Acessórios úteis - O pára-quedas, uma âncora de superfície

Por vezes perguntam-me como posso pescar com jigs de 20 gramas a profundidades de 30/ 40 metros, ou 30 gramas a 50/ 60 metros. 
Na verdade, não seria capaz de o fazer regularmente, excepto em dias muito favoráveis, sem vento, e apenas durante um período restrito do dia, ou seja, naqueles breves momentos do estofo da maré, enquanto o barco se mantém quase parado. Mas eu consigo fazê-lo em dias de muito vento, porque utilizo um travão de vento, esse inimigo público nº 1. Em circunstâncias normais, a corrente e o vento são os primeiros inimigos de uma boa pescaria de Light Jigging. Explico porquê: 

Quando pescamos com canas e carretos invertidos, ou seja, com os passadores da cana para cima, se é verdade que ganhamos muito em velocidade de descida, e consequentemente no tempo de chegada do jig ao fundo, também perdemos na capacidade de o lançar a alguma distância. A equação que temos para resolver é: o que consideramos mais importante? Pescar na vertical ou poder lançar longe?
Ponderando os prós e os contras, eu vou na cana com passadores para cima. Prefiro poder pescar na vertical, porque a animação do jig é francamente mais eficaz. É tudo uma questão de hábito, e entendo que os aspectos positivos compensam a impossibilidade de lançar mais adiante. Até pela própria ferragem, que é mais forte. Há anos que percebi que ter o cabo da cana apoiado no antebraço traz vantagens acrescidas em termos de ferragem dos peixes. Quando batem no jig, e porque o cotovelo está bloqueado pela omoplata e ombro, não sobe… oferece um ponto de apoio rígido, que ajuda a cravar o anzol. 
Da mesma forma que, quando se é dextro, lançar para a esquerda significa poder apoiar o talão da cana no antebraço, oferecendo um ponto de apoio à cana, tornando-a mais firme, e consequentemente mais eficaz na ferragem. Quando lançamos para a direita, é exactamente o oposto, e a pior opção em termos de firmeza de braço. Para os esquerdinos, os canhotos, será ao contrário. A Shimano lançou uma linha de canas para jigging em que é possível acoplar um acessório que alivia a tensão na mão, e considera a possibilidade de a pessoa ser destra ou esquerda, porque este aspecto pode ser muito importante. 
Em suma, para mim, a cana com carreto invertido, sem dúvida. Pelo seu fácil manuseamento, ferragem rápida, bloqueio instantâneo da descida de linha, etc. Mas a possibilidade de compensarmos a velocidade de deslocação do barco, essa perde-se.
E com isso, quantas vezes ficamos numa situação difícil, em que não somos capazes de pescar nas zonas mais fundas, ou a fazê-lo, apenas conseguimos algo parecido com o modelo original de jiiging vertical. Porque o barco não nos dá descanso, porque se move e nos retira dos bons locais, da pedra e de cima do peixe. Ficamos com a pesca “espiada”, ou seja, com um ângulo de inclinação muito aberto, longe dos 90º que queremos fazer em relação ao fundo, ou seja, da verticalidade. 

Aqui bastante bem visível o trabalho do pára-quedas no meu barco. Trata-se de uma capa com várias cintas tensoras, sendo um a delas de cor diferente, a laranja. Esta, está presa ao fundo do copo, e quando puxada, desarma o sistema, tornando muito fácil a sua recuperação, sem esforço.


