A diferença entre besugos e gorazes

Poupem-me a dizer-vos as vezes que já corrigi pessoas por chamarem “besugos” aos gorazes. Nem tenho ideia das centenas de vezes que isso me aconteceu e por isso, o dia de hoje é dedicado a esclarecer de vez as diferenças entre um e outro. 

Hoje é dia de pesca profunda, é dia de lançarmos as iscas em cotas escuras, onde os peixes têm olhos grandes. 

O meu amigo Carlos Campos, a mostrar um goraz. Foto feita por mim no Clube Naval Setubalense, em 10.12.2020.


Comecemos por identificar ambas as espécies: 

O goraz, “Pagellus bogaraveo”, é um peixe de grandes profundidades, que ocorre entre os 150 e os 300 metros, ocasionalmente até aos 700 metros. Pode atingir os 15 anos de idade e os 4 kgs, por vezes um pouco mais em ambientes muito preservados, habitats que pouco são pescados, e em que é possível conseguir capturas até aos 70cm. Em definitivo, não é um peixe para ser capturado por quem pesca de terra, precisa de fundo, muita água em cima, e não temos pesqueiros com esta profundidade colados a terra. O goraz é um exclusivo de quem pesca de barco. 
Pertence à família Sparidae, e o seu ponto negro acima da barbatana peitoral identifica-o perfeitamente. Podem ver na foto acima este ponto a coincidir com o términus da linha lateral. O comprimento do focinho é inferior ao diâmetro do olho. 
Desloca-se pelos fundos de areia, pedra ou vasa, indistintamente, na sua procura diária de pequenos peixes, vermes, moluscos, crustáceos e invertebrados. 
Sabemos que os peixes de maior tamanho têm tendência a formar pequenos cardumes, de poucos indivíduos. Na sua fase de juvenis, a concentração de peixes é muito grande, e podem ser às centenas. Os adultos encostam um pouco mais a terra de Janeiro a Junho, para desovar. 

Goraz,  “Pagellus bogaraveo”, um peixe fino, de grande qualidade à mesa. quando feito no forno.


Este bentopelágico pesca-se particularmente bem com sardinha, e lula de arte, a lula de 5/ 6 cm, que lhe serve perfeitamente. Não tem caninos, e assim, a sua pequena boca prefere iscos macios, que possa engolir sem ter de rasgar. 
Porque a boca é efectivamente pequena, mas o peixe pode ter tamanho considerável, os anzóis para o goraz não podem ser uns quaisquer. Têm forçosamente de ser pequenos sim, mas resistentes, preferencialmente de haste longa, e com barbela significativamente alta, já que a sua pesca pressupõe o levantamento do peixe de grandes profundidades, e com este sempre a debater-se. O goraz não se rende, bate desde o fundo até à superfície. 
Podem ver abaixo qual o formato de anzol indicado, sendo que o tamanho a utilizar depende sempre do stock de peixes disponível na nossa área de pesca. Há zonas com peixe miúdo, sem grande interesse técnico, mas também há pesqueiros com peixe grande e aí vale a pena estar bem equipado. 
Para as nossas águas continentais, o tamanho 2/0 Shout é mais que suficiente, para peixes até 3kgs.
Isca-se a sardinha, ou a lula, ao longo do anzol, na vertical, deixando a ponta ligeiramente visível, na base da iscada. O goraz sorve a isca e fica imediatamente com o anzol em posição de cravar. Quando há muitos e estão em fase de frenesim alimentar, é corrente que se ferrem sozinhos. 

O formato é este, o tamanho a utilizar para gorazes entre 1 kg e os 3 kgs, será o nº 3/0, ou 4/0, dependendo do peixe que existe no pesqueiro.


Porque se tratam de anzóis caros, a alternativa será a de aplicar nas nossas baixadas o formato SOI-W tamanho 3/0 a 4/0, da marca FUDO Hooks Japan, os quais, mantendo a qualidade japonesa, têm um preço bem mais simpático, de 1.60 euros, por cada carteira de 8 peças. Podem encontrá-los na GO Fishing Portugal




Um erro frequente é que os pescadores atem a isca com elástico. 
Tratando-se de sardinha congelada em más condições, a desfazer-se, (não será o ideal para esta pesca, em que a isca viaja tanto tempo na coluna de água, sujeita a uma pressão muito grande, e arrastada por uma chumbada que pode ter peso significativo se pescarmos em zonas muito fundas, mas que nunca é leve, logo nunca baixa devagar), aceito a ideia de proteger a chegada da isca ao fundo. O elástico é um acessório que apenas é utilizado quando fomos negligentes na compra da isca…e tivemos de recorrer ao congelado. Cavala fresca é melhor que sardinha velha congelada.
No caso de ser sardinha fresca, vivinha, rija, só vejo vantagens em deixarmos que os troços de sardinha, depois da ferragem, fiquem todos na zona onde pescamos. Isso garante-nos a permanência dos peixes na nossa zona de pesca, pelo menos por muito mais tempo do que aquele que teríamos caso não ficasse lá nada. Não esquecer que o goraz passeia pelos fundos e não permanece durante muito tempo na mesma zona. 
Pesquei em fundos açorianos, cristas de rocha a 200/ 400 mts de fundo, bem longe da costa, e aquilo que senti é que o peixe tem revoadas, vai e vem, e enquanto sente comida fica. Em pesqueiros mais baixos, entre os 200 e os 250 metros, a quantidade de peixe miúdo, gorazes até 0.5 kg é enorme, e aí pode-se pescar todo o dia sem quebras. Pica sempre. 
Também por cá, no continente, temos gorazes de tamanho modesto, até 1 kg, a profundidades inferiores a 130 metros. Podem inclusive estar misturados com besugos, o que não ajuda quem não conhece a fazer a sua identificação. Em termos gerais, quem quer gorazes pequenos pesca baixo, quem quer os maiores, pesca fundo. Por cá pescam-se com baixadas de 0.60 mm e estralhos de 0.50mm, nos Açores, e porque pode aparecer um ou outro cherne, é melhor subir para 0.70 e 0.60mm, respectivamente. A utilização de destorcedores de boa qualidade é imprescindível. 

