Quantas vezes saímos para o mar e pensamos que vai ser um dia normal, como tantos outros. E de repente, algo acontece que muda por completo o figurino das coisas, e passamos a ter de inventar soluções. Recordo-me de ter saído de Setúbal e ao chegar à minha zona de pesca favorita, ter encontrado tudo cheio de caranguejo pilado. Nuvens deles!
Fazer peixes nestas condições é sempre mais difícil, pela fartura que o peixe tem de comida e pelo desinteresse que evidencia pelas nossas amostras. Resolvi tentar com uma cana de pesca vertical. Eu quando saio ao mar levo uma remessa de canas diferentes, que me dão possibilidades de pescar de formas distintas, em função daquilo que se está a passar. Naquele dia, o caranguejo era rei, pelo que foi com isso que tentei fazer o peixe do jantar.
E ele apareceu, um bonito pargo, a entrar ao caranguejo pilado, como era presuposto. Mas este artigo tem a ver com insólitos, e por isso esta captura não podia ser só assim.
Quando estava a subir o peixe, que de resto nem puxei demasiado rápido, percebi que o animal tinha dado umas golfadas de ar e água. Por vezes acontece.
Pois bem, soltou-as no barco, assim que o virei de cabeça para baixo. Veja o filme:
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O meu amigo Raúl saiu a pescar junto ao paredão do porto de Valência. A ideia era testar uma cana Okuma de 80 lb, a qual, com o seu efeito muito parabólico, não deixava antever grandes resultados. Desde logo pelos seus passadores muito fracos, mas ainda assim, os possíveis para uma cana de 35 euros! Carreto tamanho 3000, cheio com linha de 12 lb, e um terminal de nylon de 0.30mm, no qual montou um Sandeel Savage, em vinil. A roçar a amostra pelo fundo, teve um toque. Tinha a pesca presa em algo que se movia, mas não cabeceava.
Com um conjunto nitidamente fraco, absurdamente fraco, trabalhou “aquilo” o melhor que conseguiu, e daí a minutos, tinha à superficie uma raia mariposa de cerca de 30 kgs….que se apressou a soltar para a água.
Saí para a pesca com o meu grande amigo José Martins. Filho de pescador veterano dos chocos do rio Sado, o Zé tinha sobre a pesca a visão barco/ água que é corrente.
Para ele, em todo o lado deveria haver peixe, e tinha a firme convicção de que em qualquer lugar poderia saltar um peixe muito grande. Na verdade não é assim, o peixe concentra-se em zonas onde pode comer, reproduzir e estar em segurança. Não necessariamente por esta ordem…
Nesse dia, o Zé estava com uma grande fezada! Dizia-me: _ Hoje sinto que vou ficar na história!...
Fiquei a pensar que podia cair ao mar e nunca mais ser visto, mas isso não o tornaria único. Daí a pouco, com a sua inseparável pesca de mão, (antigamente os marítimos pescavam com uma linha que enrolavam numa cortiça, com um anzol simples) saca um rascasso que o deixou a poucas gramas da eternidade.
Zé Martins, com um rascasso excelente para fazer no forno : 1.340 kgs! |
Por vezes, ferramos um peixe e logo a seguir sentimos que há algo de estranho. Por vezes, são pancadas a meia água e fica apenas por isso, nunca sabemos bem o que poderá andar por lá.
Na maior parte das vezes serão tintureiras, cações, mas também podem ser peixes da mesma espécie, maiores, que atacam os mais pequenos.
O meu amigo Gustavo Garcia, com um peixe espada a quem alguém comeu parte. Quando chegou à superfície vinha assim…. |
Vítor Ganchinho