O equipamento é tudo, ou …apenas ajuda?

Tenho amigos que atribuem importância extrema ao material que utilizo na pesca, considerando-o decisivo nos resultados que obtenho, e outros que pura e simplesmente ignoram a qualidade do meu material, centrando toda a sua atenção nos locais onde pesco. Na minha opinião, ambos estão errados. Explico-vos porquê: 

Em locais remotos, pouco pescados, com muito peixe, a quantidade de asneiras que fazemos e os peixes que nos escapam não são normalmente muito decisivos no computo das capturas do dia. Mais peixe menos peixe, a caixa irá para casa composta, com boas cores, com o peixinho que irá alegrar a nossa querida e paciente companheira. Aí, ter uma cana melhor ou pior apenas pode ajudar ao conforto do nosso corpo, ao fim do dia. Ter um carreto com mais ou menos recuperação, apenas nos pode dar mais algum tempo de pesca, e menos dores de braços e costas. A quantidade de picadas é tão elevada que temos sempre tempo para corrigir um mau manuseamento do equipamento, uma linha que rompe, um anzol que abre com um exemplar mais forte e pesado. Na verdade, a qualidade dos materiais de pesca hoje em dia é tal que o peixe tem mais possibilidades de perder que ganhar. As linhas são boas, os anzóis são resistentes, as canas e carretos são quase todos irrepreensíveis. E isso possibilita resultados positivos. 
Trouxe-vos aqui imagens de pescarias feitas na Pedra do Barril, em Tavira, onde os pargos, corvinas e robalos grandes enchiam um barco em três tempos. E com material de segunda linha, que era aquilo que existia na altura. 
Estou seguro que essas pessoas, a pescarem com as canas e carretos que tenho hoje, com material Daiwa Saltiga, poderiam chegar ao fim do dia muito menos maçadas. Mas estamos a desprezar um dado que não é de somenos importância: essas pessoas iam à pesca para equilibrar o orçamento familiar, para vender o peixe e ganhar dinheiro com ele. Disse-vos antes que quem ia pescar eram trabalhadores rurais, pessoas habituadas aos trabalhos do campo, de enxada nas mãos, porque era o trabalho que havia para fazer. 
A maior parte de nós não pode nem de perto comparar as suas capacidades físicas com aqueles pescadores que pescavam peixes grandes todo o dia, sem desfalecimentos. Nós somos quase todos “pássaros de gaiola”, sem traquejo físico para esforços prolongados. 
Um pescador de fim de semana que está oito horas atrás de um computador não é um trabalhador das obras, alguém que diariamente utiliza os seus músculos para produzir trabalho. A evolução das tarefas e empregos da maior parte de nós passou por largar o campo, ou o mar, e recolher a uma vida mais sedentária, que, para desgraça nossa, consiste em carregar em teclas. Esse é o esforço físico que a maior parte das pessoas faz hoje. E não chega quando temos de enfrentar peixes que nos levam ao limite, que puxam por nós muito para além daquilo que é a nossa rotina diária. Faço-vos este parêntesis para que entendam que os equipamentos eram muito piores, sem dúvida, mas as pessoas eram fisicamente melhores, mais resistentes. E sobretudo, havia muito mais peixe!

Vítor Ganchinho com um bonito pargo capatão femea. Conjunto de pesca Saltiga, para não haver dúvidas de que a ordem era para subir à superfície. 


Hoje em dia, as possibilidades que temos de “brilhar” com um bom peixe são cada vez menores. O meu amigo Antero dos Santos, director do velhinho jornal “Noticias do Mar”, um baluarte da divulgação da náutica e pesca desportiva em Portugal, para o qual me orgulho de escrever vai para 30 anos, insurgiu-se há pouco tempo contra uma embarcação de pesca profissional que lançava redes de emalhar com uma altura proibida, com um comprimento proibido, e pescava pargos capatões às centenas. E fazia-o aproveitando as grandes concentrações de pargos no momento da desova, em que os peixes estão muito mais vulneráveis, porque forçosamente têm de dar seguimento ao seu desígnio de reprodutores. Pescar 300 pargos num lance é algo que dava para trezentos pescadores ficarem muito felizes durante semanas. O pargo capatão é um oponente valoroso, dá luta e nem sempre é garantido que nós ganhamos. 

Desta vez, um capatão macho, com perto de 7 kgs. Reparem na bossa por cima da cabeça. Estes peixes têm uma picada extremamente violenta, mordem a sério quando estão com fome. A cana é uma Alpha Tackle japonesa, um producto que utilizo frequentemente quando o peixe é um pouco maior. Este equipamento nunca me deixou ficar mal, agarrado. Compra-se uma vez e dura uma vida. 


Assim, e na minha opinião, devemos valorizar ambas as situações: ter a consciência de que não vale a pena procurar bons peixes em lugares onde eles não estão, e, quando chega o momento da verdade, não deixar ao acaso nenhum detalhe, ter equipamento adequado, à altura dos acontecimentos. Ou seja, local e equipamento, ao mesmo nível de exigência. Nada mais inglório do que fazer um tremendo esforço de levantar cedo, estar no local certo à hora certa, ter a ansiada picada do peixe que queremos ter na nossa colecção de memórias e ...deixá-lo ir embora porque o material não aguentou os esticões. A aposta tem de ser repartida, entre um bom local para pescar e a qualidade do equipamento. 
Para aqueles que pensam que ter um carreto Daiwa Saltiga é um luxo, aquilo que respondo é isto: se fizerem contas à quantidade de carretos que já compraram na vossa vida, à soma daquilo que já gastaram, e do mal servidos que se sentiram com uma chinesisse qualquer, vão chegar à conclusão que mais valia terem comprado um bom. Estes são os carretos indestrutíveis, os que deixamos aos nossos filhos e que um dia serão os carretos dos nossos netos. 

As peças boas passam de geração em geração e os nossos descendentes um dia terão o orgulho de poder dizer: “ pesco com um carreto que era do meu avô, um Saltiga”...



Vítor Ganchinho



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