AMAZÓNIA - PAISAGENS DE OUTRO MUNDO - CAP XV

Por vezes parece estarmos na lua, ....
A descida das águas amazónicas oferece-nos paisagens estranhas. Porque o processo é relativamente rápido, pode acontecer que em poucas horas o escoamento da bacia hidrográfica nos deixe perante estes areais secos e daí a horas esteja tudo submerso de novo.
A regularidade das chuvadas conduz a isso, e se água a descer é bom para quem pesca, já o oposto significa problemas, peixes fora do leito do rio, com as consequentes dificuldades para quem lança e não pode ultrapassar a barreira de vegetação e troncos mortos.

Por vezes ficamos na dúvida sobre aquilo que efectivamente estamos a ver...

À noite, o barco /hotel navega rio acima.
A ideia é entrarmos nos afluentes do Rio Negro e subir o mais possível. Os grandes peixes estão próximos da fronteira com a Colômbia, e por isso a navegação nocturna é necessária, são muitos quilómetros de rio para subir.
Mas os pilotos também sentem necessidade de parar por uma hora ou duas para arrefecer os motores.
Nessas alturas, encalha-se o barco num areal, em zona protegida das correntes.
Vejam abaixo as fotos que isso permite:


As depressões circulares que podem ver na areia são feitas por peixes.
É a sua forma de escapar à força das correntes.
Toda a dinâmica de queda de águas da chuva e sua saída rio abaixo acaba por moldar o comportamento dos peixes. Escavar na areia um buraco permite-lhes manter a posição, sobretudo quando a questão é proteger posturas de ovos e ninhadas.


Também as plantas e árvores acabam por ter de encontrar formas de sobreviver a um ambiente agressivo.
Se hoje estão submersas em água, amanhã estarão a seco, a lutar contra o sol inclemente. As raízes vão fundo, no sentido de conseguirem fixação suficiente para que não sejam arrastadas pela corrente.
A enorme quantidade de matéria vegetal morta, para além de apodrecer dentro de água e conferir assim um enorme grau de acidez, também lhe dá esta cor castanha tão característica.


Os peixes adequam a sua camuflagem a este tipo de ambiente. Vejam abaixo a cor deste tucunaré, e reparem que está perfeitamente adaptado a quem vive nestas águas. A sua cor lembra água castanha e troncos....certo?
É isso que têm à sua volta.


Pela manhã não é impossível ver jacarés a descansar de noites de caça nestas pontas de areia.
Por grande azar não consegui fotografar um que deslizou de um tronco grosso para a água, a poucos metros de mim.
Tinha o telemóvel dentro da bolsa....


Os hélices dos motores, como devem calcular, sofrem muito nestes ambientes. Não na areia, claro, mas sim na pasagem dos troncos.
Aqueles que são visíveis não são um problema, mas os submersos atraiçoam a rotação dos hélices e de quando em quando aceleram o seu final de vida.
Mudar hélices é algo que toda a gente sabe fazer...


Ver filme:

Clique na imagem para visualizar e na rodinha das definições para melhorar a qualidade.

Tenho a certeza de que a maioria dos meus colegas de pesca portugueses não aceitaria colocar o seu motor a trabalhar neste tipo de ambiente.
Sofre o hélice e sofre a coluna do motor.
Por melhor que seja o barqueiro, ele está na pôpa do barco e não pode ver aquilo que está submerso, apenas pode reagir quando ouve um barulho estranho. Ou seja, demasiado tarde...


A cada ano que passa, a pressão de pesca empurra os peixes para sítios mais recônditos e inexpugnáveis.
Cada vez será mais difícil fazer um tucunaré 73, um poderoso peixe de 73 cm.
Eu já fiz o meu.

Algumas ervas no canto inferior direito provam não ser uma paisagem lunar...

Espero que tenham gostado desta sequência de artigos sobre a Amazónia.
Outras viagens serão feitas, outras aventuras estarão parta chegar.
Afinal de contas, que somos nós senão aquilo que vivemos? O que existe mais?...


Vítor Ganchinho


😀 A sua opinião conta! Clique abaixo se gostou (ou não) deste artigo e deixe o seu comentário.

Artigo Anterior Próximo Artigo

PUB

PUB

نموذج الاتصال