A influência da pressão atmosférica na pesca à linha

O intuito de vos trazer aqui ao blog estes temas técnicos surge no sentido de poder ajudar, um pouco que seja, a que se formem melhores pescadores, pessoas com mais conhecimento, e que assim, obtenham melhores resultados. 
Aqueles que me conhecem sabem bem da relutância que tenho em tratar temas de pesca com base em “fezadas”, em palpites, ou em “dizem que…”. Confesso o meu desinteresse por ir por essa via. Para mim, aquilo que é determinante é mesmo o que se pode medir, o que é factual, que está registado por milhares de pescadores em todo o mundo, ou seja, que não depende da opinião especulativa de alguém. O artigo de hoje não pretende ser mais profundo do que o necessário, até por limitações de espaço, mas ainda assim suficientemente consequente para que possam entender qual a influência das condições climatéricas no desempenho dos nossos peixes, e de que forma esse conhecimento pode ajudar-nos a entender a razão pela qual acontece isto ou aquilo. 
Pessoas mais informadas são pessoas que decidem melhor. Nisso eu acredito e é por aí que faço o meu caminho.

O aparelho que mede a pressão atmosférica chama-se barómetro, e exige algum estudo e trabalho de base prévio para que possa ser interpretado. Aquilo que é medido em concreto é a pressão que o ar exerce sobre a superfície da terra, e no caso concreto e que mais nos interessa, ao nível do mar, a altitude zero. Entramos em linha de conta com a força da gravidade, que exerce um efeito de atração sobre todos os corpos para baixo, no sentido do centro da Terra, incluindo as moléculas gasosas que envolvem o nosso planeta, a que chamamos atmosfera. A pressão atmsoférica não é sempre constante, varia de acordo com a temperatura e com a densidade do ar, por exemplo, e pode pode ser designada por altas ou baixas pressões. Vamos ver o que é isto: 
As baixas pressões chegam-nos quando temos uma situação de ar ascendente. O ar quente sobe, e deixa por baixo dele uma zona com pouca pressão, com baixa pressão. Este fenómeno dá-se quando temos tempo nublado, com chuva, húmido e cinzento. Porque não existe vácuo na atmosfera, temos que a uma subida de ar quente corresponde sempre uma deslocação de ar mais frio para esse espaço, ar que desce e provoca ventos e instabilidade. O ar frio é mais pesado que o ar quente. Os ventos que tanto nos incomodam na pesca são o resultado dessas gigantescas movimentações de ar, que se deslocam de zonas de ar frio para ocupar zonas onde o ar quente deixou de estar. Assim, e de forma mensurável, um local de baixas pressões é um espaço onde encontramos valores de leitura de pressão de superfície inferiores a 1013 Mb.
As altas pressões surgem aquando da descida de ar frio ao plano em que nos encontramos no nosso barco, digamos a altitude zero, a superfície do mar. A rotação da terra é responsável por esta movimentação de massas de ar, e as pressões são tanto mais altas quanto mais tenhamos um dia de céu limpo, azul, com poucas nuvens, seco. No fundo, o oposto que tínhamos na situação anterior. Para efeitos de cálculo, considera-se que acima de 1013 Mb, são pressões altas. 

Tomemos como padrão de pressão atmosférica normal este valor: 1013 Mb. As subidas ou as descidas relativamente a esta unidade não são em si mesmas sinal de que vamos pescar pouco ou muito. 
A pesca pode correr bem em situações de alta ou baixa pressão. Isto na prática quer, grosso modo, dizer que tanto é possível fazer uma boa pescaria com céu limpo, como com céu nublado. Mas uma variação brusca, para baixo ou para cima, pode prejudicar, porque obriga o peixe a preocupar-se com outras coisas. Vejamos quais os principais factores que temos de saber analisar: 

  • Temperatura ambiente: Quanto mais alta a temperatura do ar, menor é a pressão atmosférica. 
  • Humidade: Quanto mais húmido está o tempo, menor é a pressão. 
Outros factores existem, mas que para nós que pescamos no mar são menos importantes:

