A importância dos peões de pedra

A costa não é toda praia lisa, nem sequer é formada por pés-de-galo de tamanho uniforme. O recorte de rocha existe como foi esculpido pela natureza, com caneiros, paredes verticais, e peões isolados.
Falamos hoje de peões de pedra, como que pinos isolados. Sim, e que importância podem ter para os habitantes marinhos?

Quando a onda entra terra dentro, de uma ou outra forma é travada no seu movimento por algo. Pode ser areia, no caso de praias simples, pode ser cascalho, ou areão grosso, ou podem ser os ditos peões. Quando não há nada disto, é a parede de pedra que aguenta os embates. Mas a onda é paulatinamente travada, obstáculo a obstáculo, e quando chega ao litoral, mesmo em momentos de grandes tempestades, já vem normalmente muito desvanecida. O que quer dizer que já foi pior, em mar alto.
Um dos responsáveis por esta atenuação de impacto são os peões costeiros. Dividem a onda, fraccionam-na e isso retira-lhe poder.
Junto a estes peões, o fluxo e refluxo da água é normalmente responsável por zonas muito oxigenadas, muito dinâmicas, que permitem a criação de vida, de todas as formas conhecidas. Mas porque se tratam de zonas com “enchios”, com entradas de água muito abrupta, é mais comum que sejam zonas sem muita vegetação. Por outras palavras, este é o terreno dos mariscadores, dos que nasceram para enfrentar as correntes.

Vamos ver exemplos com imagens já a seguir.



Pela sua configuração, são de um grande hidro-dinamismo, e fazem com que à sua volta exista normalmente vida. A começar pelos pequenos seres que vivem agarrados às pedras, as cracas, os mexilhões, os perceves, etc, que por sua vez são a base alimentar dos nossos peixes mariscadores.




Porque são zonas muito irregulares, quando se encontram junto à costa também podem oferecer protecção a pequenos peixes, que aqui procuram esconder-se dos seus predadores.
Quando pensamos que há peixes em toda a extensão de costa, estamos a lavrar num erro crasso. Não há, nem perto disso. Aquilo que temos são zonas muito densamente povoadas, intercaladas de outras em que ver um peixe é algo de raro.
Terá sobretudo a ver com as condições que esse local tem para oferecer. De uma forma geral, as zonas expostas aos ventos e às correntes são mais procuradas pelos grandes peixes do que as zonas abrigadas. Estas, criam sobretudo peixe pequeno, que um dia irá, segundo a espécie, passar para o outro lado, já crescido, em condições de poder enfrentar o esforço de se manter nas correntes. Ainda de uma forma mais ou menos consensual, poderemos dizer que as áreas expostas criam comida para os mariscadores, e que as áreas protegidas alimentam os peixes que se alimentam de outros recursos, nomeadamente vegetais.


São plantas marinhas, mas não só.  No meio, um bodião verde procura passar despercebido. O coberto vegetal tem a extrema importância de dar segurança, esconderijo, e ao mesmo tempo oferece alimentação a algumas espécies.


Um bom exemplo de uma zona com vegetação abundante. Significa desde logo que se encontra longe de uma zona ressacada pelas ondas.


Normalmente são locais que ficam do lado protegido de um cabo, uma baía profunda, onde raramente existe a entrada de ondulação significativa. Têm vida, e abundante, mas de tamanho modesto, reduzido.
Eventualmente poderemos encontrar aqui um safio, uma abrótea, polvos, chocos, bogas, tainhas, …e sargos juvenis.




Zonas de pedra solta são procuradas pelos peixes, mas sobretudo no pós tempestade, quando é possível encontrar comida que ficou esmagada pelo rolamento de calhaus.
Em condições normais, são locais pouco apelativos para os peixes de grande porte. Não é aqui que os grandes sargos, ou as douradas, gostam de estar em permanência, mas passam por cá em certos momentos.
Em contrapartida, podem passar aqui robalos de respeito, na sua patrulha por locais com peixe miúdo….


Bem visível a zona de espuma criada pela chegada da onda. Estas são as zonas onde os mariscos conseguem hidro-dinamismo suficiente para prosperarem.


Os perceves, os mexilhões, precisam deste tipo de fundos, pois são filtradores de partículas. Se não houver água corrente, …não comem.


Ei-los que disputam um lugar ao sol. Este tipo de vida, cracas e perceves, necessita de águas agitadas para se conseguir alimentar. Em zonas sem hidro-dinamismo, não conseguem viver.




Numa zona intermédia, encontramos ouriços, um alimento para mariscadores bem preparados para enfrentar os seus espinhos. Os sargos adoram.




No Algarve temos peões de pedra que são particularmente famosos: Pedra do Cajado, Pedra da Galé, Pedra da Agulha, o Gigante, etc.
Ninguém conseguirá imaginar alguma vez as toneladas de peixes que já foram capturados nestes locais…..



Vítor Ganchinho



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