DENTES AFIADOS...

Saí bem cedo a pescar com o meu amigo Luis Maia.
A pesca para mim começa no dia anterior, quando preparo todos os equipamentos, quando elaboro o roteiro daquilo que irei fazer no dia seguinte.
Ver as previsões da meteorologia é o meu primeiro passo. É em função delas que o plano é feito, até porque não é igual haver ou não vento, ondulação, e ter uma maré a encher ou a vazar.
Tudo conta.
Levo muito a sério esses detalhes porque sei que isso irá impactar directamente sobre as minhas possibilidades de conseguir pescar em boas condições, e conseguir bons peixes.
Mas, ....no melhor pano cai a nódoa!
Não reparei num detalhe que era importante e viria a estragar-nos o dia de pesca.

Nada como sair cedo para o mar...

A ausência de vento (força 3 a 4 nós apenas), a ondulação baixa, indicavam um dia perfeito para irmos pescar gorazes e cantaris a uma pedra a sul de Sesimbra.
Dada a profundidade significativa, faltava ainda saber a hora da maré. Iriamos ter o estofo da vazante por volta do meio-dia, o que não sendo bom, também não era caso para desesperar.
Ao fim de 30 minutos de navegação, estávamos no local.
Primeiro lance e primeira decepção: a corrente era de tal forma forte que os 300 gr da chumbada não eram suficientes para chegar lá abaixo.
Aumentei para 500 gramas e nem por isso melhorou significativamente, a força da corrente na linha não deixava assentar a baixada no fundo.
Impossível pescar naquelas condições. Os carretos eléctricos gemiam de esforço para recuperar os 450 metros de linha e a solução estava à vista: sair dali.
Depois de três miniaturas de pescadas e três imberbes cantaris, resolvemos retornar a terra, para pescar próximo da costa.
O rumo foi feito ao Cabo Espichel.

Estas cores do nascer do sol só podem ser vistas por quem se levanta cedo.

A corrente mantinha-se forte, mas pescar a 80 mts não tem uma dificuldade acrescida.
Começaram a entrar alguns peixes, sendo que a qualidade era baixa. Safios, abróteas, fanecas e pouco mais, sendo um dos safios na casa dos 15 kgs, algo muito comum na zona.
A dada altura, o Luís ferra qualquer coisa que não puxava em demasia, mas que era o suficiente para o animar um pouco.
Porém, a meia água a resistência quase desapareceu.
Perguntei-lhe se tinha pedido o peixe.
Respondeu-me que não, que ainda havia lá algo, mas que não fazia força.
Curioso, fiquei a acompanhar a subida da baixada. E percebi que algo de dentes afiados resolveu petiscar o peixinho dele...

Esta pequena abrótea foi...”ratada” por algo bem maior que ela. Aposto numa tintureira de pouco mais de um metro, a atender à sua “impressão digital”.

A pobre abrótea foi mordida no ventre e por estranho que pareça, chegou à superfície ainda viva.
Duas horas depois resolvemos fazer agulha à Marina de Sesimbra.
A expectativa de um temporal de vento e ondas a chegar no dia seguinte fazia-nos levar a sério os preparativos para uma boa amarração do barco.
Chegado a casa, fui investigar a razão de tal força de corrente e sim: foi falha minha.
O Equinócio de Outono ocorreu a 22 de Setembro, e ele pode, combinado com outros factores como a lua nova, a proximidade da Terra à Lua, fazer marés de muito maior amplitude.
Neste período, o alinhamento do Sol com o Equador intensifica a sua atração sobre os oceanos, o que contribui para marés altas mais altas e marés baixas mais baixas.
Poderia perfeitamente ter decidido ir fazer jigging ligeiro para fundos mais baixos e a questão nem se colocava.
A decisão de ir pescar fundo, (400 metros!), foi a pior que podia ter tido.
Nem sempre se acerta mas neste caso foi mais um erro de cálculo meu que qualquer outra coisa.
Não será a última vez...


Vítor Ganchinho


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