  • Altitude: Quanto maior for este valor, menor é a pressão, porque a força de gravidade é mais forte ao nível do mar. À medida que a altitude sobe este valor de força gravitacional desce. Mas dado que estamos sempre a falar de pesca de água salgada, ( seria diferente se tivéssemos de considerar pesca nas montanhas, à truta, por exemplo), tomamos como bons os resultados obtidos a altitude zero, o nível do mar.
  • Densidade do ar: Quanto maior a densidade do ar maior a pressão atmosférica. 

Um barómetro indica-nos a pressão atmosférica que temos ou que vamos ter durante um determinado período.


Para efeitos de cálculo, convencionou-se que as medições seriam feitas com intervalos de tempo regulares, de seis horas. Assim, normalmente os valores apresentados referem-se a duas ocorrências máximas, às 10.00h e às 22.00h, e duas ocorrências mínimas, às 16.00h e às 04.00h. Entre cada ciclo de leitura, poderão existir variações de 2.5 Mb, o que é comum e rotina. 
Dado que a pressão atmosférica ao longo do dia tem variações de temperatura, de humidade e de densidade do ar, tomamos como bom o critério de analisar a nossa saída pelo padrão das 10.00h da manhã. 
Vejamos então efeitos práticos decorrentes destes valores: variações da pressão atmosférica em baixa estão sempre associadas a mau tempo, a vento, chuva, etc. Quanto mais o barómetro baixa, pior será o tempo que está ou que aí vem. Pelo contrário, sempre que a pressão atmosférica sobe, isso será o prenúncio daquilo que convencionámos chamar de “bom tempo”. Atenção a este dado: nunca coincide a existência de mau tempo e pressão alta. 
Forma de medir: coloca-se o ponteiro externo a coincidir com o ponteiro interno. Passado algum tempo, se aconteceu alguma variação de pressão atmosférica, os ponteiros já não serão coincidentes. A essa diferença chamamos variação de pressão para o período de tempo que considerámos, e pode ser maior ou menor, consoante aquilo que esteja a acontecer à nossa volta. E essa será a tendência das próximas 24 horas, esse é o período que podemos e queremos analisar. Uma variação muito grande significa que iremos ter uma mudança de tempo significativa, com tudo o que isso pode provocar em termos de alteração das condições em que os peixes estão a evoluir. Será sempre mais fácil que algo de ruim aconteça, que a instabilidade provoque mudanças de comportamento para pior. Caso os ponteiros se mantenham coincidentes, então isso significa que iremos ter tempo estável, o que para nós e para os peixes serão sempre boas noticias. A estabilidade não obriga a concentrar atenções em nada que não seja a rotina diária e no caso, isso quer dizer ter o comportamento que esperamos. 



