TEXTOS DE PESCA - Monstros marinhos - Capítulo V

Sim, tirei esta semana para vos trazer imagens e histórias de peixes de dimensões menos usuais no nosso país. 
Hoje, para vocês desenjoarem de pargos, trago-vos barracudas para a mesa. 

Uma barracuda de 40 kgs. Já vos disse que o meu amigo Cherif tem 1,90 mts de altura?


Pois se querem saber algo mais sobre barracudas, aí vai: 

Trata-se de um predador com mandíbulas poderosíssimas, que cortam como navalhas, e que pode ser francamente perigoso para o homem. 
Quando falo de pessoas, não me estou a referir ao Cherif, que tem mais de peixe que de pessoa. Ele tem uma apneia de cerca de seis minutos e é um dos melhores no meio dos melhores caçadores mundiais. 
Para que tenham uma ideia, O Cherif foi campeão nacional do Senegal de caça submarina, a concorrer com seiscentos profissionais. Em quatro provas, ganhou três. Estamos a tratar de caçadores submarinos profissionais, que vão ao mar todos os dias da semana, horas e horas. Aquilo que os obriga a caçar é a responsabilidade de terem de garantir sustento para as suas famílias, sendo que não é raro terem ….uma dúzia de irmãos. 
Lembro que os senegaleses, por terem muito mais nascimentos de mulheres que de homens, podem casar legalmente com quatro mulheres. O Cherif tem 17 irmãos e irmãs. Para garantir roupa, comida e medicamentos para toda a família, ele tem de mergulhar. 

Um naipe de barracudas que pode ser, com um pouco de sorte, vendido por alguns CFA`s, a moeda local que é comum a vários países africanos. Quando não há compradores, oferecem-se, ou trocam-se por qualquer outro objecto, ou algum serviço necessário, por exemplo alguns litros de gasolina, ou um pacote de manteiga, uma garrafa de água. 


Vitor Ganchinho com uma barracuda caçada em espera, a 20 metros de fundo. Notar que se trata de um animal que teve um encontro mau, em principio com o homem, enquanto jovem. A mandíbula superior sofreu uma compressão durante a fase de juvenil. É frequente que fiquem presas em redes de nylon para sardinha, e que, por serem demasiado pequenas para ser vendidas, sejam libertadas, sem qualquer cuidado. Neste caso, o peixe conseguiu sobreviver e sarou as mazelas, vindo a ter um crescimento quase normal.


As barracudas crescem nos mangais, e aí permanecem durante algum tempo, até terem corpo suficiente para enfrentar os perigos da vida marinha. Os estuários dos rios, os mangais, são os grandes criadores destes peixes. 
Dão-se muito bem em águas turvas, onde caçam com facilidade. No Senegal, a chegada das águas quentes, (o mar fica a 31ºC!!), taz com elas estes peixes, bem como alguns carangídeos, pargos lucianos, cobias, etc. 
É  a fartura de alimento que as atrai, as sardinhas locais, de maior tamanho que as nossas, mais pesadas, mas de qualidade gastronómica muito inferior. Basicamente são um monte de espinhas, pouco saborosas. Mas os peixes de lá ainda não experimentaram as nossas, logo, está tudo bem.  São secas ao sol, e vendidas para as localidades do interior, longe do mar, onde a proteína é escassa. Pese embora o seu cheiro nauseabundo, são muito apreciadas. 


 
Há inúmeros registos de ataques violentos a mergulhadores, por parte destes animais. Quando arpoados, existe uma preocupação imediata de sair do seu raio de acção, fazer com que exista alguma distância, e isso consegue-se apenas subindo ao barco. A seguir o peixe é içado, e o problema resolve-se. Eu recordo-me de fazer excelentes caçadas de peixe, ao lado deste tipo de embarcações, quando estão a fazer a recolha das redes com que capturam sardinha. Há sempre algumas demasiado moídas, esmagadas, cortadas ao meio, ou inclusive que conseguem sair da rede pelos buracos, e que são esperadas pelas “carangues”, pelos peixes vela, e por outros peixes, os tazards, whaoo`s, etc. Mergulhar ao lado de uma destas pirogas profissionais é uma aventura, e dá sempre para ver algo de interessante. 

Voltarei a este tema, para vos contar mais detalhes.


Vítor Ganchinho



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