O autor, com um goraz de 3 kgs, capturado a 450 metros de fundo, com sardinha.

Um outro, com a sua malha preta bem visível para que não haja dúvidas de que tratamos de gorazes, e não de besugos.


E vamos então ver o outro interveniente deste artigo, o besugo, o nosso “Pagellus acarne”, tão português. É um peixe simpático, que nos resolve muitas vezes as pescas daqueles dias dificeis, em que as coisas estão a correr mal. 
Não cresce tanto quanto o goraz, fica-se pelos modestos 600 a 800 gr, sendo raros os de maior porte. Apresenta uma mancha vermelha na inserção da barbatana lateral, e tem a cabeça mais alongada que o goraz. O comprimento do focinho é maior que o tamanho do olho. 
São entre nós conhecidos como “pachões” quando pequenos, e crescem em águas pouco fundas até terem o tamanho certo para poderem enfrentar os desafios das profundidades. Aos 4 a 5 anos, poderão ter entre 22 a 25 cm de comprimento, pelo que não têm um crescimento particularmente rápido. 
É uma espécie hermafrodita protandrios, sendo os exemplares jovens sempre machos e passando a fêmeas à medida que atingem o tamanho certo para isso. 
Alimenta-se de moluscos e crustáceos, eventualmente de algas marinhas. Na sua peregrinação em frente ao rio Sado, é frequente que encontre em dadas alturas do ano as algas na sua fase de quebra e apodrecimento, e nessa fase a sua carne exala um cheiro mais desagradável. 
Alguns meses mais tarde volta à foz do Sado, mas aí para aproveitar as arribadas de pequenos, diria minúsculos búzios, que adora. Pesca-se preferencialmente com arenícolas, ganso coreano, ganso nacional, casulo, e também entra bem à sardinha e à lula de bico. 

O besugo, um peixe que também nos dá algumas alegrias, sobretudo se grelhado com escama, na altura certa do ano, e sendo pescado e bem preservado em água do mar até chegar a casa.


Os bancos de peixes jovens podem ter centenas de indivíduos. Fantástica foto!!


Em termos de equipamentos, um carreto eléctrico ligeiro ajuda bastante, e faz a diferença entre um flagêlo de dores corporais e um dia bem passado. A cana deve ser específica para este tipo de pesca, com talão forte, a aguentar a pressão da chumbada, mas de ponteira sensível, para fácil detecção dos toques. A minha sugestão vai, para quem pesca com carreto tradicional, para uma cana da Daiwa: 



Referência: 4960652112239
Comprimento: 2,40m
Seções: 2 pcs
Dimensões: 182cm
Peso: 195g
Peso da chumbada: 80-200g
Diâmetro ponta/base: 2.1/12.6mm
Carbono: 82%
EAN: 4960652112239


E para quem pesca com carreto eléctrico, a seguinte referência, com pega de gatilho, para melhor estabilidade na mão: 



Referência: 4960652217286
Comprimento: 2.30m
Elementos: 2
Dimensões: 120cm
Diâmetro ponta/base: 1/14.4mm
Peso: 205g
Carbono: 71%
Chumbada: Até 160gr
EAN: 4960652217286


Ambas em stock, …no sítio do costume. 


O besugo não é um peixe difícil, de todo, tem uma voracidade assinalável, não reclama de iscas já meio ratadas, e é benevolente com o tempo que algumas pessoas esperam para o ferrar. 
Isso deve-se essencialmente ao facto de ser um peixe de cardume, e por isso, ter de garantir o seu bocado, antes dos outros. É essa pressa que o perde, e que o torna um alvo fácil para nós. 
A boca do besugo é relativamente grande para o tamanho do peixe, pelo que podemos pescá-lo com os mesmo anzóis que utilizaríamos para os pargos pequenos, os FDBK da FUDO Hooks Japan, com ou sem olhal, nos tamanhos 1/0 ou 2/0: Preço: 1.60€/ saquetas de 9 unidades. 



Referência: 4540283631516
Tamanho (1/0)
Quantidade de peças por saqueta (9)
Cor: black nickel ou niquelado






E bom, espero que tenham ficado com uma ideia do que são gorazes e besugos, e não voltem a baralhar os nomes. Há uma pessoa que os conhece como ninguém, alguém que dedica muito do seu tempo a estes peixes, e por quem tenho o maior respeito: Jó Pinto, um pescador de fina água, e um amigo. 



O meu amigo Jó Pinto não lhes perdoa, e faz triplas com frequência. Porque pesca sempre com carreto manual, e as profundidades são sempre significativas, ….é natural que tenha artroses e dores horríveis nos membros superiores. Dores de ombros e cotovelos são com ele, todos os dias, e combate-as com analgésicos potentes, mas resolveu pescar à mão, deixando em casa os seus carretos elétricos. Santo Deus!



Vítor Ganchinho



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