Tainhas e salemas

Nem só de predadores se fala aqui neste espaço. Sabemos do mediatismo dos robalos, das corvinas, mas é necessário entender a existência de outros tipos de peixes que também habitam os mesmos espaços, e que muitas vezes aportam uma complementaridade importante e quantas vezes decisiva, na vida desses peixes de que tanto gostamos de pescar. 

Os robalos grandes comem tainhas e salemas. Pois vamos hoje falar sobre tainhas e salemas!

Aparentemente, a tainha estaria fora das cogitações alimentares de um robalo. Mas afinal não estão...


Na área em que costumo pescar, um triângulo formado pelas localidades de Setúbal, Sesimbra e Sines, há pontos quentes para encontrar robalos. 
Quer a zona dos esteiros quer a saída do Sado atraem uma infinidade de predadores que espreitam uma oportunidade de conseguir uma refeição fácil. Há muito peixe miúdo no rio, e isso obriga os caçadores de peixe a estarem próximos. 
Há robalos dentro do rio todo o ano. Em momentos muito particulares, sobretudo no final do Verão e Outono, a pressão intensifica-se, e aparecem mesmo os maus da fita, os robalos de muitos quilos. Não são raros os que dão mais de 8 kgs na báscula. 

Esses robalos procuram situações vantajosas, em que possa ter comida e segurança ao mesmo tempo. Marinas e portos de pesca são lugares onde é muito previsível que possam estar. 
São conhecidos os robalões do Clube Naval de Setúbal. Vivem lá, debaixo dos barcos, no meio de um emaranhado de cabos e embarcações que hipoteticamente torna impossível a sua captura. 
Alguns destes peixes são pescados à noite, por fora, na zona de saída de afluentes. Não se recomenda a captura, a qualidade da água é deprimente, mas eles existem porventura exactamente por isso, porque não são “demasiado” procurados. No meio de alguns milhares de tainhas, andam dezenas ou por vezes …centenas de robalos. Chega a ser espantoso como podem estar lado a lado, a poucos centímetros de distância, mas efectivamente estão. 



Os cardumes de salemas contam sempre com algumas dezenas de indivíduos. As salemas são um peixe que aparentemente sai fora das dimensões mais apreciadas pelos robalos. 
Também as tainhas de 1,5 kg pensariam estar a salvo de algum contratempo, …mas a verdade é que são encontradas regularmente dentro do estômago dos robalos sadinos de …8 kgs. 

Espero que consigam vê-lo. A meio da foto, temos um pequeníssimo robalo. Com este tamanho, são tudo menos uma ameaça para as suas colegas salemas. Mas quando crescem tudo muda de figura.


Estes robalos costumam seguir junto com outros peixes, mais frequentemente com as tainhas, com as quais se confundem em termos de cor e vestimenta. Acredito que tenha a ver com o facto de poderem tirar partido de algum pequeno crustáceo ou peixe disfarçado no meio das algas, que se incomode com a passagem do cardume e se mostre. O robalo está lá para aproveitar essa oportunidade. 
Dou-vos um exemplo de oportunidade na foto seguinte. 

Este pequeno caboz de 6 cm está neste momento na sua toca. Mas por vezes sai para caçar minúsculos camarões, ou peixes de uma eclosão. Como podem ver, há algas curtas alojadas na pedra.


Há peixes que comem estas algas. À passagem de um cardume de salemas gera-se confusão e, caso seja momentaneamente apanhado fora da toca, pode não conseguir entrar a tempo de se esconder, e aí, o robalo da foto acima, ….

A saída do estuário do Sado.


Esta foz tem muitos segredos para contar. Aqui dentro não há só chocos, também há robalos todo o ano. 



Vítor Ganchinho



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