À passagem de uma frente fria, temos normalmente melhores condições de pesca. A pressão atmosférica aumenta, os peixes vão estar mais receptivos, e mesmo debaixo de chuva, iremos certamente estar muito entretidos a pescar. De que forma isso pode influenciar peixes que vivem muito profundos, e que por isso e à primeira vista não seriam particularmente afectados pelas movimentações de águas superficiais, é algo que fica em aberto, porque necessitaríamos de mais elementos de análise. Em águas baixas, é previsível que uma agitação destas provoque oxigenação, movimentação de microorganismos, e com isso, agitação no comportamento dos peixes. Digamos que toda a cadeia alimentar tem de se reajustar. Os peixes irão muito provavelmente mudar as suas rotinas, ser forçados a sair dos seus lugares habituais e a procurar comida, para prevenir uma eventual escassez prolongada. Mas de que forma isso afecta os peixes que vivem em profundidade, é algo que ainda está por explicar. Eu não noto diferenças. 
E como funciona a pressão debaixo de água? O que vos posso dizer da minha experiência pessoal é isto: quando faço mergulho em apneia, sinto no corpo as diferenças de pressão de uma forma muito clara: à superfície tenho o valor standard: 1 atmosfera de pressão sobre o meu corpo. Quando chego aos 10 metros de profundidade, duplico essa pressão, de uma para duas atmosferas. Mas quando chego aos 20 metros, aumento para três atmosferas de pressão, ou seja, já não duplico. A grande mudança acontece no primeiro patamar de pressão. O meu fato de mergulho à superficie tem 6 mm de espessura, e lá em baixo poderá ter 3 mm no máximo. O neoprene é esmagado pela pressão da água e o mesmo acontece ao ar que se encontra nos pulmões, cavidades e orgãos. Na subida inverte o processo e normaliza. Se a 100 metros de profundidade os peixes se movimentam num ambiente sujeito a 11 atmosferas de pressão, de que forma podem as pequenas variações que acontecem à superfície, influenciar a sua atitude perante as nossas linhas de pesca? De qualquer forma, não me parece que tenhamos todos os dados desta equação. Basta dizer-vos que a água tem uma densidade cerca de 800 vezes superior ao ar que respiramos. Também propaga o som a uma velocidade de 1.531 metros/ segundo, enquanto no ar, estes se propagam a 343 metros por segundo. Conseguirão os peixes ter algum mecanismo que os “informe” daquilo que se passa no ambiente gasoso, muitos metros acima? A bexiga-natatória, extremamente sensível a pequenas diferenças de pressão, pode ser a chave da pergunta? Será ela, a bexiga, quem determina o comportamento do peixe face a alterações que acontecem muitos metros acima?
Aquilo que sabemos, por experiência de registos de milhares e milhares de pescadores, é que quando a pressão está a diminuir, o “clic” surge. O peixe muda. Uma pequena e aparentemente insignificante diferença de pressão é suficiente para mudar radicalmente os hábitos dos peixes. De que forma isso justifica o aumento da sua apetência pelas nossas iscas/ amostras, é uma outra questão. Se vem por aí uma depressão, sempre marcadas nas cartas de prognóstico de superfície dos serviços de meteorologia, para um pescador isso significa que há que aproveitar bem essas horas de instabilidade, e desde o primeiro momento, dado que nunca sabemos bem quanto tempo irá durar esse período favorável. Mas sabemos que durante esse período a pesca fica favorecida. 

Em momentos de alterações de pressão muito bruscas, para baixo, os peixes tendem a encostar a estruturas de pedra, ou outras, e a permanecer inactivos.


Os seres humanos também sentem as diferenças de pressão. Pessoas com sinusites crónicas tendem a sofrer com as alterações do tempo. No fundo, está tudo ligado. Nós temos milhares de minúsculas bolsas ao lado do nariz e acima das cavidades dos olhos, a que chamamos seios peri-nasais. São responsáveis pela manutenção da humidade nas nossas vias respiratórias. Esse líquido desde dos peri-nasais, passa pelo nariz, pela faringe e vai acabar no estômago. Levou com ele todas as poeiras, vírus, etc que nós engolimos ou respirámos. Quando estes alvéolos estão inflamados, o líquido não passa, não sai pelo tubo capilar, onde por acção da gravidade iria deslizar e cair até ao estômago. Mas continua a produzir-se mais e mais. Quando as bolsas estão cheias, a pressão aumenta, e surge a dor de cabeça, ou enxaqueca. É uma dor terrível, dificilmente suportável, e que deixa prostradas as pessoas que sofrem deste mal. O tratamento é feito através de anti-histamínicos e depois de desinflamar os peri-nasais, tudo volta ao normal. Mas este é um processo que é muito prejudicado exactamente pela situação de que estamos a tratar hoje, a pressão atmosférica. Sendo os peixes seres muito dependentes da estabilidade da sua pressão interior, do equilíbrio da sua bexiga-natatória, é natural que se sintam incomodados com variações muito bruscas. Podemos pensar que a uma variação brusca da pressão corresponderá uma necessidade de afundamento, para compensar esse abaixamento de pressão exterior. E que por isso não tenham a mesma disponibilidade para procurar alimento, ou seja, que não piquem nos nossos anzóis. Quanto mais à superfície mais esses valores serão notados, já vimos que a 10 metros de fundo, temos uma duplicação de pressão. Por desconforto, é aceitável pensar que possam afundar para águas onde encontram um superior equilíbrio. 

