Por vezes somos surpreendidos com a quantidade de peixe que nos passa debaixo do nariz, sem que consigamos ferrar um único.
Ou porque estamos fora do sitio onde decorre a acção, ou porque estamos no timing errado, no local certo mas à hora errada. Ou pelas duas situações ao mesmo tempo.
O Cabo Espichel é um local de passagem obrigatória de várias espécies, e tem as condições mais que certas para dar sempre uns peixes.
Como limitações mais relevantes encontro o facto de ser um sítio muito perto, demasiado perto, de Sesimbra. Acresce o facto de ser uma zona muito trabalhada pelos profissionais das redes e aparelhos, que, dadas as características dos fundos, com muita rocha e encalhes, prende imenso as artes de pesca. E isso faz com que seja um martírio lançar uma âncora ali naquelas paragens. Para além dos inúmeros aparelhos de robalo que estão lançados em permanência. Com ou sem isca. Redes no fundo significa ancoras presas, e a sequência seguinte é, na impossibilidade de as recuperar, que os pescadores lúdicos sejam obrigados a cortar os cabos no único sitio onde têm alcance: junto à proa do barco.
Isto quer dizer que, atendendo à distância a que é permitido fundear, uma milha ao largo da Reserva do Parque Marinho Luiz Saldanha, a quantidade de cabo a cortar nunca será inferior a 50 metros.
São metros de cabo que se juntam a todas as outras quantidades de cabos que ficaram lá, e que se entrelaçam uns nos outros, dificultando sobremaneira a pesca à linha no local.
Não lançar âncora ajuda, pescar à rola é sempre uma boa opção, mas não resolve: continuamos a correr o risco de agarrar os nossos jigs nos cabos abaixo. Mas ainda assim, e com algum cuidado, consegue-se pescar em determinadas zonas.
Paulo Braz, com uma pescaria de robalos feita no Espichel há muito pouco tempo. Todos estes peixes foram capturados com jigs, dois deles com uma cana de Light Rock Fishing, e jigs ligeiros. |
O peixe interessante que podemos esperar por aquelas bandas é o robalo, a corvina, peixes de passagem do Tejo para o Sado, e vice versa. O peixe residente, as choupas, os pargos, sargos, os sarrajões, etc, são dali, e terão sempre o seu lugar na nossa galeria de elegíveis a safar a pesca do dia.
Sem dúvida é um local de muito boas características, e que se imagina muito melhor há umas dezenas de anos. Comecei a mergulhar ali há cerca de 40 anos, e recordo bem as toneladas de sargo, os safios, as abróteas, douradas e sobretudo os robalos que existiam a passear pelas imediações. As paredes do Espichel sempre tiveram muito marisco: cracas, lapas, perceves, mexilhão, e isso dá de comer a muito bom peixe. Os mariscadores estão lá todos, e abrem alas para a passagem de cavalas, carapau, sardinha, no fundo todo o tipo de peixe que serve de base alimentar aos grandes predadores da zona: os robalos e as corvinas. De quando em quando, um mero aparece. Nos destroços do barco River Gurara podem ainda ver-se algumas lagostas, saimas, muitos bodiões, fanecas e os inevitáveis safios.
É colocarem o Cabo na lista dos locais a visitar, porque vale sempre a pena!
Vítor Ganchinho