Uma pescaria de robalos, por quem sabe...

E aí está o jigging a dar cartas, mais uma vez.

Campeão nacional de Jigging, competição organizada pelo Jigging Clube de Portugal, o meu amigo Paulo Braz manda esta foto com mais uma saída de glória, (que não pelas suas estranhas calças coloridas!...) com cinco robalos e um badejo bacalhau. 



Este último peixe chamou-me à atenção. 
O badejo bacalhau, ou badejo do Mar Negro, um precioso “Merlangius merlangus”, peixe atlântico que normalmente vive em águas mais frias, mas que no nosso inverno costuma descer às nossas paragens, não é muito normal quando ainda temos água a 20ºC. 
Seria bem mais provável com águas na casa dos 13 a 14ºC. 
Podemos dizer algo a seu respeito: normalmente de pequeno tamanho, pode no entanto atingir comprimentos na ordem dos 70 cm, para alguns quilos de peso. Por vezes aparece por cá em lota, mas vindo de origens mais nórdicas, onde é muito frequente. 
Embora apareça no Mediterrâneo, a sua área preferencial são mesmo as ilhas britânicas, a Islândia, a Noruega, etc. Visita fundos entre os 10 e os 100 metros, ocorrendo ocasionalmente a maiores profundidades. 
Nas nossas águas, no norte têm tamanhos mais respeitáveis, no sul aparecem muitos mas com medidas curtas, juvenis, com pouco mais que 25 a 30 cm. É um peixe que vive em comunidades enquanto pequeno, em águas rasas, de 5 a 30 metros, até ao fim do primeiro ano de vida. A partir daí aventura-se no mar aberto, em grandes profundidades. Reproduz ao fim de 3 a 4 anos de idade. A taxa de nascimentos no Mar do Norte, é de 32.2% de machos e 67.8% de fêmeas. Em termos de fecundidade, é um campeão. As fêmeas novas colocam cerca de 200.000 ovos, enquanto as mais velhas se lançam para cerca de 1 milhão de ovos. Lembrem-se disto quando pescarem a próxima dourada de 30 cm…e entendam o quanto seria importante voltarmos a ter as grandes reprodutoras….as tais de 7 kgs….
O badejo bacalhau nasce de ovas pelágicas, que se espalham pelo oceano. Muitos dos pequenos peixes que vemos debaixo das alforrecas, são desta espécie. Passam a viver no fundo quando chegam aos 7 a 10 cm de comprimento. Ao fim do primeiro ano poderão ter entre 15 e 19 cm de comprimento, ao fim do segundo entre 22 a 25cm, (os peixes que mais nos visitam), e ao fim de três anos terão 30 a 34 cm. As fêmeas têm um crescimento mais rápido, para uma expectativa de vida de cerca de 10 anos. Não difere dos nossos robalos, em termos de alimentação. Sendo que também em termos de pesca à linha não serão muito diferentes, embora com a propensão para que estes estejam mais encostados a qualquer estrutura de rocha alta, a um destroço de navio afundado, ou ao fundo. O robalo aventura-se mais em águas rasas, e também a caçar à superfície. 
São capturadas anualmente cerca de 150.000 toneladas, sendo vendido fresco, congelado, ou salgado/seco. É ainda utilizado na alimentação de outras espécies de aquacultura. 

Aqui um exemplar de tamanho bem maior do que aquilo que costuma aparecer nas nossas águas.


Em termos gastronómicos, este peixe, um gadídeo, tem uma textura fina, muito próximo da nossa sedentária abrótea, ou da pescada, com uma carne que sai às lascas.


Comecei a vê-los há cerca de 30 anos, nos meus mergulhos de Inverno. 
Nunca os encontrei de pesos acima de 2 kgs, mas cheguei a ver grandes concentrações nos meus mergulhos no Cabo Espichel, junto ao navio afundado River Gurara. 
Curiosamente, sempre foi um mal amado, de preço baixo em lota, no mercado de peixe não excede os 10 a 12 euros/kg. Este chamado “comida para pobres” foi mesmo em tempos remotos utilizado apenas para dar de comer …aos cães e gatos. 
O badejo bacalhau chegou a ser, no século XVIII, mais barato que o seu peso em pão de trigo. 
Não será estranho a isso o facto de frequentemente ter parasitas nas suas guelras, Lernaeocera Branchialis e, quando nos visita, ser atreito a ganhar um hospedeiro indesejado, a pulga do mar, que todos conhecemos. 

Reparem nos parasitas que este badejo apresenta nas suas guelras. Chama-se Lernaeocera Branchialis.


A pulga-do-mar, uma praga que ataca outros peixes, nomeadamente as choupas e as douradas. Normalmente coloca-se na parte lateral da cabeça, por cima do olho, ou mesmo dentro da própria boca do peixe. 
Por vezes as pobres vítimas chegam a ter duas e três, encostadas umas às outras. Têm umas garras de tal forma fortes que os peixes, por mais que façam, não se conseguem desenvencilhar delas. 




Ficam a conhecer o artista….



Vítor Ganchinho



3 Comentários

  1. Respostas
    1. Boa tarde Paulo Fernandes. Muito obrigado! O objetivo é o mesmo de sempre, dar a conhecer, informar, no fundo partilhar algumas das coisas que fui aprendendo ao longo dos meus 51 anos de pescador. Já vos disse que para mim não basta pescar, eu preciso de saber um pouco mais e por isso vou muito ao fundo das questões, estudo, leio, procuro, e este blog é um bom exemplo do método que sigo para informar os meus amigos do que se está a acontecer, quando eles me referem algo de mais estranho. Tenho muita gente a perguntar "que peixe é este", aparecem sempre muitas questões, e neste caso achei por bem falar um pouco sobre estes badejos. É um peixe muito comum nos países nórdicos, mas não aqui entre nós.

      Se tiver algum tema que queira sugerir, estou deste lado, pronto para ajudar, ou para dar pelo menos a minha opinião. Não há verdades absolutas quando se fala de pesca, por vezes as técnicas que resultam aqui não resultam ali, mas há sempre uma explicação para isso. E é aí que eu entro, porque adoro desenterrar assuntos, afastar grão a grão de areia, qual arqueólogo, até chegar ao fundo da questão. A curiosidade mata-me.

      Abraço!
      Vitor

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  2. Agradeço a atenção.
    Pratico pesca em kayak num hobie revolution 13.
    Os meus desafios sao: o espaço e capacidade limitados para canas material e armazenamento, os ciclos do peixe na Figueira da Foz e as condições do mar na Figueira da Foz. ... E o confinamento atual.
    Acabo por recorrer pontualmente a outros locais como Peniche e Setubal, para tentar outras pescas e encontrar outros bons amigos.
    Vou tentar trazer algum assunto que me dê que pensar, para ja vou colocar a leitura deste blog em dia.
    Abraço

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