Gente discreta, que os nossos olhos não vêem

Para quem nunca teve a curiosidade de mergulhar, seguramente que há coisas no mar que parecem estranhas. Mesmo para quem está habituado a descer até profundidades respeitáveis, há detalhes que nem sempre despertam a atenção. Se a pessoa que mergulha está a caçar activamente um peixe, por exemplo sargos, ou robalos, procura-os na coluna de água, a nadar livremente, e é muito comum que não consiga ver outros seres que estão fixos ao substrato rochoso, polvos, santolas, ou até enterrados na areia, o caso dos linguados, das solhas, dos pregados, etc. 

Porque para ambos pode ser curioso mostrar como se escondem e onde, aqui vos trago algumas imagens, para que fiquem com uma ideia daquilo que existe por baixo do nosso barco, e que na maior parte das vezes se torna absolutamente invisível. 
Excepto a olhos treinados…

Aqui parece fácil, mas é apenas porque eu retirei os outros duzentos metros quadrados de algas que estão ao lado, para que o possam ver. No meio de pedras e algas, este polvo é virtualmente invisível.


Outro exemplo de mimetismo absoluto. Este peixe fica completamente estático e é dessa forma que se alimenta. Por vezes, os nossos anzóis têm o azar de cair muito perto deles, e então aí, a pesca sobe com um rascasso, que à superfície nos surge em cores muito garridas, de vermelho forte. No fundo têm esta cor. 


Um tipo de linguado que vive na rocha e não na areia, a “bruxa” é comestível e de alguma forma, algo rara. Não atinge grandes dimensões, cerca de 20 a 25 cm. É um peixe muito discreto, preferindo zonas sombrias.


A navalheira, um crustáceo delicioso, que preferencialmente sai para comer à noite, e por isso descansa durante o dia. É muito tímido, escondendo-se normalmente em zonas onde existem safios. Aproveita os restos de peixe destes.


A santola, outro dos “invisíveis” que os nossos olhos raramente conseguem identificar. Se estiver, como costuma estar, absolutamente imóvel, só por acidente será vista. Tenho colegas de mergulho que só as conseguem ver no último instante, quando eu lhes digo para colocarem a mão... em cima. 




Quando existem sargos, ou outros peixes na zona, é natural que os nossos olhos se detenham sobre eles, e o seu movimento, e por isso deixamos de prestar atenção a outras coisas, nomeadamente a seres que fazem da camuflagem a sua maior arma. Deixamos de os ver porque não conseguimos literalmente fazer duas coisas tão distintas ao mesmo tempo. 

Espero que tenham gostado. 



Vitor Ganchinho



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