Se o objectivo é ser feliz, nada como ter a barriguinha cheia, o banhinho tomado, e ...ter tempo.
Para quem tem as capacidades sensoriais e a forma física dos nossos golfinhos do Sado, encontrar alimento não é de todo um problema.
Vejo-os a comer cavala, carapau, chocos, e acredito que não desdenhem uma ou outra lula. Tenho-os como caçadores oportunistas, mamíferos que comem aquilo que prevalece de momento na sua zona de acção.
A sua alimentação varia ao longo do ano de acordo com a disponibilidade do meio.
Numa base quase diária, observo-os a compactar grandes cardumes de peixe, normalmente cavala ou carapau, trazê-los à superfície e aí, encurralados entre o céu, o voo picado de dezenas de aves marinhas e uma parede de animais que os pressionam, proceder a verdadeiras chacinas.
Nos últimos anos, os atuns juntaram-se à festa e são correntes os momentos em que partilham o alimento com os nossos golfinhos.
É impressionante a violência que ocorre nestes instantes! De repente, como que obedecendo a um click pré-combinado, à vez, os golfinhos fazem estalar as suas caudas junto ao cardume e os pobres peixes, atordoados, confundidos, sem possibilidades de fuga, sucumbem à pressão, às chicotadas violentas de quem tem centenas de quilos a mais e é dono de uma força bruta.
![]() |
| Fiz esta imagem a sul de Sesimbra. Os golfinhos aproximaram-se do barco, mostraram as suas habilidades e continuaram, direitos ao Cabo Espichel... |
Os atuns apertam por baixo, os golfinhos de lado e as aves por cima.
Os cardumes perdem efectivos a cada segundo que passa. Os peixes que restam procuram defender-se da única forma que conhecem: juntam-se e tentam encontrar uma saída.
Sabemos nós que a forma segura de o fazerem seria espalharem-se, pulverizarem o cardume, dispararem em todas as direcções, obrigando os golfinhos a um dispêndio de energia pesado, inútil e pouco compensador.
Isso tornaria quase impossível a captura da quase totalidade dos efectivos, mas eles não sabem isso. E morrem por não o saber.
Insistir na táctica de cardume, de grupo, é a sua perdição.
![]() |
| Os atuns são parceiros dos golfinhos por conveniência... |
Os nossos golfinhos vivem uma vida não isenta de agruras. Se não têm problemas quanto a alimentação, essa é garantida pela excelência do local que escolheram para fazer a sua vida, já os perigos não os deixam respirar descansados. Evoluem em constante fuga às orcas, aos hélices dos barcos, à pressão crescente do trânsito de embarcações de recreio pejadas de pessoas que querem estar em cima deles.
Para quem pesca e gosta de fazer imagens destes mamíferos, deixem-me dizer-vos que o ideal é que sejam eles a procurar-nos. Não gostam de ser incomodados quando estão em processo de caça, a procurar ou mesmo quando já têm o cardume bem cercado. Esse é um momento deles, sagrado, e não devemos aproximar-nos.
De resto, há regras bem definidas quanto à observação de golfinhos.
![]() |
| Uma esquadra destas amedronta qualquer cardume de peixe miúdo... |
No mês de Agosto é mesmo proibido proceder à sua observação, e isso faz sentido: o número de embarcações na água é bastante superior e isso cria uma pressão exponencial sobre estes mamíferos.
São perseguidos, são vítimas de aproximação excessiva, são separados pelas esteiras dos barcos do resto do seu grupo, das suas famílias.
Os barcos entram-lhes de frente, procurando interceptar a sua rota e conseguir assim melhores imagens. Um puro disparate.
Há uma regra de ouro nem sempre respeitada: é proibido que mais de três embarcações se aproximem a menos de 100 metros do grupo.
Vejam o que acontece quando eles estão bem dispostos e resolvem juntar-se à nossa embarcação para um passeio em equipa:
Clique na imagem para visualizar e na rodinha das definições para melhorar a qualidade.
Fazem parte da família dos homens do mar, estão lá todos os dias para nós, são nossos parceiros de venturas e desventuras.
Quando o mar fica encrespado, quando se torna impossível ficar lá sem correr perigo de vida, nós voltamos a terra.
Eles não podem escolher muito, continuam a ter de enfrentar as ondas e o mar revolto para poder comer.
Só por isso, só por terem merecem o nosso maior respeito.
Espaço para eles, por favor.
Vítor Ganchinho
😀 A sua opinião conta! Clique abaixo se gostou (ou não) deste artigo e deixe o seu comentário.


