EXPERIÊNCIA DE PESCA - QUANTO VALE? - CAP II

Quando o nível de luz cai abaixo de um determinado limite, (noites sem lua), todas as cores se tornam apenas variantes de tons cinza e não podem ser vistas pelos peixes.
Infelizmente, e por mais que eu tenha tentado obter dados técnicos, não há muita informação disponível sobre os órgãos da visão do robalo, quantas tipos de células (cones e bastonetes) tem na sua retina, mas podemos presumir que sejam apenas dois, já que isso é o mais comum.
Sabemos por experiência prática que eles têm a perfeita capacidade de se alimentarem à noite, isso sem dúvida, mas não sabemos quanta dessa capacidade advém da sua visão ou da utilização de outros sentidos, nomeadamente do olfacto, da audição e da sua linha lateral.
E assim sendo, de que forma podemos escolher as cores das nossas amostras para robalos? Que critérios podemos seguir?

Vamos continuar a ver isso hoje.

A experiência será sempre, mas sempre, algo de muito importante. Mas também o conhecimento técnico não deixa de o ser...

Porque existem dados que sobejam, podemos dar uma vista de olhos por aquilo que é o olho humano.
Os cones da nossa retina são formados por células fotorreceptoras, as quais são responsáveis pela nossa percepção das cores.
A densidade dos cones não é igual em toda a nossa retina; existe um grande número deles na “fóvea”, mas o seu número diminui gradualmente em direção à periferia do olho.
Na verdade é quase impossível definir o número de cones existentes na nossa retina, mas houve uma pessoa, já nos anos de 1935, o sr Osterberg, que o estipulou em seis milhões (!).
Em obras mais modernas, como o texto de Oyster (1999), os números obtidos dão um total de 4,5 milhões de cones em média na retina humana (acompanhados por 90 milhões de bastonetes).
Sejam quantos forem, serão muitos.
Os cones são menos sensíveis à luz do que os bastonetes, pelo que têm de trabalhar com intensidades de luz relativamente elevadas (a visão noturna depende dos bastonetes), mas os cones permitem a perceção das cores.
Também conseguem perceber detalhes visuais finos e mudanças rápidas nas imagens, porque o seu tempo de resposta aos estímulos é mais rápido.
Os humanos têm visão tricromática (teoria de Young-Helmholtz) porque normalmente temos três tipos de cones com fotopsinas diferentes.
E os robalos?

Eu pesco robalos sobretudo a grandes profundidades, a 60, 70 e até a 80 metros de fundo, com jigs, mas adoro fazer spinning em zonas rasas. É muito mais fácil (e sim, super excitante!) desafiar os robalos a morder uma amostra junto à linha de água. E ainda mais utilizar um vinil com cabeçote de tungsténio... 

Acredita-se que os nossos predadores favoritos, os robalos, tenham apenas dois tipos de cones.
Dois cones significam que as suas possibilidades de fazer distinções de cores se limitam ao preto, castanho, verde e vermelho.
Em águas com pouca luminosidade, amostras com tonalidades “flash”, com brilhos, são alternativas confiáveis. Os metalizados ajudam a atrair os predadores, essa é uma tonalidade que eles percebem como sendo o flanco prateado de um peixe e se alguém mostra o flanco é uma presa em dificuldades...
A amostra do tamanho certo, na cadência de movimento certa, com o registo de pressão na água certo, e numa cor que seja perceptível à visão do robalo, podem ajudar muito a despoletar um ataque.
Aquilo que queremos é mesmo “levantar” o robalo, fazê-lo sair da sua letargia, pô-lo activo!
Para isso temos de dar-lhe o que ele procura, algo fácil de rastrear, de ver, e de captura fácil. Eles perseguem os fracos, os debilitados, e não os que os obrigam a grandes correrias, a grandes dispêndios de energia.
Assim sendo, a velocidade de recuperação da amostra não pode ser máxima.

