TEXTOS DE PESCA - Marlins para turistas, ou braços com força!

O Marlin é um peixe de sonho. Para muitas pessoas não passa de uma miragem, e o mais provável é que nunca venham a avistar um único durante toda a vida. 
Bem mais comuns noutras paragens, os marlins gozam de um estatuto à parte dentro da gama de peixes de bico que andam lá por fora, em águas abertas. 
Não basta querer um, há que conseguir conjugar uma série de factores, desde um bom arsenal de pesca grossa, canas de 130 libras, grandes e robustos carretos de tambor móvel preparados para grandes esforços, boas linhas, bons barcos equipados com cadeiras de combate, e tudo aquilo que pode possibilitar que se tenha êxito numa missão tão espinhosa. A GO Fishing Portugal será porventura uma das poucas empresas nacionais com este tipo de equipamentos permanentemente em stock, na sua loja de Almada. 

Este peixe é impressionante pela sua disponibilidade física, capacidade de combate, e matreirice. 


Para além disso, há ainda o factor económico: pescar um marlin é caro, para a bolsa comum. As despesas de gasolina para um ou vários dias de pesca são avultadas e nem vale a pena pensar nisso se tiver poucos recursos, ou se contar os últimos dias até receber de novo o seu salário. Na maior parte dos países que os têm, o custo de uma saída diária de pesca ao marlin não é inferior a 3500 euros. 
Estima-se que a pesca grossa tenha um movimento anual de 25 mil milhões de euros, na Europa, entre hotéis, aluguer de embarcações, restaurantes, equipamento, etc . Há muita gente que vai para destinos exóticos apenas para fazer este tipo de pesca, sendo que os temos, e bons, nos Açores e na Madeira. Mas repito, é uma pesca que tem muito mais dias maus que bons, e não ter um toque numa semana inteira não é nada de extraordinário…. e o contador de notas não pára. 
Pela sua escassez, trata-se de um peixe que deve ser pescado e de imediato libertado. Embora não existam muitos dados, a taxa de reprodução não será certamente elevada, e matar um animal destes é interromper uma sequência positiva de procriação. 
O catch& release não é obrigatório em termos legais, mas deveria sê-lo sempre em termos morais. Há um acordo tácito entre a classe de pescadores de marlins que impõe a sua libertação, excepto em casos em que o animal morre durante o combate. 
Nesses casos é de bom tom oferecer o peixe a uma instituição de solidariedade social. Por outro lado, é ponto assente que quem pesca desportivamente um destes peixes não o faz para dele se alimentar, nem necessita disso. 

A pesca do marlin no Senegal é essencialmente para turistas que querem viver emoções fortes, com carteiras bem recheadas.


Mas há excepções!  A pesca profissional não ignora esta fonte de recursos, e eu já tive à minha frente exemplos suficientes para o poder afirmar. 
Conheço mesmo um jovem pescador senegalês que se especializou nesta pesca e vê nestes peixes uma fonte de receita segura. Neste caso, tudo muda de figurino e o peixe é sempre rebocado a terra. 
Pescar um destes peixes a bordo de uma pequena piroga é antes de mais um acto de coragem e alguma loucura. 
Os riscos de acidente são de tal forma elevados que poderíamos contar pelos dedos aqueles que o conseguem fazer durante anos sem registar um acidente. Mais que isso, estamos a falar de um peixe que mata, os acidentes são muitas vezes fatais. 
Os relatos de pescadores a quem entrou um marlin pelo barco a dentro, não são raros. Tentem imaginar um pequeno barco com um monstro que pode ter mais de 500 kgs no seu interior. O momento em que se consegue aproximar o peixe da embarcação gera emoção, e …medo, porque podem saltar dentro do barco, têm poder para isso.  Pela potência, pela disponibilidade física que apresentam, os marlins são um peixe para quem está muito bem equipado, ou mais vale deixá-los longe, na sua vida de comedores de atuns….e pampos. 

Vejam aqui a captura de um pequeno marlin de perto de 50 kgs, feita à mão, sem nada mais que uma linha de nylon e um anzol. Apenas mãos fortes aguentam isto. Apenas alguém que nasceu com este dom, pode fazer esta captura. 
 

 


 
Os marlins são pescados com cabeças onde se montam plumas, ou tiras de silicone coloridas. A técnica de pesca é o corrico, com o barco a baixa velocidade, normalmente 6 a 8, máximo 10 nós. 


 
Momento em que se acaba de oxigenar o peixe e se solta. Este é um momento de rara felicidade para todos: para o marlin que vai à sua vida de águas azuis, e para o pescador que o guardará na memória para sempre. 

Espero que tenham gostado de ver.


Vítor Ganchinho



3 Comentários

  1. Magnifica explicação pormenorizada. Fantástico.
    Abr.

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    Respostas
    1. Boa tarde Carlos Silva

      Fazer uns dias de pesca com estas pessoas é abrir um livro e querer ler as páginas todas, do principio ao fim, sem vontade de terminar. Os profissionais de pesca que trabalham nos países menos desenvolvidos são um manancial de conhecimento incrível. Porque eles fazem muito sem meios nenhuns, o que os obriga a saber mais, a criar soluções engenhosas. E quando os tratamos com o devido respeito, com atenção, com o carinho que merecem, eles ensinam-nos, e têm muita paciência connosco.
      Se formos humildes e soubermos escutar, aprendemos muito. Aqueles que vivem da pesca, e que forçosamente têm de ter sucesso, ou morrem, são sempre pessoas com quem vale a pena passar muitas horas a conversar, a escutar. Eu procuro, nos meus cursos de Light Rock Fishing, transmitir um conjunto de ideias que são a base de tudo, os materiais, as técnicas de pesca, os nós, etc. A partir daí, a ideia é, no terreno, colocar as questões no momento certo, para que a pessoa encontre respostas dentro de si própria e que seja capaz de crescer com isso. Sinto as pessoas felizes quando eu coloco uma pergunta no ar e elas encontram a solução por si. Afinal, as respostas para os problemas que os peixes colocam estão sempre ali debaixo do nariz, é só necessário um pequeno "empurrão"..

      Abraço!

      Vitor Ganchinho

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  2. Carlos, ontem eu estava a pescar com um amigo francês, que é cliente da Loja GO Fishing de Almada. A dada altura, tínhamos uns quantos cardumes de sardinha à superfície, a fazer borbulhar a água. Havia sardinhas por todo o lado. O meu colega de pesca começou a pescar com jigs, no fundo, para tentar um bom robalo. Ao fim de 20 minutos, sem peixe nenhum, sem um toque, eu pedi-lhe para parar. Coloquei-lhe a seguinte questão: Se as sardinhas estão neste reboliço, aos saltos para fora de água, assustadas, à superfície, e se o fundo tem 50 metros, onde achas que estão os predadores? E ele de imediato me respondeu: "Claro! É evidente que os cardumes estão assustados porque têm mesmo debaixo deles quem os está a comer! Os robalos não estão no fundo, estão aqui mesmo em cima, obviamente.

    Mudou de cana e passou a fazer spinning com amostras stickbait, sem pala, e fêz vinte peixes....


    É a isto que me refiro quando digo que muitas vezes, a pergunta certa, no momento certo, faz um click, e as coisas acontecem. Os nossos cursos de LRF têm a ver com isto....


    Abraço!!

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