Quando saímos do nosso cantinho, deparamos muitas vezes com o insólito, com aquilo que nos é estranho, no fundo com outras culturas, outras formas de ver o mesmo assunto.
É disso que vos trago aqui alguns excertos, para que vejam que para problemas iguais, o ser humano encontrou outras formas de resolver, soluções diferentes.
Mohamed Sow, com um veleiro capturado mesmo perto de sua casa. Enquanto que nós vamos ao supermercado, ou à peixaria comprar peixe, há pessoas que saem no seu barco para ir a algumas centenas de metros, fazer o peixe do almoço. O peixe-vela não acontece todos os dias, não é uma captura banal, mas em determinadas circunstâncias, sobretudo quando existem pirogas profissionais de pesca a operar à sardinha, é muito corrente que estes peixes apareçam para aproveitar os restos, e fiquem na zona. E que se deixem ver.
Reparem na instabilidade da piroga, e no entanto para eles é como se estivessem em terra firme.
Estas pirogas saem ao mar diariamente para fazer peixe. Não esqueçamos que a electricidade é um bem que existe, mas é escasso, instável, e paga-se. Por isso grande parte destas pessoas não tem um frigorífico.
Assim sendo, …vai ao mar. O peixe está sempre lá. Para quem mergulha, é muito corrente, sobretudo de Inverno, não ter de fazer mais de 30 ou 40 metros na água para encontrar um badejo, um pargo, a uma profundidade de poucos metros.
No fundo, o mar substituí o frigorífico. Nesta foto, a cidade de Dakar ao fundo.
A saída de mar é muitas vezes bastante curta. Nem sempre o alvo são peixes, pode acontecer uma apanha de ouriços, ou de haliótis, ou “Orelhas de Neptuno”, que são apreciadas pelas suas qualidades nutritivas. Proteína, sais minerais, ….está lá tudo. A piroga acima prepara-se para sair, mas não vai longe, vai antes da rebentação que vêm, onde há um recife natural, fazer uma apanha de lapas. Serão posteriormente distribuídas por todos.
Quando a captura é bem sucedida e dá mais do que o necessário para o dia, é corrente que as mulheres senegalesas se ocupem da venda, num dos mercados da zona. Falamos de proteína, e isso num país semi-desértico é muito importante. Os preços não são altos, mas não esqueçam que os produtos estão acessíveis a quase toda a gente. Comprar é uma mera questão de comodidade e conforto.
Esta senhora apanha ouriços, lapas, eventualmente alguma lagosta, nos baixios. Escolhe a hora mais favorável da maré, para poder ir a andar pelas pedras, a “catar” aquilo que o mar decidiu mostrar de uma maré para a outra. Há sempre algo, e esse algo é o jantar desta família.
Preparação de ouriços no fogo. Por uma questão de tornar mais apelativa a venda, os ouriços são despojados dos seus espinhos.
Ei-los, preparados para vender em molhinhos, a unidade de venda. Podem ser trocados por outros produtos.
Em regiões interiores, a distância ao mar obriga a soluções alternativas, como a seca de peixe. Digo-vos que o cheiro é “activo”, mas esta é de momento a única forma de conseguir proteína. Estas pessoas não têm um supermercado por perto. Deixem-me dizer-vos que para ir a este mercado, as senhoras vestem os seus melhores trajes, e vão tão engalanadas quanto podem pois é uma oportunidade de mostrar às outras mulheres algo de novo, e sobretudo a possibilidade de conseguir um marido. Existem muito mais mulheres que homens, o que torna a concorrência algo feroz. Cada homem pode casar com 4 mulheres, e coabitam pacificamente.
Vítor Ganchinho