A cavala - Tão desprezada e no entanto, peixe tão importante para nós

Temos tanta e não lhe damos valor. 
Esta é a verdade nua e crua: a cavala deveria ser de longe uma das espécies mais consumidas entre nós e no entanto desprezamo-la por completo. 
Vamos hoje analisar à lupa este peixe que tanto pode fazer pela nossa saúde. 

A cavala é extremamente apreciada em mercados do norte da Europa, onde, pelas suas características de peixe azul, muito rico em Ómega 3, tende a ser cada vez mais consumida. Por cá não acontece. 
De facto, este escombrídeo de rápido crescimento, (aos 3 anos está pronto a reproduzir), e cujos efectivos na nossa costa ultrapassam largamente qualquer possível preocupação relativamente ao estado de saúde dos stocks, é um dos peixes que mais exportamos sob a forma de conservas. Outros tempos houve em que era consumida seca ao sol, depois de passada por uma moura de sal. Hoje em dia o mais corrente é ser escalada e grelhada na brasa, frita quando pequena, ou cozida em troços, quando de maior tamanho. 
Nas nossas águas Atlânticas pode facilmente chegar aos 2 kgs de peso. O mês de Setembro e Outubro são os meses destes exemplares de maior porte, os quais aparecem junto à costa no final das águas quentes de Verão. 

Os cardumes de cavalas podem facilmente ter alguns milhares de indivíduos.


A cavala, “scomber japonicus”, vive desde a superfície até aos 300 metros de fundo. É mesmo muito frequente vê-la a filtrar água à superfície, aproveitando as ovas que outras espécies largaram na coluna de água e têm comportamento pelágico durante algum tempo. Porque se tratam de ovas de cor transparente, não são para nós visíveis, mas estão lá e as cavalas sabem disso. E comem-nas. 

Formam-se grandes bancos de peixes, com milhares de indivíduos, e em determinados períodos do ano concentram-se sobre zonas muito pouco profundas da plataforma continental, atraindo até nós grandes predadores que delas se alimentam. Com efeito, é comum encontrar espadartes, atuns, tintureiras, robalos, corvinas, etc, em cima dos cardumes deste peixe, que se reproduz com uma cadência que dispensa preocupações. A cavala tem vindo aos poucos a ocupar o espaço anteriormente reservado à sardinha, a qual, dada a sobre exploração a que foi sujeita, reduziu bastante os seus efectivos. 

Trata-se de um peixe com baixo teor de mercúrio, com gorduras pelo que é uma excelente alternativa na cozinha.


A Organização Mundial de Saúde, conhecedora das suas qualidades organolépticas, aconselha-a como parte integrante de uma dieta equilibrada. Sabemos que, comparativamente ao salmão, por exemplo, tem uma quantidade de ómega 3 que excede o dobro deste, sendo o seu preço de mercado bastante inferior, não chegando em lota a 1 euro / kg. Será porventura este factor, e a sua dificuldade de comercialização em fresco, a maior garantia que a espécie tem de sobrevivência. Os armadores preferem não concentrar as suas atenções sobre um peixe que vale menos de 30 cêntimos/ kg, e por isso só em último recurso aceitam trazer caixas da cavala para terra. Pode ser utilizada na confecção de farinhas e rações para alimentação de animais, mas tem de facto uma função bem mais nobre: tratar de nós, humanos. 

Vejamos qual a importância das gorduras da cavala no nosso bem-estar físico, em números: 

Por cada 100g de alimento cru, obtém-se:
  • Energia: 202 kcal
  • Proteína: 20,3 g
  • Gordura: 13,4 g (dos quais 3,7 e 4,7 g são monoinsaturados e polinsaturados, respectivamente)

Gorduras boas: 

Poliinsaturadas – óleos vegetais como o óleo de soja, milho e girassol possuem ômega 6; soja, óleo de canola, linhaça e peixes de águas frias, como cavala, sardinha, salmão e arenque são ricos em ômega 3.

Monoinsaturadas – azeite de oliva, azeitona, óleo de canola, abacate e nas oleaginosas (castanhas, nozes, amêndoas, amendoim).

Gorduras ruins:

Saturada – carnes gordurosas, leite integral e derivados, polpa e leite de coco e óleo de dendê.

Trans – sorvetes cremosos, chocolates, pães recheados, molhos para salada, sobremesas cremosas, biscoitos recheados, alimentos com consistência crocante (nuggets, croissants, tortas), bolos industrializados, e alguns alimentos produzidos em redes de “fast-food”.


Os ácidos gordos ómega-3 contribuem para o bom funcionamento do coração, quando inseridos num estilo de vida saudável e numa dieta variada e equilibrada. Além disso, podem ajudar a prevenir doenças neuro degenerativas. Trata-se efectivamente de uma excelente fonte de proteína, sem qualquer teor de hidratos de carbono, e com uma componente de gordura não saturada que nos interessa particularmente. Além destes macronutrientes, fornece-nos uma boa quantidade de vitaminas e minerais, entre os quais destacamos a vitamina A, B6 e B12, e ainda o fósforo, potássio e o cálcio. Previne doenças cardiovasculares, obstruções das veias, doenças do coração como a aterosclerose, previne arritmias e ataques cardíacos. Também diminui o risco de desenvolver diabetes, sendo os seus ácidos gordos monoinsaturados utilizados pelo nosso corpo, (e isto importa ainda mais aos diabéticos), para controlar os níveis de açúcar no sangue. Para quem tem pneus na cintura, a cavala ajuda ainda a reduzir a gordura abdominal. 
A sua componente de potássio ajuda-nos a controlar a tensão arterial, e diminui o risco de problemas nos indivíduos hipertensos. Sabemos ainda que reduz as possibilidades de a pessoa que a consome venha a desenvolver doença de Parkinson e Alzheimer. Para quem sofre de artrite reumatóide, ou seja, quem tem regularmente dores nas articulações, a cavala fornece elementos em quantidade suficiente para atenuar essas dores, já que possui propriedades anti-inflamatórias. 
Tratando-se de um peixe gordo, podemos obter dela um aporte de gorduras que nos é imprescindível à manutenção da nossa saúde. As gorduras boas são indispensáveis à manutenção da nossa temperatura corporal, formação de hormonas, protecção de órgãos internos, e muito importante, absorção e alguns tipos de vitaminas lipossolúveis, ou seja, que não podem ser absorvidas sem a presença de gorduras, tais como a vitamina A, D, E, e K. São ainda uma importante fonte de energia qua actua quando já esgotámos as reservas de energia de rápido consumo. A gordura polinsaturada da cavala auxilia na redução do colesterol total, e do LDL, o colesterol ruim. 

Ricardo Antunes, a pescar à chumbadinha e aqui a fazer uma dupla de cavalas, porventura capturadas a meia água.


Da próxima vez que as pescar pense duas vezes antes de as restituir à água. Os peixes que traz para casa podem brilhar muito, mas não fazer tanto pela sua saúde.


Vítor Ganchinho



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