TEXTOS DE PESCA - Doenças e outros problemas

Em África, no que diz respeito a doenças transmissíveis, mesmo em zonas marítimas, uma das mais perigosas é sem dúvida o paludismo, ou malária, e pontifica em regiões como a Guiné Bissau, Angola, S. Tomé e Príncipe, etc. 
O processo é sobejamente conhecido, e começa por uma picada de um mosquito, numa pessoa infectada. O sangue contaminado é sugado, e fica dentro do mosquito. Quando outra pessoa é picada, há passagem dessa infecção, perpetuando a doença.  
Foi feita uma campanha muito cerrada em S. Tomé, tentando arrumar de vez a questão. Dado que o parasita que se aloja nas fêmeas de mosquito Anófeles apenas resiste durante cerca de 3 a 4 semanas, seria expectável que conseguindo eliminar a doença durante o período de vida do mosquito, fosse possível erradicar a malária. Apenas as fêmeas picam o homem, pois são as únicas que se alimentam de sangue. Os machos têm uma esperança média de vida de 1 semana, e alimentam-se de néctar de plantas. Preferem ambientes húmidos, com temperaturas na ordem dos 20 a 30ºC, e isso é corrente em África. Não sobrevivem muito tempo a temperaturas abaixo de 15ºC, e por isso acabam por não ser um problema sério em Portugal. Mas ocasionalmente temos! Se quiserem que vos diga algo mais sobre isso, posso dizer: 

O arroz foi introduzido em Portugal pelos árabes, por volta do ano 700 DC, aquando da sua ocupação da Península Ibérica. Os primeiros registos de efectiva cultura portuguesa de arroz datam do reinado de D. Dinis, sendo nessa altura um alimento exclusivo dos ricos. No tempo do Marquês de Pombal, foi decidido apostar neste tipo de cereal, e foram dados incentivos para que a sua produção fosse intensificada. Acontece que sendo um cereal que necessita de crescer em zonas alagadas, de água parada, isso propicia a criação de mosquitos. Morriam centenas de pessoas ligadas ao tratamento do arroz, devido a uma estranha doença que ninguém conhecia. Os portugueses que trabalhavam nas zonas estuarinas do Vouga, Mondego, Sado, Guadiana, não a suportavam durante muito tempo e faleciam. O Marquês de Pombal, com poder de decisão à época, resolveu importar escravos do Brasil, concretamente de S. Salvador da Baía, os quais tinham resistência a essa doença. Esses escravos brasileiros eram por sua vez descendentes de escravos africanos, que conviviam com a malária desde sempre, e por isso, tinham nos seus genes a capacidade de lhe resistir. Por outro lado, e porque vinham do Brasil, alguns deles já eram de pele ligeiramente mais clara, uma mistura de africanos com brasileiros, brancos ou mestiços. Acontecia que alguns eram quase negros mas com olhos verdes ou azuis. Muitos deles conseguiram fugir dos campos de arroz de Alcácer, e passavam para zonas menos povoadas do Alentejo. E aí se misturavam e reproduziam. Ainda hoje há zonas onde as pessoas têm uma predominância de olhos verdes ou azuis, nomeadamente Galveias, no Alentejo. Essas pessoas são descendentes remotos desses escravos fugidos.   

Um banho retemperador no mar ajuda a refrescar do calor, e a manter a pele saudável, livre de parasitas. A minha família e dois amigos da pesca.


Voltando a S. Tomé e Príncipe, e à questão do paludismo, como dizia foi feita uma campanha muito forte, no sentido de conseguir que toda a gente estivesse tratada ao mesmo tempo. Sem doentes infectados, seria expectável acabar com a doença em dois meses. As boas intenções de todos aqueles que financiaram essa campanha de erradicação esbarraram num detalhe: uma grande percentagem da população a quem foram gratuitamente oferecidos os medicamentos preventivos, não os tomou, preferindo guardar para posteriormente os vender a quem viesse a adoecer. E por isso, continua a haver pessoas infectadas, e os mosquitos continuam a estar infectados, e a infectar outras pessoas. A malária a nível global mata cerca de 1 milhão de pessoas por ano, seguramente muito mais que o COVID.

Ruas de N`Gor, a norte de Dakar. As zonas alagadas são potencialmente criadoras de grandes quantidades de mosquitos.

 
A seguir a uma chuvada, estas ruas, por vezes com um metro de largura máximo, ficam inundadas. A época das chuvas traz ainda um outro pormenor: o coaxar das rãs, que não nos deixa dormir à noite, porque se juntam aos milhares nas poças de chuva, aproveitando o pouco tempo em que têm humidade para acasalar. Recordo que estamos num país muçulmano, e que por isso toda a gente acorda por volta das 6 da manhã, para rezar. Esta reza, virados para Meca, é feita cinco vezes ao dia. 

Forma de passar sem molhar os sapatos: pedir ajuda a um amigo. Os locais andam frequentemente descalços, passam sempre.


Os pés arejados ajudam a reduzir o problema de fungos, já que a humidade é muita.




As populações que vivem junto ao mar, acabam por, a bem ou a mal, passar frequentemente com os pés na água salgada. Os caminhos mais curtos para ir “às compras” a isso obrigam.

Este contacto com o mar ajuda a reduzir certos tipos de doenças. Por contra, o facto de transportarem cargas pesadas à cabeça certamente que não será o mais indicado para as vértebras do pescoço. 



Vítor Ganchinho



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