LER O FUTURO - CAP I

Haverá quem goste de se entreter a tentar adivinhar o futuro. 
Naquilo que toca à actividade da pesca desportiva à linha, nem vale a pena lançar as cartas nem gastar dinheiro com a cartomante: vai ser negro. 
Ocorre-me este pensamento absolutamente negativo por força do espectáculo deprimente que vejo diante dos meus olhos cada vez que saio ao mar.
Barcos profissionais a fazer pesca de cerco junto à costa todos os dias...contam-se por muitos. 
A última vez que os vi foi ontem, cerca de oito embarcações de pesca profissional lançavam redes numa área entre os 30 e os 70 metros de fundo, um espaço onde é habitual eu pescar os meus pargos, os meus robalos.
Que desconsolo....

Há nuvens negras sobre a pesca à linha...
 

Olhei para o meu pequeno jig pendurado da cana e senti-me impotente para travar aquela devastação. Abandonei o local, aquele absurdo deserto, sabendo que no dia seguinte todos aqueles barcos estariam a lançar noutro lado e a fazer nascer mais desertos.
As iscas que poderiam atrair peixe à nossa costa, (as cavalas, o carapau, a sardinha), são levadas para terra às toneladas. 
Obviamente a natureza não pode responder a este flagelo ao mesmo ritmo que os porões enchem. Os peixes não se criam num só dia, numa só hora. 
Ainda me impressiona ver as quantidades de peixe que é possível retirar do mar num só lance. Vão lá fora ver a recolha de uma rede de malha fina e percebem...
Nada pode sobreviver a uma rede de malha apertada, puxada por aladores mecânicos, nada pode sobreviver a uma força bruta que mata peixe com tamanha frieza.  
Sabemos que as conservas portuguesas necessitam de matéria prima, mas na sua maioria esse peixe será utilizado para rações para animais, como complemento proteico. 
Não deixa de ser uma lástima que tantas vidas, tantos possíveis reprodutores de diferentes espécies fiquem pelo caminho a um só lance de rede.
 
Perdemos a noção de pescar peixes para comer. Agora pesca-se para fazer rações para animais...


Interrogo-me sobre o resultado daquilo que vem ao convés, e quero ingenuamente acreditar que no meio dos carapaus e das cavalas não haverá robalos, ou pargos. Às tantas poderá haver um ou outro, ou não?
Esses peixes serão cuidadosamente “libertados”, acho eu que acredito em Deus...
É certo e sabido que os peixes interessantes para a pesca lúdica, aqueles que por um acaso de sorte desmedida atingem respeitáveis tamanhos e peso não poderão ficar e arriscar a pele a cada dia. 
E isso afecta-nos a todos nós. 
Quem pesca à linha vai ao mar por achar que tem reais possibilidades de conseguir peixes bons. Pelas cavalas não iria quase ninguém, digo eu....embora saiba que nesta altura do ano elas e os carapaus são o mais comum dentro das caixas de quem faz pesca vertical. 
Quando passo pelos barcos MT que fazem pesca vertical, o dito “pica-pica”, a sensação que tenho é sempre a mesma: falta peixe àquela gente. 
Na sua maioria parece-me sempre que se estão a fingir de mortos, concentrados, olhando muito fixamente para a ponteira da cana. 
Vou no próximo número dar-vos uma ideia de como pode ser diferente. 
De como a vontade das pessoas pode fazer com que o mar produza peixe para todos em abundância. 
Até terça!

Vítor Ganchinho


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