Quando pescamos com jigs pesados, o problema nem se coloca, é aumentar peso e mais peso, até conseguirmos obter uma linha vertical mais ou menos direita. E aí, pescamos. 
Mas pescamos mal, porque à medida que aumentamos o peso, também reduzimos drasticamente as nossas capacidades de animar convenientemente o nosso jig, de o tornar interessante para o peixe que está a caçar no fundo. 
Um jig pequeno desliza na água, vira-se e revira-se, salta e pula, como um pequeno peixe perdido, afectado, moribundo. Um jig pesado, …cai com o estrondo de uma pedra. É muito mais fácil assustar um peixe com um jig de 300 gramas do que convencê-lo a morder esse jig. 
Vejo muitas vantagens em pescar o mais ligeiro possível, embora reconheça sem dificuldade que não é sempre fácil fazê-lo. Para isso, podemos contar com alguns truques. Já aqui referi que as armas que temos à nossa disposição são algumas, mas não infinitas: 
  • Podemos reduzir o diâmetro da linha trançada, até um mínimo que nos dê alguma segurança;
  • Podemos lançar para a frente, quando utilizamos carreto convencional, e esperar que quando o barco passa pela vertical do nosso jig, já esteja no fundo;
  • Podemos escolher as horas do dia mais favoráveis em termos de corrente;
  • Podemos aumentar o peso do jig de 15 para 20, ou de 30 para 40 gramas, mas este é mesmo e sempre o último recurso.
Mas podemos fazer algo mais, …podemos travar o nosso barco, obrigá-lo a deslocar-se lentamente, mesmo em dias de vento e de corrente. 
Isso faz-se com um pára-quedas, um acessório extremamente útil que foi pensado para o jigging lento, vulgo slow-jiging, e para o jigging ligeiro. 

Este é o princípio de funcionamento.


Existem alguns fabricantes deste tipo de acessório, sendo que eu utilizo regularmente duas marcas que me dão garantias: a Savage e a Yamaha. Sim, o fabricante de motores….
Como funciona? Simples, mesmo muito simples. Faz-se a fixação a uma amura do barco, em local sólido porque a pressão pode vir a ser grande. 
Um cabo mais comprido dá-nos mais trabalho a recuperar o engenho quando queremos mudar de sítio, mas por outro lado ajuda-nos a pescar melhor, porque o pára-quedas fica longe do barco, e não nos limita tanto em termos de posicionamento da linha, e recuperação do peixe ferrado. 
A Savage tem o seu acessório com cerca de 5 metros de cabo, a Yamaha com cerca de 12 metros. Mesmo contando com a metragem necessária para atar ao barco, entrar na água e esticar cabo, chega perfeitamente em qualquer dos casos. 
A Yamaha recomenda o diâmetro de acordo com o tamanho e o calado do barco. O modelo que tenho tem 3 metros de diâmetro e é destinado a barcos "comerciais" de recreio de 18 a 25 pés. 

O sistema da Yamaha, com um diâmetro muito superior ao da SavageGear.


Esta âncora de superfície é capaz de parar o barco e dar-lhe estabilidade em situações muito difíceis, o que o torna um aliado de peso, quando queremos mesmo pescar, esteja ou não muito vento. 
Quando lançado à proa, temos que esta vai ficar virada ao vento, devido à resistência do aparelho. A deslocação e o balançar do barco são largamente reduzidos. 
Pormenor a reter: nunca esquecer de levantar o aparelho antes de iniciar nova deriva. Já me aconteceu estar tão concentrado nas tarefas de fixar os olhos no GPS, a imaginar qual a próxima trajectória a descrever, que me esqueci por completo. O passo seguinte é arrancar e o barco virar para o lado do pára-quedas, e ouvir o ranger de toda a estrutura….
A pressão exercida por um destes pára-quedas é enorme. E só isso explica que possamos frenar o barco em situações em que o vento pode ser mesmo muito forte. Tudo à nossa volta é empurrado, mas nós ficamos quase estáticos, a poder lançar na vertical. 
É um acessório extremamente útil, para quem precisa de conseguir parar o barco …e pescar.

Mas não ficam por aqui os benefícios deste sistema: também em situações de emergência, em que a nossa embarcação pode estar à deriva em mar alto, para além da metragem de cabo que temos na âncora, pode ser muito útil, ao travar a nossa deslocação, dando assim mais tempo a qualquer embarcação de socorro. A GO Fishing Portugal está a importar este equipamento do Japão, onde ele é produzido. 

Caso tenham interesse, posso voltar a este assunto, com mais imagens e sugestões.



Vítor Ganchinho
 


8 Comentários

  1. Bom dia! Uma publicação interessante e muito útil para os pescadores que queiram saber um pouco mais!

    Deixo a minha experiência quanto às ancoras flutuantes ou drogues:

    Eu costumo usar dois tamanhos:
    Um pequeno de 50cm para orientar o barco no sentido da corrente de modo a que não seja desviado pelo vento. É importante quando se está a pescar fundeado... Ex. pesca à dourada no estuários em que quando a corrente se aproxima da ponto de viragem ou quando ha vento o barco passa facilmente pelo efeito do vento a pivotear sobre o cabo do ferro de fundear. O Drogue aí permite uma estabilidade superior porque se aproveita mais tempo a força da corrente para estabilizar o barco. Claro que quando estamos perto da viragem o efeito é menor e acaba por ter de se pescar com uma única cana na mão.