Vamos então ver como a pressão influencia o comportamento do peixe: 

Pressão ligeiramente abaixo do valor padrão, 1013Mb: 

1- Tempo nublado e águas mais quentes – situação de Verão, o peixe desloca-se para zonas mais superficiais, torna-se mais agressivo e ataca as nossas iscas.

2- Tempo nublado e águas mais frias- situação de Inverno, o peixe desloca-se para zonas mais fundas, e tende a entocar em buracos.


Pressão baixa, muito abaixo de 1013 Mb: 

1- Tempo de chuva e vento, com muita ondulação: o peixe torna-se menos activo, tende a afundar na sua quase generalidade. 


Pressão alta, acima de 1016 Mb: 

1- Tempo com céu limpo e claro, com muito sol, sem nuvens: o peixe baixa a maiores profundidades, encosta a estruturas de pedra, buracos, plantas, e reduz a actividade. 

Pressão a aumentar, a subir dos 1013 Mb: 

1- Tempo a clarear, as nuvens desaparecem, o céu fica azul, limpo: O peixe tende a sair das profundidades, torna-se activo, encosta aos baixios e começa a comer.


Pressão normal, estável, nos 1013 Mb:

1- O peixe tem um comportamento normal, aquilo a que estamos habituados na nossa zona de pesca.


Pressão em queda. Tempo a piorar, depois de um situação e vários dias de estabilidade. O peixe pressente estas alterações e aumenta muito significativamente a procura de alimentos. É o pico máximo. É o momento de pescar as pedras mais superficiais, e aproveitar a conjuntura para ferrar peixes que comem avidamente, descuidados, muito preocupados em conseguir alimentos que lhes sirvam para os próximos dias. 
Para quem pesca com amostras, pode aumentar a velocidade de recuperação porque os peixes vão sentir-se excitados com isso. Este é o momento em que os peixes miúdos não sabem onde esconder-se. 

Voltamos a repetir: as diferenças de pressão notam-se mais em águas mais rasas, do que em fundões muito significativos. Por vezes pesco com carretos eléctricos na Pedra Garçone, a cerca de 350 metros de fundo. Não noto grandes diferenças de atitude, o peixe tem um comportamento estável. Mas mais à superficie, digamos a 10, 20, 40 metros, sim, as diferenças de comportamento já são significativas. São os dias em que o peixe come assim que a nossa isca lhe chega perto. A tal coisa deles ficarem…."malucos"...


Vítor Ganchinho



2 Comentários

  1. Ahhh finalmente alguém aborda esta questão a sério!!!!
    Realmente até em nós a pressão atmosferica tem bastante influencia.
    Quando os mais idosos se queixam da humidade de um temporal, na verdade estão a sentir é a menor pressão de uma depressão atmosférica!!
    Na Figueira da Foz tem bastante influencia na atitude dos peixinhos!
    Obrigado pelo artigo! Abraço

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    1. Bom dia Paulo Fernandes A pesca é um conjunto de tantos fatores diversos, que dificilmente alguém alguma vez saberá tudo. Mas podemos chegar o mais perto possível de conseguir entender aquilo que se está a passar. Quando alguém consegue controlar alguns dos fatores, e chega mais próximo daquilo que é necessário fazer para conseguir sucesso, ...já vale a pena.
      Há pessoas que atiram tudo para cima do habitual..." hoje não queriam picar"....e está feito. E há outros que procuram ir mais longe, e podem dizer: " nestas condições, aquilo que há a fazer é isto..."

      Abraço
      Vitor

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