a tudo aquilo que podem e mordem com força.
São muito pouco selectivas com a sua alimentação, a ordem é mesmo a de comer muito e muitas vezes, para que o crescimento seja o mais acelerado possível.
Não esqueçamos que se trata de um cefalópode que vive muito pouco tempo, um máximo de três anos, pelo que todo o seu percurso de crescimento e reprodução é acelerado de forma a permitir êxito reprodutivo e a perpectuação da espécie. A reprodução ocorre entre março e agosto e já podemos pescar lulas do ano no final de dezembro.
Durante o dia as lulas refugiam-se em zonas mais profundas, e à noite sobem para a primeira capa de água pelo que a sua captura é mais fácil durante a noite.
Mas não seja por isso, são incontáveis as lulas que pesco durante o dia, por vezes a horas em que o sol está a pino. O segredo é mesmo a utilização frequente de jigs, nada mais.
Sendo um jig tecnicamente um “peixe vivo”, sempre que estamos numa zona de lulas, estamos a habilitar-nos a ferrar lulas, desde o fundo até à superfície.
Sempre disponíveis para comer, ....estas malandras...
Vítor Ganchinho
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