TEXTOS DE PESCA - Os peixes, noções gerais de fotografia

Ficamos dias e dias à espera do momento em que poderemos ir pescar. Para quem apenas o pode fazer ao fim de semana, os dias não passam.
O material de pesca é visto e revisto uma dúzia de vezes, e a noite de sexta para sábado é quase sempre mal dormida. Vamos fazendo riscos verticais na parede, até chegarmos a cinco. 
E eis que chega o fim de semana, e a nossa oportunidade de ir lançar as pescas. 

O resultado dessa nossa inquietação é um peixe que vibra na ponta da linha. E com ele a possibilidade de uma fotografia que se pretende com qualidade, nitida, enquadrada, e que nos permita surpreender os amigos. Por mais comum e pequeno que seja o peixe, há que ter alguns cuidados. Um bom peixe e um bom lance podem ser desgraçados por uma má foto, e um vulgar e banal peixe pode ser valorizado até ao limite do possível. Tudo depende de nós. Vamos falar um pouco sobre a técnica de fotografar, e tentar fazer com que não se estrague por desconhecimento aquilo que tanto trabalho deu a pescar. 

VÍtor Ganchinho com um pargo africano. A água e o céu funcionam aqui como elementos neutros, não é isso que os nossos olhos vêm em primeiro lugar. 


O primeiro factor a considerar é o seguinte: não há boas fotos de pessoas e monumentos. Há sim registos de “eu estive ali”….
Se queremos fazer uma boa foto do peixe, ..não cabemos lá! Se queremos uma foto nossa, o peixe quase sempre fica a mais. Mas nós queremos identificar o peixe com a nossa pessoa e registar aquele momento. 
Então vamos ter de fazer algumas concessões. Um êrro crasso é tentar que caiba tudo: a pessoa, o peixe, o barco, e a costa. No fim, vamos ter de dizer: “ aquele ponto escuro ali era eu, com um peixe na mão”.

Principios básicos de uma foto: 

1- Nós ocidentais, lemos as fotos da mesma forma que escrevemos, de cima para baixo e da esquerda para a direita. Assim sendo, se o motivo que queremos fotografar se encontra em cima e à esquerda do rectangulo da foto, isso faz-nos pensar que o resto da foto nem necessitaria de existir. Sentimos incómodo, quando chegamos ao fim da imagem sentimo-nos defraudados nas nossas expectativas, sentimos que perdemos tempo. Normalmente rejeitamos esse tipo de imagem. 
2- Existem campos de força, em que a mensagem que queremos passar se torna mais forte. Concretamente consideramos um rectângulo que dividimos em três partes na vertical e três partes na horizontal. Vamos ter quatro pontos de intercepção dessas nossas linhas. Esses são os campos de força da nossa imagem e assim sendo, devem tentar colocar o motivo de interesse num desses pontos. Preferencialmente nos dois que ficam do lado direito e melhor se no canto inferior direito, ou seja, obrigando o leitor da foto a percorrer visualmente todo o espaço da foto. 
3- Também as cores neutras passam pelos nossos olhos de forma mais discreta que outras mais vivas. Um verde ou um azul são associados a fundos, são cores frias complementares, e os vermelhos ou amarelos, cores quentes, que chamam a nossa atenção. Colocar cores quentes em pontos estratégicos, ou se quiserem chamar-lhes campos de força, valoriza a nossa foto. 
4- Posso garantir-vos que 99 em 100 fotos que vocês consideram boas, respeitam este principio. Deixamos 1% para casos especiais, raros, que muitas vezes resultam em boas fotos por originais e inesperadas.
5- Uma foto de pesca não tem necessariamente de ter sempre a pessoa que pesca o peixe ao lado. Se conseguirmos deixar de lado a vaidade de termos sido nós a pescar aquele exemplar, podemos fazer imagens fabulosas, inclusivé utilizando close-up, ou mesmo fotografia macro. Assumo que se torna mais fácil quando já temos umas centenas de peixes iguais capturados, e que é dificil pensar desta forma quando se trata do nosso primeiro peixe. 
6- Outro aspecto que me parece importante referir, para que não estraguem os vossos melhores momentos é o seguinte: motivos verticais fotografam-se na vertical, e os planos horizontais obviamente na horizontal. Parece evidente, mas muitos de vós não seguem este princípio básico….

Um bom exemplo, esta minha recordação de um bom pargo que capturei na Ilha do Príncipe. Esta foto é lida da esquerda para a direita, e de cima para baixo. A boca do peixe está exactamente posicionada no campo de força certo. O objectivo não era fotografar o farol que se vê ao fundo. As cores verdes e azuis esbatidos funcionam como enquadramento e são absolutamente neutras. Todo o foco da acção está concentrado onde deve estar: no peixe.


Por outro lado, há algo que não podemos fazer nunca: desrespeitar o peixe! Trata-se de um animal que merece um tratamento digno, responsável, e …amigo. 
Os pescadores não odeiam os peixes que pescam, bem pelo contrário. Fotos com peixes submetidos a maus tratos, com facas espetadas, com um pé em cima, etc, não são mais do que manifestações de mau gosto e falta de respeito de quem os pescou. Ninguém gosta de ver uma foto dessas, e na melhor das hipóteses perdemos apenas uma oportunidade de conseguir uma boa imagem. Uma foto de pesca revela quase sempre a personalidade da pessoa que está ao lado do peixe. Bem sei que ainda há quem se reveja neste tipo de fotos, mas peço-vos que tentem nivelar comportamentos por cima, por manifestações de cultura, respeito e sabedoria, e não por atitudes baixas que vulgarizam quem as pratica. Infelizmente isso continua a ver-se a bordo de embarcações de pesca por esse mar fora. Por favor, pensem  nisto quando imortalizarem numa foto para a posteridade um lance que vos deu prazer, e que deve terminar de forma digna. Gostamos dos peixes e respeitamo-los. 

A bordo dos barcos GO Fishing, selecionamos pessoas pelo seu comportamento e posso assegurar-vos que uma atitude dessas termina sempre pela impossibilidade de essa pessoa voltar a sair connosco. Zelamos pela linguagem, pelo espírito de entreajuda, pela amizade, para que todos se sintam confortáveis: senhoras, crianças e gente que não espera pelo fim de semana para estravazar outras angústias. O ambiente a bordo é responsabilidade de cada um.  


 
Ao analisar esta foto, aquilo que vemos é um sargo, e isso é fruto da leitura que começamos a fazer da esquerda para a direita, e de cima para baixo. A seguir, os vossos olhos desceram para o olho do peixe, e a seguir fixaram-se na fateixa cravada na boca do peixe. Esta foto cumpre o propósito para o qual foi feita, o de dar a informação de que os sargos também se pescam com jigs pequenos. 
Fora do âmbito da foto está a identificação da pessoa, do barco, da costa, etc. Certo?!

Caso pretendam qualquer outro esclarecimento, estou disponível para ajudar. Utilizem o blog como ferramenta útil, porque ele foi criado para isso.


Vítor Ganchinho



1 Comentários

  1. Interessante, tanto o tema da fotografia como o tema do comportamento a bordo dos barcos :)

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