SAIR AO MAR COM GENTE BOA - CAP I

Quem me conhece sabe que eu dou tudo por mostrar o mar que conheço a quem gosta dele, a quem o sabe apreciar.
Nos últimos dias as condições meteorológicas estiveram perfeitas para quem saiu à água, o anticiclone dos Açores andou aqui bem pertinho de nós e zelou por mar calmo e pouco vento.
Não é normal termos tantos dias de acalmia, e por isso aproveitámos para sair mais vezes do que o habitual, ou seja...dia sim dia sim.
Dou hoje início ao relato de uma sequência de saídas que fiz com alguns clientes GO Fishing, gente boa que gosta de Portugal, gosta dos portugueses e da nossa maneira de ser.
Aquilo que admiram em nós é a nossa simplicidade, a forma calma e descontraída como encaramos a vida e o nosso sorriso permanente.

Hoje, convosco, um miúdo alemão de 18 anos, a pescar pela segunda vez na sua vida. Repito: um jovem alemão que pescou pela segunda vez na sua vida.
Experiência a condizer, ...pouca ou nenhuma...pois.

O micro-jigging rende, dá-nos peixes que muitos gostariam de conseguir com outros sistemas mais pesados, e seguramente mais incómodos...

Ou não fosse isso aquilo que mais gosto de praticar ao longo de todo o ano, a técnica utilizada foi o Light Jigging.
E, pela sua simplicidade, uma excelente forma de iniciar um pescador.
As minhas filhas com 5 anos de idade já pescavam comigo e fizeram-no a pescar jigging, concretamente na sua versão mais light, o micro-jigging.
Linhas finas, jigs de 5 a 7 gramas, carretos tamanho 1000 e canas ultra-light. E muito peixe debaixo do barco!
Os miúdos adoram porque os resultados aparecem de imediato, não têm de ter paciência, não têm de esperar. Lançam e ferram, lançam e ferram....
E é algo tão simples quanto isto: largar uma peça metálica para o fundo, sacudir, e já está!

Neste caso, o nosso cliente Raphael Hay, de 18 anos e toda uma vida pela frente para vir a ser um bom pescador de jigging, queria fazer uma saída com muito peixe, muitos contactos, mesmo que isso significasse o sacrifício de algum peixe de melhor qualidade. Por outras palavras, atendendo a que pescava pela sua segunda vez, o objectivo não era tanto o troféu, o exemplar de excepção, mas sim a quantidade de peixe.
Queria ganhar prática a trabalhar peixes, desferrar, e passar momentos divertidos. Teve isso.

O motor de proa do meu barco, ...muito mais que uma simples âncora. 


Mas teve mais, porque nestas coisas da pesca há sempre um minuto de felicidade.
Saímos bem cedo da Marina de Sesimbra, ainda com pouca luz diurna.
Gosto de gente que se sacrifica a levantar cedo da cama; isso quer sempre dizer que tem real interesse em obter resultados.
Se a um guia de pesca eles são sempre cobrados no final da pescaria, (e as pessoas são implacáveis nisso mesmo as que não têm noção nenhuma do que é pescar...), é justo que tenha condições para que possa desenvolver o seu trabalho.
A humidade da noite ainda se fazia sentir.
Se isso pode não ser bom para os ossos, é pelo menos bom para chegar ao local de pesca a uma hora decente, àquela hora mágica em que o peixe começa a procurar alimento.
Uma arreliadora vazante pelas 9.30 da manhã dava-nos pouco tempo de pesca ainda com água, pelo que fomos directos ao assunto: jigging sobre um caneiro largo entre duas pedras altas, fundo de areia, normalmente produtivo em termos de peixes de bom tamanho.
Ali tenho feito pargos de antologia, bichos com peso e força. Avisei o meu cliente de que devia ter em atenção o drag.
A resposta dele foi honesta: “nem sei o que é isso do drag”...
Regulei o carreto de forma a poder aguentar sem problemas de rotura de linha, e expliquei como funcionava o sistema. Ele entendeu.
Faz parte das incumbências de quem tem mais anos de mar passar informação sobre aquilo que se está a passar ou pode vir a passar-se. Prevenir é ganhar tempo e neste caso valeu a pena: ao segundo lance, o jig foi travado na sua ascensão.
Algo fazia força a sério e levava linha!

Um jig da Zeake, um F Sardine, 40 gramas, foi suficiente para motivar o ataque deste bonito pargo legítimo.

O tempo perdido a explicar o que é um drag foi tempo ganho. O Raphael percebeu a utilidade de ter um drag bem regulado já que a linha, um PE 1.2 com um leader de 0.33mm em fluorocarbono não era “excessivo” para aguentar aquilo que fazia força lá em baixo. Nunca é!
A verdade é que as linhas são sempre grossas antes das picadas, e finas após estas.
Se aumentamos o diâmetro das linhas passamos a ter menos contactos, os peixes desconfiam, sentem a linha e retraem-se.
Nestes casos, ter menos picadas em troca de maior segurança parece-me um mau negócio. Prefiro que mordam e a seguir eu vejo o que posso fazer.
Para isso temos dedos, mãos, esse incrível instrumento de polegar oponível que nos tornou a espécie mais bem sucedida do planeta.
Estamos sempre a tempo de ajustar, mas naquele momento a embraiagem estava regulada na perfeição para aquela linha Seaguar 0.33mm, e tudo correu bem.
Depois de alguns minutos de luta o peixe assomou à linha de água, a ver a luz do sol.
Estava consumada a pesca de um pargo legítimo de bom porte.

Os seus olhos brilhavam de felicidade e é justo dizê-lo, tinha razões para isso. Este será durante alguns tempos o seu melhor peixe, aquele que irá mostrar aos colegas de escola.
O resto, os carapaus, as bicas, as cavalas, nunca serão mais que figurantes secundários de uma história que acabou em bem.
Valeu a pena levantar cedo!

Tempo ainda para este jovem pescador perceber que a pesca responsável exige a libertação de exemplares de tamanho reduzido.
É muito importante criar a cultura de captura e solta, e ele entendeu as razões de eu insistir numa postura de respeito pelos nossos adversários, (que não inimigos).
Um peixe que para nós nada conta em termos alimentação, por exemplo uma pequena cavala, mesmo que debilitada por uma infeliz prisão pelo dorso, não deixa de ser uma promessa de continuidade, de sustentação do ecossistema marinho.
Aquela cavala restituída ao mar será eventualmente alimento para um peixe maior, ou pode recuperar a sua saúde e vir um dia a reproduzir-se aos milhares.
Precisamos delas.


Ficou a promessa de que no ano que vem voltaremos a sair juntos, e a tentar um pargo de maior tamanho ainda.

No mar há sempre um peixe maior que o nosso maior peixe...


Vítor Ganchinho


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