    Uso também um com um tamanho grande de 1,45m (que é para barcos de até 12 metros) para parar a deriva de vento, grande parte das vezes em que pesquei ao polvo e aos chocos! Há dois anos recordo-me que era o único barco à pesca num dia de vento junto a Paço de arcos. Revela-se especialmente útil, até porque num semi-rígido ao colocar o motor marcha atrás para cancelar a deriva e existindo alguma ondulação a agua tem tendência a entrar pela popa! Não põe em risco a embarcação mas não é agradável!

    Ainda no sentido da utilidade, é possível usar dois drogues grandes um na proa e outro na popa nesses casos o barco fica com a lateral apontada à corrente sendo por vezes mais confortável para pescarem vários pescadores e fazer derivas.

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    1. Boa tarde Ribeiro Este seu comentário vai ser muito útil a muita gente! Não há quem não sinta problemas com o vento, seja em que modalidade seja.
      A solução de dar com o motor para trás não funciona, claro. Entra sempre água pela popa, ...ou não estivesse vento.
      Quando eu saio a pescar com jigs pequenos em dias de instabilidade, tenho amigos que estão no mar, e me ligam a dizer " deves estar a pescar grande coisa, deves...." e eu digo-lhes que sim, que está vento, mas dá perfeitamente para pescar. Não acreditam!
      O para-quedas funciona perfeitamente.
      A primeira vez que vi algo parecido, foi a pescar no Japão: uma vela na retaguarda do barco, bem esticada, para dar direção. Estávamos a fazer jigging a 360 metros de fundo. Depois voltei a ver, mas já com o sistema de para-quedas conforme refiro acima, no Mediterrâneo.
      Tratei de comprar um, utilizo frequentemente para fazer jigging ligeiro. Hoje tenho até dois. Não saio ao mar sem eles.

      Abraço
      Vitor




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  2. Boa tarde novamente!
    Um acrescento: Nos EUA usam uns rectangulares grandes... em vez de usarem por vezes dois drogues um na popa outro na proa! O efeito é o mesmo! O meu teste foi com dois drogues (Um médio e um grande)! Tem de ser para derivas longas pois dá algum trabalho retirar os dois drogues muitas vezes!

    Entretanto esqueci-me de referir anteriormente alguns pormenores que uso e para quem começa podem ser úteis!

    1- Uso um destorcedor de inox porque muitas vezes o drogue gira sobre ele próprio e era fonte de problemas.

    2- Uso, exceptuando no drogue pequeno (40cm) uma segunda corda presa à ponta do cone para retirar o drogue esvaziando-o. Facilita muito o trabalho e faz-se menos força, não é necessário mas eu diria que facilita enormemente a tarefa!

    3- Uso também sempre um fusível (duas ou três abraçadeiras de plástico) entre o destorcedor e o arnez que prende ao barco. Útil no caso de ser feita muita força pelo drogue sobre o barco. Por exemplo porque prende numa bóia de covos, ou outra embarcação passar por cima do cabo e arrasta o drogue e o nosso barco. Como costumo prender o arnez numa das cordas dos flutuadores...(onde me der mais jeito para conseguir a orientação do barco que for melhor) se não quebrasse implicaria a destruição dos flutuadores e da embarcação.
    (Uma vez num barco de um amigo, um veleiro ia-nos abalroando! Por sorte ele estava atento e saiu da frente no ultimo momento... pelo que prever algo desse tipo é sempre útil.

    4- Na segunda corda que uso para esvaziar o drogue uso uma bóia amarela de sinalização (passa a corda pelo meio).. se o fusível quebrar, a bóia mantém o drogue à tona para depois o recuperar. Já me aconteceu numa deriva prender a corda do drogue numa boia de covos, entretanto o barco fez pressão porque continuou no sentido da corrente e partiu o fusível).
    Abraço,
    MR

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  3. Bom dia Vitor,

    Mesmo sem poder-mos fazer o que tanto gostamos, espero desta forma encontra-lo nas melhores condições.
    Estou interessado nesse sistema e em Portugal ainda não consegui encontrar nada semelhante.

