Podem os peixes picar logo após um temporal?

Costumamos dizer na gíria que depois de um temporal fica tudo “virado do avesso”. Durante o período de passagem de uma frente acontecem inúmeras situações, nem todas negativas.
A natureza precisa deste tipo de fenómenos, para renovar fundos, para expor alimentos, para se revitalizar. Mas a máquina de lavar em que se transformam as zonas costeiras precisa de tempo para voltar ao normal.
Quanto tempo? E como ficam os fundos no dia a seguir à passagem do temporal? Quando lançamos os nossos anzóis para o fundo, o que estamos a pedir aos peixes? Terão eles condições para reagir ao que lhes pedimos?
É isso que vamos ver hoje: o processo de limpeza das águas.



No mar, o período de instabilidade provoca mudanças nos hábitos dos peixes. Obriga-os a deslocações, a sair dos seus refúgios habituais, a procurar o largo, quando a situação é mesmo difícil. Fora de questão ficar em buracos, que se transformam em verdadeiras armadilhas.




A água pode ficar com uma densidade de algas absurda. Aquilo que chamamos de “caldo verde”, uma massa de cor verde ou castanha.
Nestes dias, a pesca de costa, em surf-casting, é virtualmente impossível. Pelo menos nestes pontos, porque outros haverá que não ficam sujeitos a estas deslocações de plantas e onde se pode perfeitamente pescar.




Quando passa, há um intervalo de tempo durante o qual as condições de fundo não serão as mais fáceis. O tempo que o pesqueiro leva a estabilizar, depende em grande parte da sua composição.
Fundos de areia ou vasa levam mais tempo que fundos rochosos. A matéria vegetal que é arrancada das rochas leva algum tempo a assentar, ou a ser canalizada para recantos onde irá apodrecer lentamente.
Será alimento de pequenos organismos que dependem em absoluto deste substrato.




Durante este período os peixes começam a chegar de novo às suas zonas de alimentação habituais. Preparam o grande festim que é ter comida disponível, que podem conseguir sem grande esforço.
Normalmente acontece no segundo a terceiro dia após a tempestade. Quando bate muito, o peixe não está cá, mas a seguir volta e aproveita o que pode, enquanto pode.




Peixes mariscadores visitam as imediações das pedras que criam mexilhão, perceves, ouriços, lapas, cracas, etc, e procuram alimentar-se de tudo aquilo que foi arrancado pelo temporal. Esta é a comida mais fácil que podem conseguir, à vista, morta ou com limitações de deslocamento. São búzios, mexilhões, caranguejos, etc, esmagados pelas pedras, ou arrancados pela força das ondas.
Pouco a pouco, a água vai ganhando visibilidade.




Em zonas muito cobertas de vegetais, pode acontecer que seja literalmente impossível encontrar algo comestível. Apenas as zonas altas das pedras proporcionam comida.
Por vezes lançamos as nossas linhas em locais que estão neste estado e insistimos, mas sem resultados. O fundo está assim, e por isso os toques que podemos ter acontecem normalmente no anzol de cima, ou seja, naquele que fica acima deste emaranhado de algas.




Aos poucos as algas partidas acabam por ser levadas pelas correntes, e as pedras começam a aparecer descobertas.
Para os peixes neste momento já é perfeitamente possível encontrar comida no fundo. E encontram os nossos anzóis iscados…




O processo de limpeza é gradual, pode levar dois, três ou mesmo quatro dias, e depende em primeira instância do nível de acalmia que se segue, e sobretudo dos ventos que sopram.
Vento de terra, off-shore, leva para o largo a primeira camada de água, e com ela, muitos dos resíduos que ficaram em suspensão. A rocha lava muito rapidamente, e deixa comida a descoberto.
Os peixes aproveitam desde o primeiro momento as mais ínfimas possibilidades de se alimentar.




Aqui, a zona já se encontra limpa de todas as plantas partidas, e a vida retorna ao seu normal. A água já não apresenta algas em suspensão, e a visibilidade é quase máxima. O anzol de baixo volta a ser aquele que dá o peixe de melhor qualidade.
Muitas vezes lançamos as nossas pescas sobre pedras sem termos a noção de como são. Se ficamos com os anzóis encalhados, achamos estranho e praguejamos contra a falta de sorte.
Olhando a foto acima, acham assim tão estranho?.....



Vítor Ganchinho



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