Neste mundo muito pequeno da pesca à linha tudo existe a uma escala ínfima, liliputiana.
Desde logo por ser um tema restrito, que apenas interessa a alguns, a muito pouca gente.
Também não ajuda o facto de ser um mundo algo marginal, pouco conotado com ecologia, (a maior parte de nós mata os peixes que pesca…) e isso pesa na apreciação que fazem de nós.
As pessoas não nos entendem!
E têm razão, na pesca as coisas não se passam de nenhuma forma que possa ser entendida por quem não pesca.
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Um pargo suicida que resolveu morder um jig Shimano. |
A imagem que têm de nós é a de uns penitentes que olham horas a fio para uma boia, à espera que algo aconteça. Nós sabemos que não é assim, mas os outros não sabem.
As pessoas não nos conseguem entender à luz daquilo que é a sua rotina de vida, do seu quotidiano.
Para eles nós somos os rapazes que têm uma cana, uma linha, um anzol e uma lata de minhocas, para passar algumas horas junto à água.
Pescamos e a seguir queremos repetir, mesmo que seja igual. Um peixe e a seguir outro.
E são horas nisto, concentrados na ponta da cana e nos seus sinais, a desafiar o tempo e a paciência daqueles que vão passear por esses pontões de mar a pé.
Somos vistos como pessoas estranhas, e pouco fazemos para mudar isso.
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Com mar mau, com chuva, com frio, com vento....também vamos. |
Os pescadores comportam-se como pescadores e mesmo os melhores, sendo expoentes máximos da nossa actividade, ainda assim são, para todos aqueles que não pescam, apenas pescadores.
Mais um tresloucado entre muitos pescadores tresloucados, capazes de se levantarem de madrugada para irem lançar linhas à água.
É pena que assim seja porque isso não valoriza a classe, não ajuda a uma aceitação maior daquilo que fazemos por parte da sociedade.
Quando os melhores não são reconhecidos como bons, como estrelas que são, imaginem os outros, os que jogam nas divisões secundárias…aqueles que apenas pescam meia dúzia de peixinhos magros e minúsculos.
Também é verdade que pescadores são só isso mesmo, não podemos pôr-nos em bicos de pés e querer ser aquilo que não somos. É só isto …e nada mais.
E caso as coisas não corram bem, temos sempre à mão uma panóplia de desculpas sempre eficazes: é a água que está lusa, é a água que está tapada, é o vento forte e a falta de vento, são os iscos que não estão benzidos e, em último caso, a joia da coroa, a desculpa infalível: a lua não ajuda....porque está pequena, ou porque está grande.
Nós sabemos bem o que essa malvada pode fazer para nos estragar um promissor dia de pesca.
A lua será sempre uma arma disponível, à mão, um revolver carregado e cheio de balas, porque ninguém se atreve nem pode negar a sua influência decisiva na vontade de os peixes morderem os nossos iscos.
Quem se atreve a negar isso?!
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A lua tem um efeito esotérico sobre o comportamento suicida dos peixes. Dizemos nós. À falta de melhor argumento, esse serve na perfeição... |
De quando em quando, conseguimos um peixe com peitos, de maior tamanho, o qual nos serve de primeiro mostruário do muito que somos capazes de fazer.
As histórias de pesca que passamos a quem não pesca são só isso mesmo, histórias de encantar a quem acredita que apenas existe o sucesso.
De resto, a narrativa de vida de cada pessoa é perfeita até ao seu último suspiro, porque omite o que não deve ser sabido.
Somos sempre perfeitos aos nossos olhos, em tudo, porque queremos ser recordados assim.
Como podia na pesca ser diferente?!
Vítor Ganchinho
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