TEXTOS DE PESCA - A bexiga natatória dos peixes

Há países onde a pesca é feita com redes mosquiteiras. O peixe capturado tem 8 cm, ou menos, e isso é tudo o que aquele mar pode dar a quem trabalha muito. 
Utilizando este tipo de redes, as perspectivas de qualquer habitat poder melhorar, ou sequer manter-se, são rigorosamente nulas. Nada pode sobreviver a este tipo de pesca que extermina tudo o que existe, por pequeno que seja. 
Porque quando se chega a uma rede mosquiteira…estamos no último degrau da escada, a natureza já não pode fazer nada mais. A seguir, é o deserto, a ausência de vida no estado em que a entendemos, vida visível.  
Felizmente nós em Portugal ainda estamos numa outra fase, a de termos algum peixe para pescar. A chamada de atenção vai para a necessidade de sabermos respeitar os tamanhos mínimos, aqueles que garantem que o peixe capturado já se reproduziu pelo menos uma vez. Bem sei que quando pescamos, a tentação é grande, o peixe está na nossa mão e temos a possibilidade de o trazer para casa, basta querermos. 
Depende da nossa vontade que esse peixe, abaixo da medida mínima, viva ou morra. Não deveria ser sequer uma questão. Desde logo porque há uma lei que regula isso. E há uma entidade fiscalizadora do cumprimento dessa lei, a Polícia Marítima. 
E algo mais que está acima disso, que é a nossa consciência. Deveríamos ser nós os primeiros a entender que preservar o habitat onde pescamos é do nosso interesse, e a única medida que garante desde logo que poderemos pescar amanhã. 
E que os nossos filhos poderão continuar a fazer aquilo de que nós tanto gostamos. 
Na GO Fishing Portugal, a nossa opção foi a de banir por completo todos os tamanhos de anzóis pequenos, os chamados “anzol mosca”, que apenas servem para matar peixe miúdo, juvenil. Não os queremos vender. 



Anzóis de maior tamanho garantem à partida uma selecção de peixe de tamanho razoável. A FUDO, marca japonesa topo de gama que representamos em Portugal tem isso em atenção e sabe que para nós, não adianta propor anzóis para peixes de 6 cm, porque não os queremos. 

A escolha do anzol é um primeiro passo e pode ser decisivo. Há uma relação directa entre a escolha do anzol e o facto de termos peixes pequenos para libertar. 
Muitas vezes, quer queiramos quer não, não é possível devolver ao seu ambiente um peixe em boas condições de sobrevivência. 
Muitos dos peixes que pescamos, mesmo libertados, morrem no fundo, por ferimentos, ou pior que isso, por barotraumatismos de pressão. O peixe não consegue, no curto espaço de tempo de uma subida à superfície, equilibrar a sua bexiga natatória. Mas que é isso de bexiga natatória e para que serve?
Trata-se de um órgão que auxilia os peixes a manterem-se a um determinado nível de profundidade, em equilíbrio com o meio ambiente que os rodeia, nomeadamente a pressão da água. 
Sabemos que um mergulhador suporta uma atmosfera a cada 10 metros de descida. Assim sendo, a 40 metros de profundidade teremos 5 atmosferas de pressão. Incluímos a pressão atmosférica que temos fora de água, de valor 1. 

O saco chamado bexiga natatória, um reservatório de ar que estabiliza o peixe a um determinado nível de pressão.


A bexiga natatória é um reservatório flexível, que pode encolher ou expandir, em função da pressão. Se quiserem, voltamos ao mergulhador humano, que injecta no seu colete de mergulho mais ou menos ar, a partir da garrafa que transporta às costas. Se injecta demasiado ar, fica descompensado para o nível a que está, fica inchado, com muita flutuabilidade, e sobe para a superfície. Caso contrário, com o colete vazio ou menos cheio, tende a afundar, por falta de sustentação. Ao fazê-lo, Irá cair até ao fundo, porque a cada momento a pressão irá aumentar, reduzindo as suas possibilidades de subida. A bexiga natatória é um saco cujas paredes são forradas de cristais de guanina, e por isso é impermeável aos gases. Logo, pode receber mais ar, ou menos, e mantê-lo fixo no seu interior. O peixe respira através das guelras, obtém oxigénio, e consegue canalizar parte desse gás para a bexiga, aumentando a sustentação, flutuando mais. O processo inverso também é possível, através de um mecanismo que recupera este oxigénio para a corrente sanguínea, baixando o volume da bexiga, e consequentemente fazendo afundar o peixe. 
Existem peixes que, por não possuírem este órgão, fazem esta compensação de pressão através da quantidade de óleo que portam no seu fígado, o caso dos tubarões, e outros utilizam mesmo as suas reservas de gordura. O princípio é sempre o mesmo: manter o peixe estabilizado a uma determinada profundidade, sem esforço. É exactamente aquilo que faz o mergulhador humano, com ar a mais vem disparado para cima, com pouco ar no colete afunda. E da mesma forma que um mergulhador é obrigado a fazer patamares de descompressão a cada nível de pressão também os peixes os teriam de fazer para se adaptarem à diferença de pressão entre o fundo e a superfície. Acontece que nós estamos a puxá-los a uma velocidade superior à sua capacidade de recuperação. E por isso rebentam a bexiga, os olhos, etc. 
Muitas vezes, e dependendo da velocidade que imprimimos à nossa manivela de carreto, já estamos a matar o peixe antes de o ver. Estamos a condená-lo a um fim que, pese as nossas melhores intenções, é irremediável. Lançamos o peixe á água, mas ele não sobrevive. 
Nestas condições, o argumento de que “é pequeno mas está morto, vou levá-lo”, …não serve. O peixe, mesmo morto, deve ser lançado à água. Irá entrar na dieta de outros peixes, ou outros organismos. Por vezes esquecemos que as estrelas-do-mar, os búzios, são predadores que se alimentam de cadáveres de outros peixes. E esses peixes mortos passam a fazer parte da cadeia alimentar, fazem falta.
Trazer para casa com esse argumento de estar morto, não vale. É lamentar, e deixar lá, no sítio. Mas antes de lamentar, pode actuar sobre algo que está na sua mão decidir: comprar anzóis de tamanho suficiente para seleccionar os exemplares de tamanho regular. 

Isto é aquilo que se pesca em zonas do globo que já não têm mais nada: peixinhos de 8 cm. 


Entendo a desmotivação de um pescador de linha que vê a fileira dos pescadores profissionais trazer a terra peixes que obviamente não tiveram a oportunidade de reproduzir. Sentimos revolta. 
Vejo no mercado peixe galo com 15 cm de comprimento. Ou vejo polvos com oito centímetros. E isso é matar o futuro. 
As medidas mínimas deveriam ser válidas para todos e em qualquer circunstância. Mas não são, a verdade é que não são, os profissionais mostram uma indiferença desanimadora sobre este assunto. 
Podemos actuar, nós pescadores de linha, sobre aquilo que depende de nós e das nossas atitudes. 


Vítor Ganchinho




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