    Pode-me dizer por favor, preços e disponibilidade?

    Grande abraço!

    A. Duarte

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    1. Bom dia António Duarte Estamos de sequeiro, com tempo para tudo. Estou a pensar fazer um direto para todas as redes sociais, Facebook, Youtube, etc, a partir de minha casa. Era para ser este fim de semana, mas dada a impossibilidade de circulação entre concelhos, o homem da imagem e som não pode deslocar-se, pelo que temos de adiar. Mas vamos fazer, com motivos que espero sejam de interesse. Vão ver-me a preparar uma saída de pesca, como escolho os materiais, montagens, etc.

      Sobre o para-quedas, já passo um mail.


      Abraço
      Vitor

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    2. Bom dia Ribeiro Os para-quedas têm uma bolsa com uma esferovite, que fica sempre para cima, e do outro lado, um peso metálico, um curto varão em inox, que posicionam o aparelho, e seja largado em que posição for, funciona sempre. Quer isto dizer que dispensam qualquer tipo de acessório extra, destorcedor, etc. Costumo prender os meus a um cabeçote metálico que tenho no barco, dos dois lados, e por isso nunca me deram problemas. A fixação é firme, e dispensa fusíveis. Em 3 segundos tenho tudo fixo.

      Também vale a pena dizer que um dos cabos que sujeita o aparelho, é mais comprido que os outros e tem outra cor. Quando puxamos por esse, o sistema desarma, ou seja, puxa a parte anterior e o para-quedas deixa de fazer força na água. Faz-se com uma mão, sem esforço algum. Eu pesco muito em pedras pequenas, de 30, 40 metros, e por isso tenho de acionar este mecanismo muitas vezes, as derivas são relativamente rápidas, pelo que teria de ter algo muito simples. E tenho. Em segundos estou pronto para fazer mais uma deriva. Normalmente passo contra o vento numa rota larga, para não "pisar" a zona de pesca. Isso dá-me os peixes que não picariam de outra forma. O peixe está lá em baixo, mas ouve perfeitamente os sons que fazemos no barco. Passar ao largo ajuda a não apoquentar os bichos. Já lhes basta as corridas que fazem contra os jigs, ..e que a maior parte de nós não percebe porque não tem sempre um olho na sonda....e outro na cana. Ser estrábico ajuda muito....


      Abraço!
      Vitor


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  4. Bom dia Vitor! Os que eu uso são Drogues ou ancoras de agua normais...e são redondos (E no uso normal seria para prender na proa.. para orientar o barco aos elementos)! Os que refere com peso em baixo e o esferovite em cima têm características especiais como aqueles usados nos EUA (rectangulares) e pelo menos alguns são específicos para a pesca!. Os que eu uso também desarmam puxando uma das duas cordas!
    Também estou totalmente de acordo que os peixes sentem o barulho e a confusão... as melhores pescarias que fiz estava sozinho em silêncio! Pessoalmente acredito que até o falar (volume normal e alto) tem influência... A agua é um elemento excepcional para transmitir o som! Já arrastar coisas no barco então será a "perdição"... A cautela que os exemplares mais velhos adquiriam implica que qualquer barulho fora do normal é motivo para fugirem da zona!
    Abraço,
    MR

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    Respostas
    1. Nem mais! Sabe que eu escrevi em 21de Abril 2020 um artigo sobre a audição dos peixes. O destinatário primeiro para esses comentários era o meu amigo e colega de pesca, o Gustavo Garcia, pessoa que faz barulho com caixas e canas a valer! Vale a pena ir lá e ler.
      Quem faz caça submarina tem uma noção mais real da quantidade de brulho que se faz a bordo. Lá em baixo ouve-se tudo!

      E os peixes sabem interpretar isso, e sabem reagir a isso.

      Eu pesco muito mais quando saio sozinho, porque não deixo esses detalhes ao acaso.


      Força aí! Mais umas semanas e estamos no mar de novo.




      Abraço|!
      Vitor

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