TEXTOS DE PESCA - Quanto custa um bom peixe?

Com regularidade tenho recebido contactos de pessoas que querem ir pescar peixes grandes. Ouvem dizer que  GO Fishing tem uns sítios onde há pargos grandes. Algo que vem sempre acoplado é a idéia peregrina de conseguir isso gastando zero euros. Não sei como se faz. 
A pesca é um desporto caro. Os barcos são caros, os motores são caros, as licenças são caras, as marinas são caras, os impostos que se pagam são caros. Para quem quer ir a pagar tostões, aquilo que me ocorre dizer nestas circunstâncias é que uma ida a pé a Fátima pode eventualmente ajudar. Ter fé! Conseguir resultados estratosféricos de muitos peixes bons, grandes, gastando aquilo que todos gastam para fazer nada, que são as pescarias banais do dia a dia é algo que não tenho ideia de como pode ser feito. Senão vejamos: uma traineira cobra 20 euros para levar alguém à pesca. O resultado que é previsível obter com esse investimento, são os correspondentes a isso mesmo, a quase nada. Porque não é possível visitar pesqueiros longe dos grandes centros populacionais, sem consumir combustível. Os mestres não podem fazer milagres, e por isso têm de encontrar formas de enganar o “artista”.  Atribuem os maus resultados às correntes que nesse dia estão muito fortes, à lua, que não está favorável, (de resto nunca está naqueles pesqueiros…), ao vento que fez dias antes, que escaldou o pesqueiro, aos golfinhos que são uns malandros, ao caranguejo pilado que houve no dia anterior, embora nesse dia não se veja um único, à falta de arte dos pescadores, enfim, a tudo, menos ao facto de não ser possível pescar muito onde há pouco. Por um azar dos Távoras, no dia anterior tinha dado muito, e provavelmente amanhã também será um tremendo dia de pesca, mas logo por azar nesse dia não foi bom. 

A minha filha Mafalda com 6 anos a puxar pargos grandes. Com um conjunto de cana Daiwa Saltiga e um carreto Daiwa Saltiga Dog Fight, …o melhor é pôr a mão por baixo…


Junto às cidades, o peixe é pescado todos os santos dias, vinte e quatro sobre vinte e quatro horas, dia e noite, por quem quer gastar o mínimo e obter o máximo. E quem conduz uma traineira sabe-o bem, sabe que não anda peixe na zona, sabe que não está lá nada, e sabe que tem de animar as hostes de cada vez que alguém consegue um peixinho, porque é isso que lhe traz mais clientes. Porque os quer manter motivados para irem no dia seguinte, e para que desembolsem mais 20 euros com a ilusão de que no dia seguinte é que vai ser. Mas não vai fazer nada por mudar, porque os rendimentos obtidos não lho permitem. Não vai longe porque cobra pouco, e porque cobra pouco, não pode ir mais longe. É raro que se saia disto, algo parecido com correr em circulo. Poucos são os que saem dessa mediania, e por isso, quando alguém pesca uma pequena sargueta, vai tudo a correr para ver o peixe a saltar no fundo do balde. Essa sensação de vazio tem a ver com o facto de se pescar em locais cercanos das cidades, que são muito convenientes para quem conduz a embarcação e paga o combustível, mas muito pouco convenientes para quem pesca. 
E se as traineiras arriscam sair um pouco mais longe, se um dia o fazem, isso sai sempre do pêlo a quem nelas embarca: as saídas passam a ser feitas às 4h da manhã, para chegar ao local quatro horas depois. Ou seja, na viagem de ida e volta já temos 8 horas….de marmelada. 

Pai e filho, dois pescadores de spinning, franceses, que adoram o nosso país, pelos nossos robalos, os nossos lirios, os nossos sarrajões.


Pode fazer-se o mesmo trajecto em 45 minutos. Sim, perfeitamente possível com motores potentes. Ou entrar a bordo de um barco que vá muito mais longe, a pesqueiros pouco visitados. Onde felizmente ainda há peixe. 
Mas esses barcos gastam mais combustível e não é possível cobrar os tais 20 euros…..é necessário passar a cobrar de 80 a 120 euros, consoante aquilo que a pessoa tem de equipamentos, ter ou não ter canas, iscas, licença de pesca, e também as exigências em termos de catering. Como em tudo na vida, há que fazer opções. A opção de ficar perto da cidade e acreditar que “onde há água há peixe”….é válida. Da mesma forma que acreditar nos três pastorinhos também é uma profissão de fé. As pessoas querem ganhar dinheiro com a pesca. Querem gastar 20 euros e trazer 200 euros de peixe. 
Sim, o peixe corre o oceano todo e por isso tudo é possível, mesmo ali. É este o sentimento de quem paga pouco para sair. Onde há água há peixe, dizem eles. Há é muito pouco…
Os sítios com peixe a sério não são muitos. Na verdade falamos de delicados habitats submarinos, constituídos por equilíbrios entre presas e predadores, entre a sardinha e o robalo, entre a cavala e o pargo. E quando falta um, o outro não não pode estar lá. 

A silhueta inconfundível de um besugo.


As zonas onde se junta comida, peixe miúdo, são conhecidas, e é aí que estão os predadores. Porque a pressão de pesca é cada vez maior, é também natural que os resultados de hoje sejam melhores do que aqueles que se irão obter daqui a cinco anos. Há espécies que deixam de encontrar nas nossas águas as condições ideais e passam a outras. E vice versa. Conhecer o mar é um trabalho de acompanhamento diário, rigoroso, que implica trabalho e tem custos. Querer usufruir desse trabalho sem custos, pelo preço de um maço de tabaco, é querer tirar água de pedra seca.



Vítor Ganchinho



1 Comentários



  1. .....Quanto custa um bom peixe? A recompensa (o valor) está no esforço, não no resultado. Um esforço total é uma vitória completa.

    Após uma saida para a faina LRF.....só tenho que tirar o chapeu ao vosso empenho...Obrigado e até breve :-)

    ResponderEliminar
Artigo Anterior Próximo Artigo

PUB

PUB

نموذج الاتصال