Restituir peixe à água

Nunca será demais insistir na responsabilidade que todos temos de participar na preservação de espécies, na manutenção dos nossos stocks de peixes. 
Depende de todos nós poder continuar a pescar. Se ficarmos sem peixes, será mais difícil encontrar motivação para sair ao mar. A pressão a que estão sujeitos todos os seres vivos do planeta é enorme, e a dos peixes, que são agredidos de todas as formas, é ainda mais significativa. Nada os ajuda. 

Pequeno mero, ainda juvenil. Foi obviamente restituído à água.


A indústria pesada larga contaminantes que matam milhões de peixes quando eles ainda nem estão em estado de se poder defender. Falamos de ovas de peixe, que não chegam sequer a nascer. 
Depois do nascimento, os nossos pequenos peixes enfrentam adversidades tremendas, a predação dos exemplares adultos, a pesca profissional, a pesca amadora, as aves marinhas, e no fim de tudo, mas não menos perigoso, pelo contrário: a poluição. 

Dizia um alquimista e médico no século XVI, Paracelso, que a diferença entre uma substância tóxica e uma não tóxica, é a dose. Os peixes não têm para onde fugir; vivem, respiram, alimentam-se e reproduzem-se na água. O mesmo acontece com outros seres que fazem da permanência na água o seu meio de vida. Por exemplo os golfinhos roazes. Todos sabemos que há umas dezenas de anos, a comunidade que vive dentro do rio Sado era constituída por mais de uma centena destes mamíferos. Hoje serão 23, no máximo. 
Tive a oportunidade de fazer esta foto num dia em que resolveram passar por baixo do meu barco, num baixio, onde os esperei de motor desligado:

Uma pequena cria é amparada pelos progenitores. Que futuro pode vir ser o deste jovem golfinho? Quantas redes e hélices o irão ameaçar durante toda a sua vida?


Nós lançamos por ano cerca de 8 milhões de toneladas de plásticos. Cerca de 85% de todo o lixo lançado ao mar, são produtos deste tipo, produzidos pelo homem. 
Não há barreiras, estes plásticos vão desfazer-se em micro plásticos, e de uma ou outra forma, vão chegar aos nossos peixes, e por conseguinte, à nossa mesa. 
Há animais marinhos que se alimentam de alforrecas, medusas, etc. Esses animais confundem plásticos com os seus alimentos naturais e ao ingeri-los acabam por ter uma morte inglória. 
A GO Fishing tem procedido a inúmeros salvamentos de aves marinhas, enredadas em restos de redes largados pela nossa frota de pesca profissional. 
Essas aves não teriam a menor possibilidade de permanecer vivas, sem a nossa intervenção. Uma ave marinha que não voa, está liquidada. Como explicar a quem lança esse resto de rede que está a matar seres vivos?....
Um gesto errado pode provocar uma cadeia de acontecimentos terrível. E tudo nasce de uma atitude irresponsável, perpetrada por alguém que, ao ser profissional de uma actividade marítima, deveria ser o primeiro a defender aquilo que é a sua razão de vida, a sua profissão. 

Os produtos químicos lançados pelas fábricas afectam o desenvolvimento do fitoplâncton, e sabemos que ele é a base de toda a cadeia alimentar dos nossos oceanos. Para além de ser um produtor de oxigénio por excelência. 
As microalgas são de tal forma importantes que deveríamos ter por elas uma outra consideração. Trata-se de ter mais ambiente e menos produção industrial. Um dia iremos querer comprar oxigénio com dinheiro e não o teremos. 
Há fábricas a lançar 24 sobre 24 horas gases nocivos na atmosfera. A natureza não consegue suportar o ritmo que imprimimos ao nosso desenvolvimento. Sempre que provocamos a morte de um tipo de ser vivo, estamos a alterar as condições de vida de uma infinidade de outros seres. 
Está tudo ligado, mexer neste xadrez implica sempre perdas irreparáveis. Os peixes podem ser contaminados de três formas distintas: pela alimentação, pela respiração/ branquias e por contacto cutâneo dos químicos. Após a entrada no organismo, essas substâncias são transportadas pelo sangue a todos os órgãos do corpo. Em função da quantidade e tipo de tóxico, assim o peixe consegue, ou não sobreviver. 
Quando esses peixes não conseguem suportar a quantidade de toxinas, ficam a alimentar outros, que vão absorve-las por sua vez. É um ciclo interminável, que não ajuda em nada a estabilidade do meio ambiente. 

