NA PISTA DE UM FANTASMA... CAP II

Para quem sai de Setúbal ou Sesimbra, ou mesmo Sines, os atuns estão logo ...à saída da doca. 
Basta fazer algumas milhas para fora e parar o barco. 
Desde que bem cedo pela manhã, a actividade destes peixes é tal que pode ser virtualmente impossível 
não os ver, ou...ouvir. Sim, fazem um barulho que se ouve ao longe, porque falamos de “meninos” com peso, com trapio. 
Se os mais pequenos, os de 40 a 50kgs serão comuns, já os maiores são bem mais recatados e não se mostram a toda a hora. Mas mostram-se!
Num destes últimos dias tive o privilégio de ver uma “passareira” com algumas dezenas deles, e todos “rapazes” acima dos 100/ 150 kgs. 
Um peixe destes salta fora de água e é impossível que o "splash" que fazem não seja audível a muitas centenas de metros. 


Fiz esta foto à saída do molhe de Sesimbra, bem cedo.
O mar estava liso, de tal forma liso que permitia ver os vultos dos atuns a sair da água a algumas milhas. 



Vejam neste curto filme como estava bonito: 



Há nítidas vantagens em termos um dia calmo, com pouco vento. 
Caso contrário, o avistamento destes pelágicos passa a ser uma autêntica lotaria. 
Conseguir contacto visual no meio das ondas, com vaga a ser açoitada pelo vento, é apostar com muito poucas possibilidades de sucesso.
Se possível, que se saia sem vento, pois. 

Força é algo que não falta a estes colossos do mar. 
 

A quantidade de cavala e carapau que existe no nosso mar é muito estável. 
Para os grandes pelágicos é motivo de passagem obrigatória junto à costa, de aproximação forçada às zonas onde os nossos pescadores vão procurar os seus peixes de fundo, fazer o vulgar “pica-pica”. 
Dificilmente poderiam passar despercebidos: os atuns acabam sempre por se mostrar, na sua azáfama de encontrar, cercar e comer cavala e carapau. É tudo feito às claras porque as bolas de isca saltam á superfície na sua ansia de se livrarem dos seus perseguidores. 
E há muita comida. 
Pese as capturas de várias toneladas/dia feitas junto à costa pelas traineiras de cerco, (a maior parte para misturar em ...rações para gado), ainda assim há nesta altura do ano bastante comedia disponível. 
É isso que atrai os grandes pelágicos a águas mais superficiais, digamos acima dos 200 mts de fundo. As nossas águas, aquelas que tão bem conhecemos, os sítios onde todos vocês pescam. 
E onde são massacrados por esta gente miúda um dia inteiro. Quantos pescadores se queixam de não conseguir mais que carapaus e cavalas?
É verdade, cavalas a mais também prejudicam, sobretudo a quem quer pescar com artificiais. 
Chegam a ser uma praga para quem quer pescar alguns peixes mais encorpados, com jigs. 
Formam tapetes de peixes de tal forma densos que não “autorizam” a descida das nossas amostras. Não nos deixam pescar!
Muito ou pouco motivadas as cavalas acabam sempre por ter algum “apetite” pelas nossas amostras e assim sendo cada lançamento do jig acaba por ser fatal para uma delas. 
Ou para duas...porque as duplas são sucessivas. 
Cada vez que lançamos acabamos por provocar um funeral lá em baixo, mas não daquilo que procuramos.

Pescar cavalas à superfície com um popper pode ser divertido, sobretudo se a ideia for mesmo a de ferrar apenas uns peixes.


A grande questão é ser capaz de estar no sitio cero na hora certa. Os atuns viajam pelo azul sem se deterem mais que o suficiente para encontrarem cardumes de peixes no fundo, procederem ao seu cerco, e empurrarem até à superfície. Aí, com o cardume de pequenos peixes bem compactado, atacam à vez, alimentando-se de centenas de quilos de carapau, sardinha ou cavala. 
Onde? Certamente sempre numa zona com grande concentração de peixe miúdo, leia-se as áreas costeiras e as suas "zonas quentes", dos 20/ 30 até aos 50/ 70 / 80 metros de fundo. 
Zonas plenas de vida sim, mas também preferencialmente próximas de um fundão, uma via escapatória que lhes dê saída em caso de “apertos”. 
Os atuns são cuidadosos o suficiente para não arriscarem em demasia a permanência por muito tempo em águas rasas. Aparecem, alimentam-se e fogem para os fundões. 
Há, na zona onde me movimento, locais que serão mais querençudos para isso, e os fundos de Sines, Setúbal e mesmo Lisboa respondem na perfeição a estes “cadernos de encargos”. 
Resumindo: baixios com muita comida, mas com fundos significativos próximos. E tudo se passa em poucos segundos, não dá muito tempo para pegarmos no telemóvel e começarmos a filmar. 


Vejam este filme em que cheguei tarde alguns segundos: 




Os canhões próximos da costa são isto mesmo e eles aparecem aí, para comer e para garantir que têm debaixo da barriga água em quantidade suficiente para poderem escapar, ...se apertados. 
E é isso que podemos fazer, posicionar o barco de forma a interceptar algum dos muitos cardumes que vagueiam pela região, preparar o equipamento com muito cuidado e...ter sorte.  
Eles mostram-se. Ninguém sai de lá sem os ver, desde que tenha um mínimo de paciência. 
Quando os conseguimos ver e não conseguimos contacto, o retorno a casa é sempre menos alegre, menos efusivo. 
A minha mulher sabe quando os vejo muitas vezes e não consigo ferrar um que seja....


 
Quando estou muito perto deles mas não consigo contacto, a Lena sabe. Fico muito pensativo, a matutar naquilo que podia ter feito de melhor. Ela acha-me estranho, e mais ainda o facto de eu ficar pensativo e não dizer uma palavra…


Vale sempre a pena tentar. 
Quanto mais não seja porque vamos estar no meio deles, a dar luta a um peixe que é nobre, que se defende, que traz ao feliz pescador que o consegue um aporte de satisfação e felicidade inigualáveis. 
Vejam abaixo um desses “meninos” a dar caça a algumas cavalas. Que peixe!
 
É isto que nos deixa com a pele arrepiada...


Uma coisa é certa: nunca morremos amanhã e por isso teremos sempre tempo para tentar de novo estes gigantes dos mares. Vamos as vezes que forem necessárias!
Nunca perder a esperança....



Vítor Ganchinho


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