O nosso cérebro processa milhões de informações durante um dia.
A cada instante entram nos nossos olhos imagens, os nossos ouvidos captam sons, o nosso nariz recebe partículas, as nossas mãos tocam em produtos de diferentes texturas, temperaturas, etc.
Tudo isto pode ocorrer em simultâneo.
Nada mais natural pois que existam mecanismos de simplificação. Isso é válido para as imagens captadas pelos nossos olhos e para toda a informação que nos chega.
A forma como o fazemos é quase mecânica, automática, e processa-se desta forma: se estamos a ler, ao olhar para uma palavra mal escrita, e desde que esta tenha a primeira e última letras na sua posição correcta, nós conseguimos que o nosso cérebro preencha as lacunas. E conseguimos prever e completar o que falta.
Em suma, conseguimos ler.
Nesse caso, o que fazemos é prever o contexto. Na pesca fazemos o mesmo.
Quando olhamos a água, analisamos a corrente, a cor, a ondulação, o vento, e por experiência anterior projectamos aquilo que ali pode ser feito, naquelas condições.
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| Saio ao mar e levo comigo diversas possibilidades de pesca. No mar, olho para o que tenho à frente e....decido. |
Tudo se complica quando os nossos sentidos nos enganam.
Não é necessário muito para que isso aconteça, de resto. Quem sai ao mar e entra uma zona de nevoeiro sabe do que falo.
Num instante, deixa de conseguir ver para além da ponta do seu nariz e sente-se perdido, sem referências. Aí, recorre ao GPS do seu plotter e ...confia.
Confiamos na tecnologia de forma cega, e muito para além daquilo que confiamos nos nossos sentidos. E todavía...
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| Nem sempre temos estas excelentes condições de mar. |
Podemos explorar o conceito de “morte por GPS” para nos referirmos a quem sofre acidentes por ter confiado mais nos instrumentos que na sua própria observação.
Imaginem um condutor que abdica de conduzir ele próprio por acreditar que o sistema electrónico de navegação do seu carro será mais fiável que os seus próprios olhos. E que por isso acaba de cair por uma ravina.
Um pescador não deve eximir-se nunca de ter a sua opinião própria sobre aquilo que vê no mar em que pesca.
Nunca por nunca devemos enredar-nos na teia do excesso de informação das redes sociais, acreditar que tudo o que está ali é verdade. Hoje em dia, a IA pode enganar-nos com relativa facilidade. Cuidado!
Decisões rápidas e irrefletidas (tomadas a partir de dados viciados), são o pior que podemos tomar. Nunca por nunca renunciar e anular os nossos sentidos, nunca perder a noção da realidade.
Pode acontecer que uma fábrica japonesa produza algo que aos olhos deles, perante a sua realidade, seja eficaz. Mas que para a nossa pesca tenha de ser adaptado.
Eu faço isso frequentemente.
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| Gente que lê isto, assim, vive certamente noutra realidade. Por isso mesmo devemos pensar por nós e não acreditar cegamente que tudo o que nos oferecem é bom. |
Vivemos num mundo de sobrecarga de informação sem limites, um mundo onde impera a saturação da comunicação e isso é um passo dado no sentido de tomarmos a decisão errada.
Anularmos a nossa percepção da realidade para acreditarmos apenas naquilo que nos dizem é irmos de olhos fechados direito a um abismo. Podemos e devemos pensar!
Passamos de uma realidade em que os corpos se contactam, pele com pele, para um mundo virtual, uma pressuposta realidade imaterial em que cada um pode ser aquilo que idealiza e não aquilo que é.
Tornamo-nos dependentes de um certo tipo de clausura tecnológica que nos leva a acreditarmos e fazermos acreditar os outros que somos aquilo que não somos.
Haja Photoshop em quantidade e qualidade e tudo parece bem!
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| O que eu faço a um jig da Little Jack… A verdade é que a percentagem de peixes perdidos é quase nula. |
Eu testo por mim, e faço as alterações que entendo que devem ser feitas.
Mudo triplos a amostras, altero o tamanho dos anzóis, corto vinis, colo com cola Super3, acrescento peças, e no fim, ...pesco.
São ideias minhas e até admito que algumas possam ter ainda algumas arestas ásperas que requerem mais polimento, mais tempo de observação, mas no geral não tenho dúvida de que o bom princípio técnico está lá.
Acredito que aquilo que faço tem sentido, à luz da experiência de pesca que tenho.
Todos nós temos a nossa dose de sabedoria, de experiência, e por isso...devemos usá-la.
O tempo pertence-nos.
Vítor Ganchinho
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