TEXTOS DE PESCA - Monstros marinhos - Capítulo IV

Continuamos a tratar dos poderosíssimos pargos lucianos, os nossos peixes da semana. Aqueles que povoam o imaginário dos nossos pescadores de jigging, mas que, muito sinceramente, e é apenas uma opinião pessoal de quem já os viu de perto, e de quem já caçou alguns a tiro, acho que nunca terão muitas possibilidades de vir a fazer um destes peixes. Acredito que seja possível até aos 30 a 35 kgs. A partir daí, o pescador passa a ficar demasiado dependente do local onde consegue uma picada de um destes peixes. À linha, ferrar um peixe destes é muito parecido com ferrar o comboio de Sintra. 

Pargo Luciano de 80 kgs de peso. Embora os antigos pescadores de redes senegaleses falem de pargos de 100 kgs, não há registos fotográficos disso.


Verdade também que onde há pargos destes dificilmente há câmaras fotográficas….são locais em África muito remotos, muito afastados da civilização. 

Falamos de um pargo que tem uma particularidade interessante: as suas escamas são bastantes grossas e sobrepostas de uma maneira que os arpões de caça-submarina não penetram facilmente. 
É de tal forma que posso assegurar-vos que uma arma normal, digamos que preparada para caçar robalos, não tem qualquer possibilidade de fazer mal a um destes pargos.  

Tentar caçar pargos lucianos com uma arma para robalos é pouco mais que uma brincadeira. É de rir. Vítor Ganchinho, novinho, com robalos algarvios. Coloco a foto para que vejam o quanto é absurdo falar de peixes bons, quando comparamos realidades diferentes.


As armas de elásticos são manifestamente insuficientes, a não ser as que dispõem de dois ou três pares de elásticos, concebidas para o feito, porque o peixe é demasiado rijo, as suas escamas são tão fortes que os arpões entram um pouco e são rechaçados para o exterior. Eventualmente poderá entrar até à altura da barbela, o que não chega nem de perto para segurar um bicho destes. 
Na melhor das possibilidades, conseguimos arrancar-lhes uma escama. 
Por isso, cada vez mais as armas de pressão de ar são utilizadas, porque, pese embora a sua menor facilidade de deslocamento dentro de água, permitem chegar mais longe e penetrar mais. 

Este luciano foi abatido pelo Cherif Sow, com uma arma de pressão.


Poderão ter uma ideia do poder destes peixes, se eu vos disser que com alguma facilidade, arrastam um mergulhdor pelo fundo do mar. Conseguir arpoá-los não significa, nem de perto, tê-los na mão. 
Da mesma forma, acredito que um pescador português, com uma cana normal, um carreto normal, e uma linha forte, poderá, se tiver azar, ver partir a cana, ver saltar todas as peças do carreto, e com um pouco de sorte, não se aleijar. 
Estes peixes são para quem está preparado, para quem sabe, e quem tem a sorte de os encontrar numa área que seja favorável, com pouca rocha alta. 

Detalhe dos dentes. Os grandes pargos lucianos, os “Djabars” africanos, têm dentes que se assemelham aos nossos cães pastores alemães.


O Mohamed foi mordido por um, e furou-lhe o dedo. Levou minutos à espera que abrisse a boca, para poder retirar a mão….

Não parece, mas este pargo tem 50 kgs. Parece ter menos, mas isso deve-se ao ângulo da foto. O meu amigo tem 1.90 mts de altura. A cabeça deste peixe pode ser vista nas instalações da GO Fishing Portugal, em Almada. 


Conto-vos a história: 

Na altura da abertura da nossa empresa, eu queria ter uma cabeça de pargo, que pudesse mostrar como são grandes os dentes deste peixe. 
Liguei para o meu amigo, e lancei-lhe o desafio de ir, nesse dia, caçar um peixe para lhe retirar a pele, a carne, e mandar dentro de uma caixa os ossos, devidamente montados e colados com cola  Araldite. Ele, que tinha chegado do trabalho  a essa hora, barafustou a dizer que estava cansado, que tinha mergulhado a manhã toda. Ou seja, teria andado a matar peixe toda a manhã, porque essa é a sua ocupação. Porque insisti muito, dizendo que tinha poucos dias para a abertura da loja de Almada, ele, que é bom rapaz, acedeu a fazer uns mergulhos extras, saindo da praia numa prancha velha, partida, que costuma utilizar para ir caçar o jantar, quando a família quer peixe pequeno. Digo-vos que o Cherif mora a 20 metros da praia, perto da ilha de N´Gor. Ele vai arpoar o jantar a não mais de 30 ou 40 metros de casa. Saiu com uma arma, uma máscara, um tubo, em calções de banho, e uma pequena corda enrolada à cintura. Daí a meia hora, estava de regresso, com dois peixes. 
Um teria cerca de 35 kgs, o outro tinha, pesado numa balança profissional, 50 kgs certos. É a cabeça deste que está em Almada, nas nossas instalações. Fêz dois tiros, num buraco amplo, a apenas 12 metros de profundidade, onde se escondem durante o dia os pargos lucianos, para sairem ao anoitecer, para caçar. Esse buraco, que eu conheço bem, fica a …300 metros da sua casa. Do lado de fora da ilha. 
Quantos de nós temos pargos destes a dez minutos de casa?!!!!!!
Mandou-me as fotos e perguntou-me se já estava bem assim, ou se valia  a pena esperar mais uns dias, para poder encontrar algum pargo maior….entenda-se com mais de 50 kgs…


Vítor Ganchinho




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