Hoje, para inÍcio de hostilidades, vamos “cavaquear” sobre um peixe que raramente nos aparece nas águas continentais, mas que não é impossível, um pouco ao largo, em águas azuis: o dourado.
O Coryphaena Hippurus, é um dos mais rápidos peixes dos oceanos, 92 km/h na água é muita “guita”, e isso desafia a resistência das nossas linhas e anzóis.
É ao mesmo tempo um peixe estranho, um alien dos mares. As fémeas são bem mais normais, os machos apresentam um dismorfismo sexual que os torna únicos, com a sua bossa frontal, que torna a sua cabeça algo quadrada.
Dourado de 15 kgs, não pescado. Sai da boca, embora seja dificilmente visível, um troço de fio de nylon verde de 1mm, cortado após a captura. |
É um peixe que vive cerca de 4 anos, e alimenta-se sobretudo de peixes voadores, lulas, carapaus e outros pequenos peixes com actividade pelágica. Tem uma taxa de crescimento extremamente rápido, e alimenta-se como se não houvesse amanhã. Come tudo o que encontra, sempre que possível, o que o torna muito acessível às nossas amostras.
Pescar este peixe com isca orgânica é um absurdo porque é indefeso, pica sempre. Logo, a sua captura não tem qualquer mérito.
Em determinadas zonas do globo é portador de ciguatera, sendo impossível o seu consumo. De resto, é excelente na cozinha, e faz um carpaccio incrível, com limão e alcaparras.
Dourado de 33 kgs, capturado a tiro pelo meu amigo Mohamed. Este peixe pode ser record africano. |
O “Dourade Coryphene” do Senegal é um peixe que se pesca sobretudo com aparelhos de big game, e acaba por ser um by-catch da pesca ao peixe-vela. É muito frequente aparecer quando as águas estão calmas e limpas.
Tem como característica interessante o facto de utilizar como ponto de partida para as suas incursões de caça, objectos flutuantes. Uma árvore, uma palete, uma esteira de palha, uma caixa de plástico, um contentor caído de um navio mercante, tudo lhe serve para tomar esse ponto como a sua referência. Não abandona o local, entendendo-o como refúgio, abrigo e ponto de caça.
O peixe da foto acima foi capturado a partir do nosso barco, quando arrastava um aparelho de pesca flutuante. Os senegaleses pescam os dourados e os peixes-vela largando umas dezenas de bóias com um fio curto, não mais de 5 metros, com um anzol e uma isca, normalmente uma sardinha.
O peixe chega, pica, engole o anzol e arranca do sitio. O “pescador”, atento na sua piroga, vê a bóia partir a grande velocidade, liga o motor e segue-a, até a conseguir alcançar. Depois de içar o peixe para dentro, repete o processo, volta a iscar e lança a bóia no meio das outras.
Quando acontece a passagem de um cardume, muitos peixes ao mesmo tempo, pode acontecer que algumas bóias sejam perdidas, a piroga não pode seguir todas ao mesmo tempo. Foi o caso deste peixe, que iria arrastar a boia até morrer por esgotamento.
Vítor Ganchinho com um pequeno dourado. |
Neste dia, passei ao lado de uma excelente oportunidade de pescar peixes de grande tamanho. Debaixo de uma grande bóia metereológica detectei uma dezena de peixes acima de 15 kgs. Estavam calmos, e eu preparei o equipamento de pesca spinning com um vinil. O barqueiro aproximou o barco demasiado. Disse-lhe para recuar, porque não queria estar tão perto.
Infelizmente o Doune atrapalhou-se com os comandos e em vez de meter marcha atrás, meteu marcha avante e acabou por esbarrar na bóia, com estrondo, fazendo um buraco na proa. Pior que isso, afugentou os peixes!
Algumas horas depois, voltámos ao local mas apenas este pequenote estava na zona. Foi libertado.
Vítor Ganchinho