Na sequência de artigos anteriores sobre viagens a países estrangeiros, gostaria hoje de abordar um assunto que me parece importante para quem sai do nosso país para ir pescar.
Vai seguramente encontrar uma realidade diferente, pessoas com diferentes formas de pensar, de fazer, com tradições que não coincidem com as nossas. Nem era pressuposto que coincidissem.
O respeito é algo que tem de estar sempre acima de tudo, e uma constante em tudo o que fazemos. Somos nós os estrangeiros, somos nós aqueles que têm de se adaptar, por mais estranhas que sejam as circunstâncias.
Um dia de trabalho para uma pessoa que faz da pesca a sua profissão. |
Por vezes, os proprietários de grandes barcos, sobretudo pessoas que trabalham na banca, nos casinos, etc, convidam um destes profissionais para que utilizem os seus barcos pessoais.
Isso convém ao pescador, que nesse dia não gasta dinheiro em gasolina, e apenas cede uma pequena parte da sua pescaria ao anfitrião. Por outro lado, e porque se tratam sempre de embarcações muito bem motorizadas, aproveita para ir a locais mais longínquos, aos quais não iria se tivesse de pagar a gasolina, e por isso reduzir os ganhos do trabalho desse dia.
Recordo um caso de uma pessoa do Algarve que me solicitou ajuda para estabelecer a ponte com um dos meus amigos locais, que faz da pesca o seu modo de vida.
Dei o meu suporte naquilo que me era pedido, e passados meses, vim a saber que a digressão ao Senegal não tinha resultado bem, que tinha sido uma grande decepção. E procurei saber porquê.
A pessoa em questão tinha como propósito ir ao Senegal fazer caça submarina durante 8 dias.
Vim a saber à posteriori que o objectivo afinal era o de caçar peixe para vender localmente, pagar a viagem, a estadia e trazer algum dinheiro de volta. Correu mal!
Os profissionais senegaleses, a exemplo de todos os outros, não aceitam levar sem custos alguém nas suas embarcações que pretenda pescar ou caçar nas suas zonas de trabalho, e que tenha como propósito ganhar dinheiro com isso. E obviamente, ao saber o que era pretendido, “encurtou” a primeira saída, e a partir daí, o motor do barco “avariou”, e deixou de ser possível sair ao mar. Por mais argumentos que o nosso conterrâneo português esgrimisse, a pessoa nunca conseguiu solucionar os “problemas” que tinha. E não voltaram a sair. Foi passada a palavra e em poucas horas, todos aqueles que lhe poderiam alugar um barco, …ficaram impossibilitados, por isto ou aquilo. Passou a sair a partir de terra, à barbatana, e fez aquilo que se pode fazer nessas circunstâncias, ou seja, uma pesca de subsistência. Adeus grandes pescarias.
Sermos capazes de entender a mentalidade e interesses daqueles a quem nos dirigimos, é o primeiro passo para que tudo corra bem.
Ser simpático, ser prestável, ajudar naquilo que é possível, tudo isso desbloqueia situações que poderiam complicar-se.
A minha mulher gosta de estar em África. Tem lá muitos amigos, e deixa saudades naquelas famílias, pela sua atitude simples e amistosa.
Procura levar sempre medicamentos e outros bens que dificilmente podem ser conseguidos naquelas paragens, auxilia com informações, mostra como se faz na Europa.
O autor, preparado para, depois de um duro dia de pesca, ir jantar com uma vestimenta local, o “Boubou” tradicional. |
Ser convidado para ir comer a casa de um local é um privilégio, e deve ser entendido com uma grande prova de amizade.
Normalmente come-se sentado no chão, à volta de uma gamela, onde a base são os inevitáveis “couscous”.
A comida em restaurante é possível, e cada vez mais existe abertura para pedir para que o peixe a cozinhar seja o nosso, aquele que pescámos nesse dia.
Deixar boa impressão por onde passamos, conquistar o coração daquelas pessoas, é a chave de uma saída de pesca bem sucedida. O peixe está sempre lá e vem por acréscimo.
Vítor Ganchinho