TEXTOS DE PESCA - Ficar empanado em África

Já vos disse que os táxis são algo de tremendo. Todos eles, não interessa se são carros ligeiros, carrinhas, o que seja: são tenebrosos na sua capacidade de nos deixar empanados quando menos se espera.
Não me refiro ao facto de terem fotografias do profeta, nem caixas para gorjetas, ou inscrições em árabe que são frases de ânimo, para dar sorte. Isso nós aguentamos bem. 
É algo bem pior, e também não tem a ver com o barulho, porque os motores trabalham a 3 cilindros, se os tiverem, mas o ruído nós aguentamos igualmente bem. 
Tem a ver com os motores e com a possibilidade de ficarmos dentro do carro no meio de uma fila com centenas de outros carros que buzinam até sairmos dali. E não podemos sair. Os gases que saem daqueles motores matam um pardal que voe descansado a trezentos metros de altura. 
Pode ver-se o chão pelos buracos, os vidros há anos que estão partidos, ou não existem. Não é de espantar que a porta caia para o lado, quando a tentamos fechar. As peças são recuperadas de outros carros que já não andam mesmo. 

Falamos de carros que são enviados via marítima para Dakar, a partir de França, viaturas com 30 a 40 anos. Aquilo que e  França seria um monte de chapa amolgada para deitar para a reciclagem, ali é um carro “novo”!
Os preços de compra destas viaturas “novas” variam entre os 150 e os 300 euros, valor que pode ser amortizado se o carro fizer trabalho de “táxi” durante algum tempo. Esse é o objectivo. 
Porque são caranguejolas velhas, os “achaques” acontecem a cada instante, e alugar um carro “aqui” não quer dizer que ele seja o mesmo em que vamos chegar “ali”. 
A mudança de viatura é feita para outra que pode não aguentar por sua vez a segunda parte do trajecto. Os mecânicos senegaleses trabalham basicamente com recurso a algumas rudimentares ferramentas e a vudu. 
Acredito muito sinceramente que para resolver os problemas daqueles carros, poderiam dispensar a parte das ferramentas. Um feitiço bem dirigido a um prato de embraiagem pode eventualmente resultar, enquanto que com um alicate pouco se pode fazer. 

Momento em que chegámos à conclusão de que iríamos necessitar de uma segunda viatura para seguir viagem. Nem quero olhar, mas os meus carretos Saltiga e as minhas canas de carbono estavam ali, a andar ao “rebolão”….


O equivalente à nossa Norauto, ou um serviço de assistência em viagem que deixaria o Automóvel Club de Portugal  a babar-se de inveja. 


Mudança quase concluída, numa nova viatura que vos posso agora dizer que aguentou os últimos 3 km do percurso. Porque é “nova”.


Na verdade, a primeira viatura não era má. É o tipo de carro que queremos oferecer à nossa sogra, se não gostarmos dela, serrando o cabo dos travões. 
Mas tinha um pequeno problema: Não podia parar, sob pena de termos de empurrar para que voltasse a ligar o motor. E isso implicava termos de sair do carro, empurrar com alma, e a seguir sermos capazes de conseguir entrar em andamento. Vejam o video: 



Por vezes, há obstáculos que são intransponíveis: uma portagem, por exemplo. Como pagar sem parar o carro na portagem? Pode ser feito, vejam aqui: 



No fim de tudo, é África no seu melhor e quem lá vai tem de estar preparado para a guerra. Quando se pensa que já tudo aconteceu, devemos antes pensar que pode sempre piorar. 
E contra uma série adversa de problemas, a atitude é levar na desportiva, aguentar, elevar o espírito e cantar. Vejam este video, onde Raúl Gil nos canta e encanta em castelhano:




Vítor Ganchinho



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