No último número do blog apresentei-vos o Philip, um cliente da GO Fishing Portugal, britânico, um apaixonado pela pesca em todas as suas variantes.
Pescar com pessoas assim é tão fácil...
Ele tanto pesca à truta com mosca nas ribeiras da Escócia como pesca aos lúcios nos canais holandeses de Roterdão.
Gosta de pescar a tudo!
Isso facilita muito. Qualquer que seja a nossa sugestão de pesca ela é aceite com entusiasmo, com uma incontida alegria, o que torna o ambiente mais leve. Mais respirável.
Saturado estou eu de levar ao mar gente que me exige quilos de peixe deste e outros tantos daquele, caixas disto e daquilo, como se estivesse na pedra do mercado a escolher.
Há gente que faz contas e compara o que gasta em alugar um espaço numa MT, ao que isso rende em valor de peixe....e o que poderia obter por esse mesmo montante, na praça...
Não consigo entender...
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As bicas são um peixe que nunca nos falha. Estão sempre lá, na mesma posição, ao lado das pedras, receptivas, agressivas e colaborantes como de costume. |
Vocês nem acreditam o que me aparece.
Tive uma saída com um tresloucado francês e cinco argelinos que exigiam um atum de 100 kgs para cada um.
Assim, .... sem mais nem menos, como se eu fosse Cristo. Um para cada um...
Alguns deles pegavam nas canas pela ponta do cabo....o que mostra bem da sua experiência de pesca. Nula! Essa gente que procura milagres desses deve ser incentivada a comprar peixe à posta....congelado.
Não era o caso.
O Philip tem noções de pesca, sabe fazer a maior parte das coisas, e só temos de orientar alguns detalhes técnicos menores: posicionamento da cana, amplitude de movimentos dados ao jig, ritmo de pesca, animação correcta, etc.
Detalhes que muitas vezes fazem a diferença entre pescar ou não pescar, mas que se corrigem rapidamente. Ou não fosse ele o único cliente a bordo e por isso todo o foco das minhas atenções.
Quando o nosso cliente se predispõe a contratar o barco só para ele e quando a intenção é lançar de volta ao mar tudo o que se pesca, não temos de fazer contas a nada mais que não seja a diversão pura, a pesca pela pesca.
E aí, tudo cabe, tudo pode ser feito.
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Gente feliz por pescar em Portugal!! |
As minhas sugestões foram iniciarmos a pesca a fazer LRF, com jigs ligeiros, o que resultou muito bem. A seguir fomos espreitar as bicas, conforme vos contei no número anterior.
Faltava pescar um robalo com vinil, algo que o Philip confessou nunca ter feito.
Pois sim, por ele, por esse robalo desejado!....
A leitura que fiz da pessoa que tinha à minha frente foi muito clara: gente boa!
Segundo o Philip já teríamos excedido em muito as suas expectativas de pesca, até porque a sua forma física já acusava o desgaste de tanta correria, tanto peixe.
Quando se liberta peixe, a quantidade deixa de ser um problema, e a ele bastava-lhe um lance, um só lance mais e daria por encerrada a sua jornada em glória.
Fomos à procura dos robalos e acabei por os encontrar numa pedra baixa, um cardume de robalotes de quilo, que na circunstância eram à medida dos sistema a utilizar, o vinil de camarão.
Já os fiz naquela pedra acima dos 2,5 kgs, mas dada a utilização de linhas finas, PE 0.6, 0.23 mm de fluorocarbono na baixada, e a natural falta de mãos de quem nunca fez aquilo, um possível robalo de pouco mais de 1 kg era mesmo o centro do alvo.
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Quando não se tem prática, tudo atrapalha. Aqui era a rede a incomodar na recolha de mais um peixe... |
Dá-me um prazer imenso ver a forma como as pessoas reagem a toques sucessivos, a uma sequência de ataques repentinos vindos de peixes com tamanho, com peso. É fácil entender que o coração do Philip estava a ser posto à prova.
É isso que nos leva à pesca, a descarga de adrenalina provocada por um peixe que nos dá uma pancada forte na amostra.
O resto é trabalhar o peixe, é técnica de pesca e uns têm mais que outros, mas no fim aquilo que conta é mesmo é o desafio de conseguir fazer algo com o seu grau de dificuldade.
O que a pessoa sente enquanto a luta dura, não tem preço.
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Um pequeno robalo sim, mas um tremendo desafio para quem nunca tinha conseguido um, e ainda por cima a pescar com um vinil... |
Ver o brilho nos olhos de um cliente é tudo para quem dá o seu melhor para que as coisas aconteçam.
Às tantas, o tamanho do peixe nem sequer é importante, passa a elemento secundário. Se a um luso veterano pouco mais interessa que um bom troféu, neste caso, este simpático inglês achou o seu peixe digno de figurar no conjunto de fotos a mostrar aos seus amigos em Inglaterra.
Aquilo que para nós é apenas um lance de pesca comum, para o Philip é razão para marcar um jantar com os amigos e para celebrar momentos de glória.
Pois seja, ficamos felizes por saber que alguém valoriza tanto a pesca ao robalo no nosso país.
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Peixe libertado após cuidadosa remoção do anzol, bem cravado na goela. |
Quando tratamos de desferrar um peixe que se destina a ser libertado, devemos redobrar os cuidados em não lhe provocar lesões.
É verdade que os peixes são fisicamente resistentes, mas não devemos esquecer que as infecções que podem advir de uma desferragem descuidada, bruta, irão marcar esse exemplar durante algum tempo.
Demonstrar respeito por um robalo, para além da sua libertação, também é ser cuidadoso na forma como esse peixe irá ser devolvido ao meio aquático.
Vamos finalizar no próximo número, exemplificando a forma de fazer e quais os acessórios necessários à montagem para este tipo de pesca.
Vítor Ganchinho
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