Há pessoas que começam por ser clientes e, pelas suas atitudes corretas e postura íntegra, passam a amigos pessoais, passam a ser gente que queremos ter à nossa volta.
Hoje trago-vos um exemplo de uma dessas pessoas, o britânico Philip, alguém ligado ao negócio das produções cinematográficas, hoje a rodar aqui em Portugal e amanhã a filmar nos Estados Unidos. As constantes deslocações profissionais à volta do globo deixam-lhe pouco espaço para poder pescar, mas é algo que faz com muito prazer sempre que pode.
Aquilo que lhe propus, em regime de exclusividade do barco só para ele, foi uma saída de pesca variada, a tocar três técnicas diferentes.
E ele adorou!
Ter um barco inteiro só para ele deu-lhe espaço livre e a certeza de que teria da minha parte total atenção aos detalhes técnicos.
Custa mais caro, verdade que sim, mas os custos são o que são, não os podemos ignorar e no fim tudo é largamente compensador. Acredito que alguém possa progredir mais num só dia que em muitos meses a pescar a bordo de uma embarcação onde se pesca ombro com ombro, sem espaço, sem condições nenhumas para lançar uma linha.
Começámos por uma pesca jigging muito ligeira, com resultados absolutamente estrondosos!
Os peixes interessantes sucediam-se, a um ritmo que o levou a dizer: “Vitor, já pesquei mais peixes hoje em duas horas que nos últimos dez anos!”...
Para lhe dar algum descanso físico, resolvi fazer um intervalo e seguir os golfinhos durante alguns minutos.
Para quem vive debaixo de um stress permanente, com horários a cumprir, com métricas de filmes a fazer, com financiadores a exigir resultados imediatos, poder captar algumas imagens para enviar por WhatsApp para a sua esposa, (na circunstância de férias na Austrália com os filhos), foi um momento alto.
Vejam o entusiasmo dele a filmar os nossos bichinhos:
A maior parte de nós nem liga aos golfinhos que nos passam pelo barco na sua azáfama de cercar e comer peixe, mas há quem os leve muito a sério e queira guardar para si e seus relativos algumas imagens de qualidade.
Isto é aquilo que temos para mostrar, e os estrangeiros adoram!
Vejam aqui um excerto do filme que fiz com eles a fazerem surf nas ondas do barco:
Clique na imagem para visualizar e na rodinha das definições para melhorar a qualidade.
A dada altura, e mesmo já completamente fora de época, resolvi perguntar-lhe se valia a pena visitar um pesqueiro de bicas, essas malvadas que estão sempre prontas para morder um jig ou uma montagem de vinil. E que estão sempre lá, ao lado da pedra....e nunca em cima dela.
“_ Claro que sim! Vamos lá!”....
Guardo-as para estas ocasiões, para gente que vibra com a forma agressiva como atacam os jigs, e aquilo que se sucede, uma luta sempre boa, sempre frenética.
Bicas capturadas e bicas soltas pois para o Philip, hospedado num hotel no centro de Lisboa, estava fora de causa tudo o que não fosse “catch & release”.
E francamente as bicas serão muito melhores na ponta da linha que na culinária...
Fazem mais falta ali, a procriar, que dentro de uma geleira. Faz sentido, quando não há a intenção de as cozinhar para os amigos.
Pescar com uma pessoa com este nível deixa de ser um trabalho e passa a ser um prazer.
O que está em causa não é nunca a quantidade de peixe mas a qualidade dos lances.
E tivemo-los, em abundância.
Guardei para o fim uma breve passagem por umas pedras que salpicam um enorme areal, e onde sei que alguns pargos e robalos gostam de fazer as suas passagens à procura de peixe miúdo.
As galeotas, o biqueirão, minúsculos sargos, abrigam-se por ali e são o chamariz perfeito para os predadores que nunca se afastam demasiado do local.
A profundidade, não mais de 20 metros, é a ideal para fazer a pesca LRF, Light Rock Fishing, utilizando vinis. E foi por aí que fomos.
A montagem é a de sempre, um minúsculo stopper Daiwa a impedir o peso em tungsténio de correr na linha mais que o devido, para mim cerca de 60 cm, (gosto de fazer o camarão aterrar na areia ou na pedra suavemente, a seguir ao peso, em diferido....).
Essa queda lenta deixa os peixes desvairados, pois para eles aquilo é tudo o que mais querem: um camarão que saltou e acaba de aterrar no fundo, desprotegido, leia-se sem estar coberto por nada, areia ou algas.
Os peixes têm um raro sentido de oportunidade e reagem em fracções de segundo.
Sabemos que o engano não irá durar sempre e por isso convém ser lesto de movimentos. Ao toque, a nossa reacção deverá ser rápida pois o silicone não é camarão, não lhes sabe a camarão, e eles cospem-no ao fim de pouco tempo.
Todavia dão-nos tempo mais que suficiente para podermos ferrar, se tivermos uma cana que nos dê um toque claro, nítido. Para isso o Philip contava com uma das minhas canas pessoais, uma SRAM de 1,85 mts e ...55 gramas de peso.
Um luxo de cana, sensibilidade máxima, rigidez q.b. e ligeireza extrema, ou não fosse o seu peso de uns míseros 55 gramas. Uma pena na mão....ultra eficaz.
Vou mostrar-vos no próximo número um bonito robalo feito pelo Philip com a cana que vos apresentei, com montagem de camarão em vinil.
Artigos demasiado extensos levam tempo a ler e o meu compromisso neste blog são 5 minutos de leitura sobre pesca.
Não percam o próximo número.
Vítor Ganchinho
😀 A sua opinião conta! Clique abaixo se gostou (ou não) deste artigo e deixe o seu comentário.