TEXTOS DE PESCA - Ainda as fotos dos peixes

Este tema da fotografia, atendendo às reacções, pelos vistos interessa a algumas pessoas. 
Vamos então dar mais uma achega a alguns detalhes que podem ajudar, todos juntos, a conseguir uma boa foto. 
Como regra geral ocorre-me dizer-vos que as fotos de peixes fazem-se no mar. Nada pior que um peixe que é fotografado em sua casa, dentro de um alguidar. Pior se já escamado. 
Lembre-se de respeitar este princípio: os peixes fotografam-se no mar, enquanto estão vivos e enquanto podem transmitir emoção. Também as cores e brilhos ficam largamente favorecidos. 

As fotos devem expressar aquilo que nos vai na alma, as nossas emoções. Nesta circunstância eu estava muito feliz pelo meu amigo Garcia, que fez um bom pargo, na famosa Pedra 21.


Se considerarmos os limites da fotografia como a moldura de um quadro, temos que o enquadramento que damos à pessoa, ao peixe, etc, podem remeter-nos para dentro ou fora da imagem. É muito importante que o motivo não esteja virado para fora e deixe o interior da imagem sem conteúdo. Uma boa foto não tem necessariamente de espelhar o tradicional motivo de uma pessoa + um peixe. Nem sequer tem apenas de ser ilustrativa de um peixe, pode muito perfeitamente representar um padrão de cores e formas.

Vejam abaixo uma espectacular foto de uma amiga minha, Tuula Hartmann da Finlândia, em que o peixe em si é um assunto secundário. Aquilo que ela procurou na sua caixa de peixe foi um padrão, e conseguiu uma mistura de cores muito interessante. 

Tuula Hartmann a colocar o foco de interesse no canto superior direito, um dos dois campos de força preferências de qualquer imagem. A leitura mais uma vez é feita da esquerda para a direita e acaba no ponto de intercepção das caudas dos peixes. As formas são-nos familiares, porque as conhecemos, e também conhecemos os “modelos”…. Excelente trabalho!


A utilização de flash, mesmo durante o dia, pode ser uma opção a considerar quando pescamos peixes com escama que brilha. Fazer isto a uma abrótea é inútil….

Raúl Gil com um dentex, um pargo que lhe mordeu num jig da Savage de 8 gramas. Com aparelhos nos dentes é preferível que o modelo fique um pouco menos sorridente…mesmo que esteja feliz com a captura.


Também a linha de horizonte ganha em estar plana, …sob pena de sentirmos algum desconforto. Em baixo um desses casos:

Quem me fez esta foto acertou nalguns detalhes, mas esqueceu a linha do horizonte…


Quando estamos a pescar com alguém que é um amigo recente, é de bom tom que a foto revele o motivo principal, o peixe, mas que tenha também algo da pessoa que pescou. 
Que exista a noção de que estamos a piorar a foto, mas a agradar a alguém. Sob qualquer pretexto, não devemos deixar que a pessoa segure o peixe pendurado pelo rabo. Sendo um clássico da fotografia mundial, está para uma boa foto quanto um locutor de televisão que é enquadrado a meio do écran. Há cinquenta anos fazia-se assim, mas hoje não é de utilizado. Pense em termos de campos de força, e não em deixar o motivo exactamente centrado na foto. Aquilo que é para deixar centradinho são as fotografias de Raios X, mas esse é outro campeonato….
Caso tenha ido à pesca e não tenha tido oportunidade de levar qualquer aparelho para captar a imagem, tente jogar com padrões de cores que encaixem uns nos outros. Os contrastes muito fortes normalmente saem mal. 
Procure obter assimetrias, ou efeitos oblíquos. Veja este exemplo: 

As cores encaixam, os padrões não são contrastantes, e por isso uma foto que estaria destinada ao fracasso, feita em casa, acaba por resultar. Trata-se da minha filha Mafalda, que quis fazer uma foto com uma cavalinha cheia de Ómega 3, para cozer.


Olivier Meurant, de França, a pescar comigo no rio Sado, antes de sairmos para fora. Neste dia fizemos uma excelente pescaria de robalos com jigs. 


O meu amigo João Magalhães com uma abrótea pescada já fora de horas. Este é um caso curioso: fontes de luz alternativas podem estragar o foco de interesse que queremos realçar. Neste caso, a lanterna deveria estar apagada, pois perturba o equilíbrio da foto, dispersa a atenção da pessoa que vai “ler” esta foto e não se ganha nada com isso. Se taparem a lanterna com uma folha, ou rolarem o cursor do rato de forma a que fique invisível, os motivos de interesse da foto mudam, e passam a centrar-se no olho da abrótea, e na linha do carreto. Porque estão a ocupar dois campos de força da imagem.


Quando fotografamos motivos em que pretendemos um plano geral, pessoa + peixe, é de ter em atenção se existem, para além disso outros factores perturbadores da nossa foto. 
No exemplo abaixo, temos uma situação em que seria muito melhor que a pessoa que se encontra de costas não estivesse naquela posição, que estivesse ausente deste plano. 
O efeito que provoca é o de perturbação da imagem, sem que se ganhe algo com isso. Mais ainda se as cores das roupas são mais fortes do que as do nosso motivo a fotografar. 

O Pedro feliz com o seu pargo de 3 kgs, feito na minha Pedra 21, num terrível dia de vento. Foi o único peixe bom que se pescou neste dia.


Outro erro muito frequente é o de querermos ser rápidos demais a fazer as nossas fotos. Quando pretendemos libertar o peixe de volta à água, sabemos que temos de ser rápidos a executar. 
Se por um lado estamos pressionados porque o modelo não quer estar muito tempo em pose, porque quer voltar a pescar o mais rápido possível, por outro lado é inglório que o resultado final seja uma foto 
que corta a imagem a meio, sem qualquer padrão definido. Aqui, para além de não ser aproveitado o trabalho de fotografia, temos ainda que a pessoa não vai ficar satisfeita quando receber a sua foto, e vai fazer “delete”. 




Valorize aquilo que tem à sua frente. A maior parte dos pescadores que interrompem a sua pesca para fazer uma foto, são aqueles que já têm alguma veterania na função de pescar, e já passam bem sem pescar mais um peixe, para deixarem felizes aqueles que pescam pela primeira vez. O peixe que essas pessoas pescaram, pode ser muito importante para elas. Não devemos ser nós a julgar da maior ou menor valia do lance, por aquilo que o peixe em si nos diz. Para o pescador que exibe o seu peixe, aquele é o PEIXE dele, quantas vezes o primeiro da sua vida. Devemos pôr toda a nossa ciência naquilo que fazemos, e lembrarmo-nos que um dia, um peixe pequeno também já foi muito importante para nós. 


Fiz esta foto a um rapaz norueguês que pescou o seu primeiro peixe. Era uma pequena e vulgar garoupinha, mas ele adorou e nunca mais a esquecerá!
Reparem na harmonia de cores e na profundidade que dá o facto de se ter conseguido obter o plano do peixe, da pessoa e do mar lá atrás. Fiquei super feliz com esta foto, que vale bem mais do que o peixe em si. Espero que gostem. 


Vítor Ganchinho




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