Bem sei que em Portugal se compram sobretudo carretos de recuperação elevada. Para quê?
Faz-me confusão que se valorize a capacidade de linha, (carreto com capacidade de 500 metros de trançado é sempre melhor que outro que apenas leve 300 metros de trançado, ...porquê? Alguém consegue lançar a...100 metros?!), a alta velocidade de recuperação, (se recuperarmos rápido demais estamos a transmitir ao robalo a imagem de uma presa em perfeito estado de saúde, veloz, difícil de morder....logo eles abdicam de atacar), e por aí fora. Fazemos asneiras seguidas que são de bradar aos céus, e isso acontece por não pensarmos no que fazemos. Neste caso da velocidade de recuperação, o excesso de pressa só nos prejudica. Perdemos picadas!
Devagar e sem pressas, mas de forma irregular, alternando momentos de maior velocidade com pausas, até paragens bruscas, isso sim. Deixemos a amostra trabalhar. 
Temos pressa?! Pressa de retirar a amostra da zona de ataque do nosso peixe?....

Reparem aqui nos tons neutros deste jig. Bem sei que não são muito chamativos, que não são “flash”, mas quando a visibilidade da água é muita, são estes que funcionam. Pargos, robalos, lírios, bicas, douradas, ....tudo morde um alevim. Até...lulas.

Há quem se predisponha a fazer registos de capturas e compare os seus dados com outros pescadores. Se algum padrão foi conseguido, ele aponta para diferentes soluções em função da quantidade de sedimentos em suspensão.
Dito isto, podemos avançar para critérios de escolha relativos às nossas amostras em função desse detalhe.
O ponto prévio é este: se fazemos spinning corrente, com amostras de superfície, necessariamente estamos apenas a utilizar a primeira camada de água.
Não que seja impossível pescar com amostras a dezenas de metros de fundo, mas isso implica sempre a utilização de um meio auxiliar de afundamento: um dispositivo técnico ou um peso.
Assim, por princípio, e de acordo com o critério de claridade das águas, podemos seguir este quadro:

- Águas super claras, ditas “vidro”: amostras transparentes ou brancas funcionam muito bem. A este nível, todas as cores são visíveis, logo não há limitações.

- Águas claras: os azuis sardinha são sempre uma boa opção, mas o branco continua a ser visível.

- Águas verdes: amostras verdes contrastantes são uma boa opção.

- Águas barrentas: As cores rosa ou vermelha são as mais visíveis.

- Águas tapadas, com muita suspensão: laranjas, verdes e amarelo-verde são as mais visíveis.

Nem sempre a quantidade de luz que chega ao fundo é suficiente, por isso, devemos adaptar as nossas amostras/ jigs, à realidade do momento.

Como sugestões adicionais, para pescar em condições de baixa luminosidade, (das primeiras luzes até ao nascer do sol) podemos sugerir: azul, roxo ou preto funcionam melhor.
Podemos ainda durante este período usar amostras com “flash” prateado, algo que brilhe.
Com luz média, ou seja, com o sol a cerca de 20 graus de inclinação em relação ao horizonte, vermelho, rosa e laranja funcionam melhor.
Com luminosidade alta, os castanhos, os azuis ou verdes naturais, muito bons, e até os cinzas funcionam bem.

Os peixes vivem num mundo de baixa luminosidade, de quase escuridão, e assim sendo, olhos eficazes ajudam, são importantes.

Daquilo que temos visto até aqui, de salientar a importância do contraste de cor das amostras, mais que a cor principal em si.
Para pescar robalos, sem dúvida eu aposto nos vinis, uma amostra que transmite frequências dentro de água que desarmam o robalo mais obstinado.
Normalmente pesco com Berkley, PowerBait Ripple Shad, por oferecer garantias de absoluta qualidade. Não são macias demais ao ponto de um só peixe as destruir, não são duras de tal forma que a pesca é penosa. Estão no ponto.
Tecnicamente, a saída de água da amostra, feita através de rasgos laterais no próprio silicone, deixa atrás de si uma esteira de água que os excita, combinada com as vibrações causadas pela cauda shad.
Uma outra marca que me tem dado inúmeros robalos e lírios é a Fish Arrow, de uma perfeição de construção invulgar.
Estes vinis são uma representação precisa de peixes pequenos (ou padrões genéricos altamente sugestivos de presas habituais, ainda que em cores diferentes, o que, ao que parece, não os incomoda minimamente).
Cores naturais para o dia, cores “flash” para os limites inferiores e superiores do dia, amanhecer e entardecer. À noite, o importante é que sejam fáceis de localizar, que ofereçam contraste de cor.
Não esqueçam que o preto/ cinza antracite também é uma cor que pesca bem na escuridão...mas essa tem truque: o vinil deve ser recuperado lentamente, sem pressas.
Como em tudo na vida, ter o ritmo certo ajuda.


Vítor Ganchinho


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