Infelizmente, há peixes que não suportam a subida rápida das nossas pescas. Nestes casos, não adianta devolver para o mar no sentido de possibilitar a vida a este pequeno ser, mas ainda assim, deve ser restituído à água: uma ave marinha irá ter aqui a oportunidade de se alimentar para um dia.


Infelizmente, há peixes que não suportam a subida rápida das nossas pescas. Nestes casos, não adianta devolver para o mar no sentido de possibilitar a vida a este pequeno ser, mas ainda assim, deve ser restituído à água: uma ave marinha irá ter aqui a oportunidade de se alimentar para um dia. 
São sempre pequenos gestos,…que passam pela libertação de um peixe, ou pela utilização de anzóis de maior tamanho. Muita coisa depende de nós, sem dúvida. 
Está nas nossas mãos decidir o que queremos fazer do nosso futuro. Bem sei que a maior parte das pessoas de gerações anteriores não consegue ter a sensibilidade, por falta de educação ambiental, para conseguir entender o quanto importante é o esforço de cada um de nós. Mas aqueles que aí vêm, os que nos irão seguir, esses já sabem que ou preservam, ou não vão ter nada. Tudo começa nas famílias, nos exemplos, nas escolas. Queremos gente com consciência firme da importância que o mar tem para um país que faz do turismo uma importante fonte de recursos. 
E mesmo que ninguém nos viesse visitar, teríamos sempre a obrigação de cuidar da nossa casa, daquilo que é nosso. 



Restituir peixe à água é um imperativo de consciência de todos nós, e é algo que, para além de tudo, nos faz sentir bem. 
Proceder à captura e solta é uma forma de garantir que as gerações vindouras, os nossos filhos e netos, irão ter a oportunidade de pescar, tal como nós ainda estamos a ter. 



Vítor Ganchinho



3 Comentários

  1. Bom dia Vítor,

    À semelhança de todo planeta Terra, o ecossistema marinho atravessa uma crise e ameaça de dimensões catastróficas.
    Referindo apenas o ecossistema marinho e sua fauna, a preservação de suas espécies, já não depende única e exclusivamente da devolução das capturas, cujo peso e dimensão estão abaixo do estabelecido na lei.
    Deveríamos ir muito mais longe que isso e no imediato! Exemplo disso seria adoptar medidas como proibir a pesca no período das desovas de todas as espécies.
    Se nada for feito, corremos o sério risco de ter-mos um futuro miserável!

    Abraço,

    A. Duarte

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    1. António, o caso das douradas é gritante: eu sou do tempo em que se chegava ao cais com 3 cx de douradas, com pesos de 2 a 7 kgs, e hoje isso, para além de ilegal, é também impossível. Vai ver chegar gente a Setúbal com douradas de 20 cm,e vão publicar nas redes sociais que fizeram 35 douradas. A essa gente eu receito uns calmantes, e uma dose de decência. Se todos libertarem douradas abaixo de 1 kg, passamos a ter a melhor zona de pesca à dourada da Europa. Os grandes reprodutores, as fêmeas de 6/7 kgs, fazem posturas com milhares de ovos, enquanto que as douradinhas que são capturadas por essa gente que " pesca à dourada", não têm capacidade para mais que umas dezenas de ovos. Sabemos que 95% dos ovos não vão dar peixes adultos, mas era um bom principio soltar tudo o que são juvenis imaturos. Que é o que pescam esses "artistas" da dourada.....
      A meu ver, era proibir a pesca de peixes durante o período estimado de desova. Isso resolvia a questão da escassez de peixe em três tempos. Pese embora a pressão que colocamos em cima dos nossos peixinhos eles, se lhes dermos um mínimo de possibilidades, conseguem aguentar-se.

      Abraço
      VItor

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  2. Somos o maior perigo para a espécie humana :)

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