AMAZÓNIA - UM SÍTIO QUE NÃO EXISTE - CAP I

Nos próximos dias de blog, vou levar-vos a um sítio que não existe.
Escrevam e leiam vocês aquilo que quiserem ler.
Sorte a de podemos ler uma história de viagem de pesca numa folha branca, cada um por si, à sua maneira. Um texto à medida dos seus desejos, conhecimentos e expectativas.
Escrevam a história e divirtam-se tanto quanto aquilo que eu me diverti.
Uma viagem de duas semanas não se conta num só texto. 
Não tenho a certeza que haja gente com coragem para ler todos os artigos, mas estou certo de que há detalhes que são interessantes para quem é capaz de ir para além da safia e do pica-pica. 
Tenho também a certeza de que alguns de vós irão pensar que poderiam pescar ali com linhas mais finas. Não têm a noção das dificuldades…
O sítio onde vos vou levar hoje não existe porque ninguém acredita que seja necessário utilizar linhas multifilamento PE 4 e leaders de fluorocarbono 60 libras, 0.70mm, para pescar peixes de peso inferior a 10 kgs.
E todavia, digo-vos eu que estive lá: é mesmo necessário…

O tucunaré açu, uma besta de força, um adversário temível...

A viagem começa em Lisboa e tem como destino o Brasil.
Rio de Janeiro, Brasília, Manaus, Barcelos e a seguir para um “cascos de rolha” longe sem nome.
Os brasileiros são um povo que “pegou” apenas na parte boa dos portugueses. Nada de problemas, nada de ralações, muito samba e alegria.
Um claro “bright side of life” que nos cativa, que nos deixa a pensar se vale a pena lutar mais por quase nada.
O comandante de avião do Rio para Brasília, depois de apresentar a sua estimativa de tempo de voo, de deixar o seu conselho de “Olha aí galera: cintura sempre afivelada, tá?”, avança com um animador “tempo legal à chegada, bacano, 25 graus”, e termina em apoteose: “Tchau gente!”...
Isto não é bom?!

A floresta amazónica é um imenso lago entrecortado por vegetação.

Desta vez trago-vos um texto que relata uma missão impossível, algo que o nosso amigo “Ton Crise” não aceitaria rodar: ir procurar um peixe, o tucunaré, a um sítio tão remoto que nem consta do mapa.
Algo situado a sul da Venezuela, a este da Colômbia, e sim, território das FARC, esses simpáticos e afáveis guerrilheiros que matam porque sim.
Os moços, os que não aceitaram depor as armas e por isso continuam por ali, têm um negócio bem pensado e estruturado: raptam pessoas para exigir resgates e assim conseguirem dinheiro para financiar as suas “férias” na selva.
Os grupos movimentam-se sorrateiramente entre países, e são intocáveis à luz dos direitos de soberania: o exército de um país não pode penetrar noutro...

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Não achei estranho que o mini aeroporto de Barcelos, Estado de Manaus, bem no coração da floresta amazónica, estivesse lotado de gente do sexo masculino. Quase não há mulheres ali.
Coloco a minha cabeça no cepo a como em cada 100 pessoas que por ali passam, 99 são homens que apenas vão à região para pescar à linha.
Os hotéis enchem, os turistas de todo o mundo aparecem, e creio não estar errado se disser que há uma verdadeira “febre do tucunaré”. Encontrei pescadores japoneses em Manaus…
A dimensão do Estado de Manaus é um perfeito absurdo: a ser um país, seria o 16 maior do mundo….algo como 1550 milhões de quilómetros quadrados. Não é difícil morrer ali de forma incógnita.


A pequena companhia de aviação que nos transporta de Manaus para Barcelos tem procedimentos que não serão os mais …habituais.
Um deles é o de terem crucifixos espalhadas por tudo o que é sítio. Eles operam com aviões de um só motor.
O outro é o de nem quererem saber do peso e número de malas, tudo funciona um pouco …à larga.
E por fim, achei meio estranho que me tenham perguntado no check-in isto: “em caso de queda da avioneta, pode dar-nos um número de telemóvel para quem ligar?”
Claro que sim, respondi. E dei o meu próprio número.
Durante o voo posso nem perceber que isso está a acontecer e assim sou avisado que estou em queda vertiginosa para o solo.


A região é absolutamente inóspita, rude, selvagem, como convém a uma pesca extrema.
Não vale a pena pensar em ser resgatado se algo correr mal. A ajuda, a chegar, chegaria sempre demasiado …tarde.
Organizar uma operação de salvamento naquelas latitudes implica dias de preparação, de contactos, de boas vontades. Que não existem numa terra de ninguém.
Cada um por si, sem contemplações. Ali, os problemas dos outros não são os nossos problemas.
Em zona de guerra e guerrilheiros, salvar alguém significa arriscar a própria pele.
O risco é máximo, sim, é verdade, mas a recompensa também.

A quantidade de pescadores é alta, e os hotéis estão sempre sobrelotados.

Vamos ver nos próximos números do blog como é pescar em condições extremas.
Preparem-se...


Vítor Ganchinho


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