Arribadas de algas - um incómodo?

Para os banhistas, são consideradas um incómodo. Para os pescadores de surf-casting, ainda pior: um impedimento. 
As algas aparentemente são detritos que não interessam a ninguém. Mas será mesmo assim?
Parece-me interessante analisar este assunto, e quem sabe, fazer-vos mudar de opinião. 

O coberto vegetal das nossas águas dá guarida a uma infinidade de seres vivos que dele vivem, ou para se alimentarem, ou para se camuflarem e esconderem dos seus predadores, ou para se emboscarem quando estão a caçar. Na verdade, sem algas e plantas aquáticas, (faço a separação porque não é a mesma coisa, e explico-vos abaixo o porquê), os nossos fundos seriam muito mais pobres. 
Comecemos então por definir o que são algas e plantas: 

A palavra alga vem do latim, e significa exactamente planta marinha. Acredita-se que as plantas terrestres evoluíram a partir das algas marinhas. Mas os líquenes que encontramos nas zonas sombrias do nosso quintal, normalmente num meio húmido, também são algas. Não vamos complicar demasiado, e por isso deixamos os termos de “Stramenopila”, as algas castanhas e as diatomáceas, ou as “Rhodophytas”, as algas vermelhas, ou as “Chrolophytas”, as algas verdes. 
Se quisermos simplificar, podemos definir apenas dois campos distintos: algas de forma unicelular, as planctónicas que dão cor verde às nossas águas costeiras e são algas soltas, que se movimentam com as correntes. 
Os dinoflagelados, algas pluricelulares que se constituem em formas filamentosas, as folhas, com ou sem caule, bentónicas, que estão fixas a uma estrutura. 
Poderíamos ainda separá-las em microalgas, as que apenas se vêm ao microscópio, e as macroalgas, as que são visíveis a olho nu. Estas últimas são aquelas a que normalmente chamamos de “plantas”. Pois que seja…para efeitos de entendimento, chamemos algas a tudo….

Praia coberta de um manto de algas, trazidas pela maré.


Normalmente são as grandes tempestades as responsáveis pelo arrancar ou partir desta massa vegetal, nos fundos onde estão fixas. O resto é trabalho das correntes, dos ventos e das marés.
A existência de algas junto à costa é o garante de que teremos vida associada, em quantidade e qualidade. O primeiro efeito da existência destas algas é a quantidade enorme de camarão que se cria debaixo destes mantos, e que irá inevitavelmente atrair os comedores de camarão. Falamos de sargos, de douradas, de robalos, bodiões, etc. Haver matéria orgânica em decomposição é um chamariz para tudo o que se alimenta desses detritos, dessa massa vegetal tão importante para o meio marinho. Numa situação destas, é gerada uma cadeia alimentar complexa, que apenas termina nos predadores de topo os tais que nos interessam para a pesca lúdica. 
Bem pior que haver um manto de algas, as tais que são incómodas para os praticantes de surf-casting, era não haver rigorosamente nada, era termos apenas pedra e areia limpa. Porque esse seria um habitat vazio, amorfo, sem interesse para as espécies piscícolas. Haver algas é algo de extrema importância, e deveríamos agradecer aos céus o facto de ainda termos algumas. 

Bonita foto de um amontoado de diferentes espécies de algas.

Uma santola que usa as algas para se cobrir. Sem elas, estaria muito mais exposta a predadores, nomeadamente os pampos.

Reparem o quanto esta santola é mais visível, quando se desloca numa rocha lisa,  em que não existem algas. 

Inúmeros seres vivos dependem de algas para a sua alimentação. Sem estes vegetais, grande parte da vida que conhecemos não seria mesmo possível.

Este polvo, quando se desloca na areia está numa situação crítica para a sua sobrevivência. Neste local  apenas encontra um pequeno tufo de algas para se esconder.

Aqui, esta “carracinha pequenina” vai conseguir ocultar-se de forma a que poucos seres o conseguirão descobrir. Debaixo das algas vai conseguir esconder-se sem problemas e continuar a sua vida.


Seria bom pensarmos duas vezes, antes de praguejarmos quando vamos pescar e encontramos o mar com algas. Com elas estamos seguros de que a vida marinha que nos interessa, não andará por longe….



Vitor Ganchinho



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