Muita gente me pergunta porque utilizo carretos de tambor móvel, quando faço jigging.
Em rigor, não seria impossível utilizar o outro modelo de carreto, o de tambor fixo, com a tradicional alça giratória e que é conhecido por ser o modelo standard.
Podia perfeitamente ser utilizado. Mas não era igual.
E é isso mesmo que vamos ver hoje em detalhe, a razão da existência e utilização do carreto de posição invertida.
Carreto Daiwa Saltiga BJ, uma máquina de precisão que é mais do que um luxo: é uma necessidade para quem quer obter resultados acima da média. |
Este é um modelo que utilizo todos os dias e raramente saio ao mar sem ele. Na verdade, e dada a sua polivalência, acabo por levar várias canas montadas com este tipo de carretos, com diferentes linhas e diferentes pesos de jigs. A cana acima, uma Xesta Scramble muito ligeira, de acção 60 gr, é normalmente utilizada para capturar isca viva, ( cavalas vivas para os pargos) ou para fazer uma pesca muito “light”, a peixes que raramente excedem os 2 kgs. Mas o Daiwa BJ Saltiga aguenta-se com pescas mais pesadas, e nunca é por ele que a pesca não acontece. Tenho imensos peixes de 3 a 4 kgs feitos com esta peça.
Para algumas pessoas a questão nem se coloca: é carreto standard, dito “normal” e ponto.
São normalmente pessoas que se enquadram nestes dois parâmetros:
1- Nunca experimentaram outro modelo, outra forma de recolher linha, e por isso olham para o carreto invertido com desconfiança. Neste caso é por mero desconhecimento, mais do que por opção.
2- Pura e simplesmente fazem tudo o que pode ser feito com um único carreto, o “ tenho um carreto que dá para tudo”….e está dito.
Um carreto formato standard de boa qualidade, o Stella SW8000, da Shimano. Pode ser utilizado, mas efectivamente perde para o carreto invertido. Digamos que é muito bom, mas está feito para outra coisas. Quando pescar jigging, faça-o com carretos de… jigging. |
Pode ser assim, pescar com um carreto que também é o de pesca vertical, pesca de spinning, pesca à chumbadinha, porque não, mas também pode aproveitar-se aquilo que os fabricantes produzem hoje em dia, e com muita qualidade, para nos facilitar a vida.
O carreto de tambor móvel tem desde logo uma vantagem neste particular: desenrola linha muito mais rápido. E dir-me-ão, …“e daí, qual é a pressa”?.
A questão coloca-se desta forma: o jigging é uma pesca que deve fazer-se na vertical. Toda a estratégia dos fabricantes aponta no sentido de produzir amostras que têm um determinado desempenho (paragens, vibrações, deslizamento, movimentação) quando deixadas cair na vertical. Essa é a pedra de toque da técnica de jigging.
Ou por acção da corrente ou por termos muito vento na zona, ou por termos ambos a empurrar no mesmo sentido, o que é facto é que deparamos muitas vezes com situações em que a possibilidade de pescar de forma vertical é virtualmente impossível.
Sabemos que quanto mais “espiada” estiver a pesca, mais dificuldade teremos em animar e fazer valer as características técnicas do nosso jig. No limite, acabamos por estar apenas a puxar um pedaço de ferro, sem vida, amorfo, e que dificilmente irá convencer um peixe que não tenha muitas dioptrias. Repito-vos o processo: ao lançarmos o jig para o fundo, a deslocação do barco, por acção das forças de mar, retira-nos muito rapidamente do local e a linha começa a ficar cada vez mais oblíqua. É tudo aquilo que nós não queremos.
Com linhas grossas, o efeito é ainda mais visível, dado que a corrente pega no trançado e arrasta-o consigo. As linhas grossas travam o movimento de descida, por atrito.
Assim, e como forma de obviar a isso, pretende-se um carreto que nos permita chegar ao fundo em tempo recorde, que desbobine linha tão rápido que estejamos na vertical, ou próximo disso, quando o nosso jig toca a pedra.
A partir daí, inicia-se o normal processo de recolha de linha. Quando se utilizam jigs leves ainda é mais importante que a descida seja rápida, e é aí que os carretos de tambor móvel mostram a sua raça, permitindo-nos pescar onde os outros não permitem. Também pelas suas reduzidas dimensões, peso e fiabilidade, são perfeitos para as linhas trançadas finas que tanto nos convêem. As linhas mais finas, e falamos de 0.06, 0.08 ou mesmo 0.12 mm, descem muito depressa e isso é fundamental para quem pesca em más condições de vento e corrente.
Porque nem sempre temos o barco a deslocar-se em condições óptimas, ou seja lentamente, é bom contar com equipamento adequado. A alternativa mais corrente é colocar mais chumbo, utilizar jigs mais pesados. mas isso é exactamente aquilo que eu não quero fazer! Porque animar um jig de 30 gramas é muito fácil, mas tentar fazê-lo com um jig de 300 gramas, é procurar dar vida a um calhau….
Logo, a solução “mais peso” é sempre a pior, e só deve ser utilizada caso não exista mais nenhum recurso técnico. Repito para vocês as soluções: diminuir o diâmetro da linha trançada, eventualmente e sempre que possível lançar ligeiramente para a frente, no sentido da deslocação do barco, utilizar carretos que permitam largar linha muito rapidamente, facilitar a saída de linha apontando a ponteira da cana na direcção do fundo, para causar o menor atrito possível da linha com os passadores, colocar o dedo indicador de forma muito ligeira sobre a bobine do carreto para impedir o jig de trabalhar, logo obrigando-o a descer na vertical, aplicar um paraquedas no barco de forma a que a embarcação seja travada pela âncora de superfície, e por fim, e à falta de mais algum recurso, então sim, aumentar o peso do jig. Este, que normalmente é o primeiro recurso, deve efectivamente ser …o último.
Podemos trabalhar com diferentes tipos de jigs, com diferentes formatos e pesos, de forma a conseguir aquilo que para nós é fundamental: pescar o mais vertical possível. |
Há ainda um outro detalhe que me parece ser importante transmitir: os jigs não baixam todos da mesma forma. Um jig de 40 gramas curto e achatado desce muito mais lentamente do que um jig de 40 gramas comprido e estreito.
Assim sendo, se temos uma situação de pouca corrente, podemos e devemos utilizar o primeiro, mas se depararmos com a segunda situação de mar, a corrente forte e o vento a deslocar-nos do local onde lançamos, então a opção mais válida é seguramente a de utilizar o jig agulha, o mais comprido. É com esse que conseguiremos resolver o intrincado problema que a corrente, o vento, ou ambos, nos colocam na nossa acção de pesca.
Vítor Ganchinho