TEXTOS DE PESCA - As bicas, essas malandras...

Quando pensamos em pargos, a tendência é para virarmos a agulha para os grandes, os capatões, o pargo legítimo, o pargo de bandeira. No fundo, aqueles que são mais mediáticos, os que queremos mostrar aos nossos amigos e familiares. Mas nós temos durante todo o ano uma espécie de pargo que é muito interessante, embora mais pequeno, e que vale bem a pena tentar com artificiais: a bica. Falamos do Pagellus Erythrinus, um valoroso combatente que pode atingir cerca de 3 kgs, com um tamanho mínimo de captura perfeitamente desajustado da realidade, com uns míseros 15cm, e que merecia um pouco mais de consideração por parte do legislador. A bica é um hermafrodita protogínico: nasce femea e por volta dos três anos, com 16 a 20 cm de comprimento, muda de sexo, passando a macho. Não cresce muito rápido, aos 5 anos de vida terá cerca de 30 cm, e tem uma particularidade interessante: passa a sua vida sobretudo em fundos de areia ou vasa. Verdade que isso retira o nosso peixe de um cenário de caça que oferece mais possibilidades, a pedra dura, com recantos e esconderijos, com mais vida, mais possibilidades de obter alimento. Mas por outro lado, deixa-lhe livre um espaço que consegue aproveitar bem por não ter demasiada concorrência, os fundos móveis. O tipo de alimentação reflecte exactamente a zona que escolhe para viver, a areia: minhocas, camarões, equinodermes, poliquetas, pequenos búzios, alguns bivalves de ocasião, e um ou outro pequeno peixe mais descuidado. 

O meu amigo Raúl Gil com uma “hermosa” bica, feita em Valência. Chamam-lhe brecas, ou pagelles.

Tenho para mim que é dos mais interessantes peixes para pescarmos com artificiais de pequeno calibre, nomeadamente os vinis a imitar camarão. A Savage tem um linha perfeita para este fim, o camarão de 5cm e 6,6 cm. Com uma montagem a lembrar a pesca à chumbadinha, aquilo que há a fazer é tentar este bonito peixe nos bordos da pedra, a distâncias de 5 a 20 metros desta. Tenho locais onde estão sempre, em cardumes pequenos, mas que são muito fiáveis em termos de resultados: quando a amostra passa ali, …picam sempre. Contrariamente ao que está instituído, eu pesco-as sobretudo de Inverno, com a água mais fria. Trata-se de um pargo que aguenta bem as temperaturas mais baixas, e não raramente faço seis ou sete exemplares a avizinhar um quilo de peso, com águas a 12 ou 13 ºC à superficie. 

Esta sucumbiu a um vinil da Savage modelo sardinha. Com artificiais são muito fáceis.


O autor com uma bica que se lançou a um jig Cultiva, da Owner, de 30 gramas.

Dá-se por vezes o caso de picarem duas no mesmo jig. A concorrência de vários peixes no mesmo posto de caça a isso conduz, e está longe de ser uma raridade, diria que acontece a cada duas pescarias um episódio desses. As bicas são de facto peixes que não impressionam tanto como os seus primos pargos, mas ainda assim, é sempre interessante ferrar e trabalhar um destes peixes com minúsculos pontos azuis no dorso. Devemos ter cuidado com o tamanho dos anzóis, a boca é relativamente pequena e por isso selecciona muito o equipamento. De resto, não é um combatente muito duro, luta mas apenas q.b. 

Estas duas calharam-me num daqueles dias em que lançamos de costas e vem uma dupla. O jig é um All Blue de 20 gramas, à venda na loja GO Fishing em Almada, ou através da loja on-line.

É muito frequente que estes peixes sejam a primeira aproximação do pescador à família dos pargos. Sempre que se utilizam artificiais, quer sejam vinis quer sejam jigs de tamanho reduzido, ficamos mais perto de conseguir estes magníficos peixes. 

O grande João Cabeleira com a sua primeira bica. É sempre um momento bonito, e que deixa um brilho de felicidade nos olhos. Esta foi capturada utilizando um equipamento de tenya, com um filete de cavala.


Pescaria feita com camarão de vinil, tendo o sarrajão sido ferrado na subida, quando eu recuperava a linha um pouco mais rápido para voltar a lançar no fundo. Temos aqui um bom exemplo do quanto a pesca com artificiais pode ser selectiva: 2 pargos legítimos, 2 bicas, 1 sarrajão e 1 dourada. Em relação a esta última, de referir que na minha opinião, existe todo um manancial de possibilidades para a sua pesca com artificiais. A maior parte das pessoas desconhece esta possibilidade, e por isso nem sequer tenta. Pescar com artificiais liberta-nos do flagelo do peixes miúdo. Não na totalidade, porque de vez em quando vem um, mas de uma forte percentagem que não seria possível evitar caso se utilizassem iscos orgânicos. Para além disso, posso assegurar-vos que prefiro fazer estes peixes assim, que nem sequer são uma pescaria por aí além, do que encher uma caixa deles utilizando as iscas comuns, o ganso, a sardinha, a navalha, etc.

Esta é a montagem que os engana: 

Utiliza-se um stopper de goma a cerca de 50 cm do camarão, para evitar que o peso de tungsteneo continue a correr livre pela linha acima. Não esqueçam que o camarão é mais leve e exerce atrito na descida, ficando para trás. Caso estejamos a pescar a 50/ 60 metros de fundo, isso significa que teriamos muitas possibilidades de chegar ao fundo com a montagem enrolada. Desta forma, com o stopper, nunca acontece. 

 Fiz esta pescaria utilizando apenas um modelo de jig: o AllBlue sardinha de 30 gramas. Há diversas bicas na caixa, o que prova a sua eficácia. O sistema resulta. Quando estiver cansado de lutar contra os velhacos dos piços, sarguinhos de 10 cm e garoupinhas, quando a sua paciência já estiver esgotada, tente pescar desta forma e vai ver que é diversão garantida. 

Estou à vossa disposição para elucidar sobre a montagem e diversos componentes necessários, basta enviar um e-mail para a GO Fishing Portugal.


Vítor Ganchinho



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